A mãe não trouxe a irmã pela mão
viajou toda a noite sobre os seus próprios passos
toda a noite, esta noite, muitas noites
A mãe vinha sozinha sem o cesto e o peixe fumado
a garrafa de óleo de palma e o vinho fresco das espigas
[vermelhas
A mãe viajou toda a noite esta noite muitas noites
[todas as noites
com os seus pés nus subiu a montanha pelo leste
e só trazia a lua em fase pequena por companhia
e as vozes altas dos mabecos.
A mãe viajou sem as pulseiras e os óleos de proteção
no pano mal amarrado
nas mãos abertas de dor
estava escrito:
meu filho, meu filho único
não toma banho no rio
meu filho único foi sem bois
para as pastagens do céu
que são vastas
mas onde não cresce o capim.
A mãe sentou-se
fez um fogo novo com os paus antigos
preparou uma nova boneca de casamento.
Nem era trabalho dela
mas a mãe não descurou o fogo
enrolou também um fumo comprido para o cachimbo.
As tias do lado do leão choraram duas vezes
e os homens do lado do boi
afiaram as lanças.
A mãe preparou as palavras devagarinho
mas o que saiu da sua boca
não tinha sentido.
A mãe olhou as entranhas com tristeza
espremeu os seios murchos
ficou calada
no meio do dia.
(Dizes-me coisas amargas como os frutos)
Ana Paula Tavares
Angola
Imagem: Internet
Com muito carinho agradeço sua amizade
ResponderEliminarseu apoio veio no momento exato que mais precisava.
Fiquei sem fazer visitas e muito desanimada também.
Na verdade não pretendia voltar: mais diante de
de tanto apoio no blog e até mesmo da minha familia
estou aqui.
Tem coisa que eu não entendo e nunca vou entender
as duas faces do ser humano.
Eu sei amizade como a sua é para sempre por outro lado
também sei da maldade;; nem todos tem duas coisas principal no coração.
Deus e Amor; Como Sei Que Você Tem.
Meu agradecimento e todo meu carinho.
Linda semana abençoada por Deus.
Evanir.
Tenho fé minha vida vai melhorar assim como eu peço a Deus por todas amizades virtuais.
Querida Evanir
EliminarNão desista do trabalho que está a desenvolver, dando a conhecer os poemas e os textos de tantos colegas bloguistas. Creia que todos reconhecem a sua amizade e lhe dá todo o valor. Não esmoreça, tenha fé em dias melhores, e na Amizade, está bem?
:)
Beijinhos
Olinda
«...fez um fogo novo com os paus antigos...»
ResponderEliminarSão frases pequenas e simples, como esta, que nos fazem entender o sentido da vida... em alguns dias a sua ausência, mas sempre, a perpétua sequência cósmica de que fazemos parte integrante, que nos é apresentada como um sonho repetívelmente... irrepetível.
Caro Bartolomeu
EliminarPaula Tavares tem a particularidade de dizer coisas aparentemente simples mas que envolvem uma história imensa. Uma mãe que viaja,sem a protecção das pulseiras e dos óleos,como manda a tradição, tendo por companhia apenas a lua na fase pequena e as vozes altas dos mabecos.Veio sozinha, na sua solidão, encomendar o seu filho único que foi, sem bois, para para as pastagens dos céu...completamente desamparado. Não haverá dor maior para uma mãe!
Abraços
Olinda
Dramática e compreenssível confusão......
ResponderEliminarLinda a canção do Bonga...
Beijo
Diria antes, trágica, meu amigo!
EliminarO Bonga, no seu melhor.
Abraço
Olinda
Canto de nascimento
ResponderEliminarAceso está o fogo
prontas as mãos
o dia parou a sua lenta marcha
de mergulhar na noite.
As mãos criam na água
uma pele nova
panos brancos
uma panela a ferver
mais a faca de cortar
Uma dor fina
a marcar os intervalos de tempo
vinte cabaças de leite
que o vento trabalha manteiga
a lua pousada na pedra de afiar
Uma mulher oferece à noite
o silêncio aberto
de um grito
sem som nem gesto
apenas o silêncio aberto assim ao grito
solto ao intervalo das lágrimas
As velhas desfiam uma lenta memória
que acende a noite de palavras
depois aquecem as mãos de semear fogueiras
Uma mulher arde
no fogo de uma dor fria
igual a todas as dores
maior que todas as dores.
Esta mulher arde
no meio da noite perdida
colhendo o rio
enquanto as crianças dormem
seus pequenos sonhos de leite.
Da mesma Ana Paula Tavares de quem gosto muito.
Um abraço