Nós somos os flagelados do Vento-Leste!
A nosso favor
não houve campanhas de solidariedade
não se abriram os lares para nos abrigar
e não houve braços estendidos fraternamente
para nós
Somos os flagelados do Vento-Leste!
O mar transmitiu-nos a sua perseverança
Aprendemos com o vento o bailar na desgraça
As cabras ensinaram-nos a comer pedras
para não perecermos
Somos os flagelados do Vento-Leste!
Morremos e ressuscitamos todos os anos
para desespero dos que nos impedem
a caminhada
Teimosamente continuamos de pé
num desafio aos deuses e aos homens
E as estiagens já não nos metem medo
porque descobrimos a origem das coisas
(quando pudermos!...)
Somos os flagelados do Vento-Leste!
Os homens esqueceram-se de nos chamar irmãos
E as vozes solidárias que temos sempre
escutado
São apenas
as vozes do mar
que nos salgou o sangue
as vozes do vento
que nos entranhou o ritmo do equilíbrio
e as vozes das nossas montanhas
não se abriram os lares para nos abrigar
e não houve braços estendidos fraternamente
para nós
Somos os flagelados do Vento-Leste!
O mar transmitiu-nos a sua perseverança
Aprendemos com o vento o bailar na desgraça
As cabras ensinaram-nos a comer pedras
para não perecermos
Somos os flagelados do Vento-Leste!
Morremos e ressuscitamos todos os anos
para desespero dos que nos impedem
a caminhada
Teimosamente continuamos de pé
num desafio aos deuses e aos homens
E as estiagens já não nos metem medo
porque descobrimos a origem das coisas
(quando pudermos!...)
Somos os flagelados do Vento-Leste!
Os homens esqueceram-se de nos chamar irmãos
E as vozes solidárias que temos sempre
escutado
São apenas
as vozes do mar
que nos salgou o sangue
as vozes do vento
que nos entranhou o ritmo do equilíbrio
e as vozes das nossas montanhas
estranha e silenciosamente musicais
Nós somos os flagelados do Vento-Leste!
(Claridade - 1962)
(Claridade - 1962)
Ovídio Martins
Cabo Verde
Poema retirado de
No reino de Caliban
E nós, por cá
ResponderEliminarda nortada!
Bjsss
E que nortada!
EliminarAbraço, amigo.
Olinda
Amiga, quando comevei a ler pensei que iria ser sobre os flagelados do sofrido Nordeste brasileiro.
ResponderEliminarObrigada por me dar a conhecer e tomei a licença de partilhar.
Um abraço
Eu que te agradeço o facto de o partilhares. A ideia é mesmo essa, divulgar os poetas e os prosadores que se servem da língua portuguesa como meio de comunicação.
EliminarE tão bem o faz, Ovídio Martins, não é?
Bj
Olinda
Não conhecia este poeta, mas o poema é maravilhoso.
ResponderEliminarVou tentar conhecer melhor Ovídio Martins
Um abraço e bom fim de semana
Olá, Elvira
EliminarAcho que vai gostar dele.Este poema é interventivo e denunciador da situação das ilhas, pelas secas contínuas e a ausência de medidas para colmatar as carências alimentares e outras. De referir que este poema vem na sequência do romance do 'claridoso' Manuel Lopes, 'Os Flagelados do Vento-Leste'.
Bj
Olinda