quinta-feira, 11 de julho de 2019

Guilherme de Almeida - o "Príncipe dos Poetas" - XI

Chegámos então a este post XI e muitos mais poderiam ser que não chegaríamos a dizer o suficiente deste homem nascido em Campinas, Brasil, multifacetado, interventivo até às últimas consequências na vida social e política do seu país, também poeta, advogado, ensaísta, tradutor, jornalista, crítico de cinema. De tudo dando conta e em tudo se comprometendo na sua apurada consciência cívica.

Devo dizer que tive um prazer imenso na busca da peugada de alguns pormenores da sua vida e obra. Os poemas que atrás publiquei dizem bem da sua sensibilidade, do seu ritmo “no sentir, no pensar, no dizer”, do trabalhar do verso, tanto que o poeta Manuel Bandeira o considerou o maior em língua portuguesa.

Com efeito, nos últimos dias passaram pelos nossos olhos poemas maravilhosos, não todos os que seriam de justiça mas aqueles que, talvez, me falassem mais ao coração. E como não amar este Poeta?

Da sua permanência em Portugal, exilado, deixou as suas impressões em livro intitulado "O meu Portugal - Crônicas de um desterro". Desse livro, recolho algumas passagens* que espelham a sua alma de poeta e do seu reconhecimento por ter sido recebido como um herói, especialmente pelos seus pares.





“Lisboa é a caixa de cores com que maio costuma pintar as paisagens pequenas, todas salpicadinhas de tintas, desta Europa estreita, apertada, aproveitada.

Todas as cores moram aqui numa doidice harmoniosa.”

“Lisboa…Só Boa ? Não! É Lis…óptima! “

“Sobre o Tejo estanhado vagam as velas cor de açafrão…” 





Mas também, Sintra:


“Nessas pedras o reflexo de tantas e tantas coisas que ellas viram e ninguém mais viu, que ellas sabem e ninguém mais…”. 

E das origens portuguesas do povo brasileiro:




A gota de sangue que daqui partira Martim Affonso de Souza, há quatrocentos anos, refluía no coração… era o regresso, o retorno, no refluxo das águas que a levaram, da gotinha de sangue, longo tempo refugiada, refugindo…”

E termino, por agora, transcrevendo mais este belo soneto, o XI, e claro, da obra "NÓS":

Vou partir, vais ficar. “Longe da vista,
longe do coração” — diz o ditado.
Basta, porém, que o nosso amor exista,
para que eu parta e fiques sem cuidado.

Dentro em mim mesmo, o coração egoísta,
quanto mais longe, mais te quer ao lado;
tanto mais te ama, quanto mais te avista
e, antes de ver-te, já te havia amado.

Vou partir. Para longe? Para perto?
— Não sei: longe de ti tudo é deserto
e todas as distâncias são iguais.

Como eu quisera que, na despedida,
quando se unissem nossas mãos, querida,
nunca pudessem desunir-se mais!

Guilherme de Almeida

      (1890-1969)




Veja: 
Post  IIIIIIIVVVIVIIVIIIIX, X

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Imagem daqui
Imagem: aguarelas de Jorge Carmo

10 comentários:

  1. " E como não amar este poeta ? ", digo eu também Olinda. Além de ter feito muito pela cultura brasileira, vê-se que gostava de Portugal e aqui deixou a sua marca. Pena que não sejs mais conhecIdo entre nós! Tu fizeste a tua parte, fazendo-lhe uma bela homenagem e agora, que já o conheço irei procurar saber ainda mais dele. Encantou-me a maneira como fala de de Lisboa, não de Lis-boa, mas de Lis-optima. Que interessante! Fizeste-me gostar deste poeta, querida Olinda e agradeco-te muito este teu interessa, pois sabes o quanto amo este país que tão bem me recebeu e onde nunca me senti uma estrangeira. Muito obrigada e parabéns pelo excelente trabalho. Boa noite e que este calor não esteja a aborrecer-te muito; a mim agrada-me, pois suporto muito bem as temperaturas altas. Um beijinho
    Emilia

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  2. Tão interessante a forma como a capital portuguesa inspira poetas e pintores. Tantos cantaram a sua luz. Lis-óptima é original :)
    Não conheço o autor, sigo para os outros posts que lhe dedicou, para aprender um pouco mais.
    Abraço
    Ruthia

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  3. Um grande poeta pouco ou nada divulgado em Portugal. E, por isso, esta homenagem é ainda mais meritória.
    Olinda, um bom fim de semana.
    Beijo.

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  4. Sim, Guilherme de Almeida foi excelente poeta! Foi da Academia Brasileira de Letras e pegou em armas e lutou em revolução brasileira. Cantou muito bem Lisboa! Bela postagem! Abraços . Laerte.

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  5. Gostei de conhecer este "Principe"
    sem dúvida um poeta talentoso e uma personalidade bem interessante

    poventura, nos seus sonetos, um certo "romantismo" fora de época
    enfim, digo eu, para quem não há principes (nem princesas) sem uma pequena verruga, mais ou menos exposta, que aliás apenas humaniza a Perfeição

    gostei deveras, amiga Olinda!

    abraço

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  6. Um soneto maravilhoso de um poeta que muito aprecio.
    Excelente escolha.
    Bom fim de semana
    Beijinhos
    Maria

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  7. A profundidade poética do Soneto "NÓS" é marcante, bela, genuína no sentir expresso.
    Belíssimo, como belíssima é a tua explanação. Parabéns, Amiga. Saber sentir é um Dom.


    Beijo
    SOL

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  8. Foi muito bom desfolhar alguns poemas e poder conhecer o poeta Guilhermino de Almeida. É alguém para quem o amor paira numa intensa dimensão de sensibilidade. É pura arte poética. E quem diz que em Lisboa moram todas as cores numa doidice harmoniosa, merece um grande aplauso. E outro para a Olinda pelo esmero da pesquisa e a generosidade de a partilhar.

    Grande abraço.

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  9. A arte de fazer sonetos é uma arte difícil, mas não para este poeta, Guilherme de Almeida, que nos foi dando a conhecer. Gostei da forma como ele falou de Lisboa. Obrigada, minha Amiga Olinda.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  10. Riquíssimos posts estes, sobre Guilherme de Almeida! Um poeta brasileiro a conhecer melhor!
    Muita simpatia da sua parte para com Lisboa e os portugueses.
    Gostei de tudo quanto postou. Mostra aturada investigação por parte da Olinda. Obrigada.

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