sábado, 5 de maio de 2012

Quanto mais eu sinta como várias pessoas


Hoje, Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da CPLP, transcrevo aqui esta passagem do poema Afinal, de Álvaro de Campos, em que celebra a multiplicidade, a pluralidade, qualidades intrínsecas do seu criador, Fernando Pessoa. Numa interpretação livre, poderia adaptar as suas palavras à diversidade cultural e, ao mesmo tempo, à desejada unidade destes países, transmitida através da mesma língua: 




Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
   
Quanto mais personalidade eu tiver,
   
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,

   
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,

  
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,

   
Estiver, sentir, viver, for,

   
Mais possuirei a existência total do universo,

   
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.

   
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,

   
Porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo,

   
E fora d'Ele há só Ele, e Tudo para Ele é pouco.

Poderia também, citando Bernardo Soares, apossar-me da expressão, constante do seu Livro do Desassossego, 'a minha pátria é a língua portuguesa' tantas vezes arrancada do contexto do próprio livro e interpretada de conformidade com os nossos anseios, mas sempre carregada de grande simbolismo.

De um escritor e humanista do Sec. XVI que já citei, talvez por duas vezes, neste blog, António Ferreira, a carta ao amigo Pêro Andrade de Caminha, incitando-o a escrever em língua portuguesa; eis uma passagem que nos vem sempre ao pensamento quando se trata de nos orgulhamos do nosso idioma:


Floreça, fale, cante, ouça-se e viva
A Portuguesa língua, e já onde for

Senhora vá de si soberba, e altiva.

Se téqui esteve baixa e sem louvor,

Culpa é dos que a mal exercitaram:

Esquecimento nosso, e desamor.





Estarei aqui a esquecer-me do grande Luís de Camões? Impossível. Os Lusíadas na vertente épica e a sua Lírica são as expressões maiores da nossa língua. Quem é que se esqueceria deste dito do Gama: 'esta é a ditosa pátria  minha amada' ou, por exemplo, do início deste soneto 'naquela triste e leda madrugada'?



Mas não nos faltam exemplos de grandes autores nesta língua declarada  língua oficial em oito países (CPLP) e cujos vestígios se encontram nos quatro cantos do mundo.



Voltarei com algumas postagens, homenageando alguns dos autores dos países que compoem a CPLP.

Tenham um excelente sábado... :)




Imagens:Internet

5 comentários:

  1. Querida Olinda:
    "Esta é a ditosa Pátria minha amada", Ou " naquela triste e leda madrugada". Camões, António Ferreira, Pessoa e todos os seres que tinha dentro dele, sentiriam uma tristeza infinda, ao verem tão maltratada a língua que amaram e engrandeceram.
    E não são só os não portugueses a matar a língua. São os portugueses mesmo.
    Amo a minha Pátria, amo a minha língua e dói-me muito vê-las, cada vez mais pobres e maltratadas.
    Beijinho, minha querida.
    Maria

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  2. Grandes poemas, grandes autores!
    Espero que me leias e des a tua opinião, se quiseres segue-me como eu a ti,
    beijinhos,
    Pensando com Arte.

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  3. Boa tarde Olinda querida!
    Adorei a sua postagem! Parabéns!
    Beijo e bom final de semana.
    Com carinho,
    Mara

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  4. Belíssimas poesias de fantásticos e talentosos autores.

    Uma língua linda demaissss!!!

    Beijos Olinda e bom final de semana!!!

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  5. Minha querida

    Passando para deixar um beijinho com carinho e desejar um bom Domingo.

    Sonhadora

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