terça-feira, 13 de março de 2012

Dias bonitos

Dos dias vividos, Joana resolve apenas recordar os dias mais bonitos. Estirando-se na varanda deixa que o sol lhe acaricie a face e, feliz, respira fundo. Folheia o livro que se propõe ler, mas os seus pensamentos atraiçoam-na. 
Viaja com um sorriso até os dias da sua infância. Ela e os irmãos. Ela, os irmãos e os amigos, colegas de escola. De manhã, as aulas com a professora, Dª Alice, que passava a maior parte do tempo a dormitar ou a fingir que dormitava. O certo é que na sala de aulas organizavam-se grandes festas, tudo em surdina até o dia em que eram irremediavelmente apanhados. Em consequência, grandes desafios que metiam contas, resolução de problemas matemáticos, coisa temida. De tarde, grandes romarias à beira mar, a apanha de lapas, a sua confecção no quintal da Dª Vininha, mãe de uma das amigas. Mas as brincadeiras não ficavam por aqui...à noitinha novo encontro, jogando à apanhada, ao anel que implicava severos castigos como aceitar beijinhos dos rapazes, confessar em altos gritos o seu amor por um deles, risinhos, risinhos. Até à hora em que a mãe os chamava para o jantar.

Mudando de posição, agora protegendo-se do Sol com um chapéu de palha, o livro a repousar ao lado, põe-se a pensar: Seria melhor ou pior que agora? Bem, os tempos são diferentes. Dantes era o que havia. Agora há tantos estímulos, tantas solicitações, tanta forma de as crianças e jovens ocuparem o tempo:jogos e mais jogos electrónicos, filmes, computadores, telemóveis, internet...o mundo à distância de um clique. Depois há o ballet, a escola de música, a natação, as aulas de inglês. Realmente não há comparação. Mas será que agora há tempo para serem tão somente crianças?


 


Imagem: Google      

15 comentários:

  1. Querida Olinda:
    Como me lembrei de mim, da minha infância!
    A pergunta que faz no fim, já a tenho feito mil vezes: Será que os meninos de hoje, têm uma infância plena, como esta? Tenho dúvidas. Tudo mudou. A vida, já não dá tempo, para se ser criança tantos anos, tantas horas.
    Gostei muito desta história.
    Beijinho, amiga
    Maria

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    1. Querida Maria

      Era o tempo despreocupado, feito de vagares. Era o passar dos dias e das noites numa cadência natural, em que as brincadeiras se regulavam pelo sol e pelo cair da noite. Eu também tenho dúvidas, minha querida, no sentido de que posto numa balança, tudo, todas as facilidades e informações que existem de um lado e o que havia do outro, qual o que sairia a ganhar, em termos de formação e riqueza na qualidade e carácter do ser humano.

      Tudo mudou, realmente...

      :)

      Beijinhos

      Olinda

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  2. Não sei se hoje é melhor ou pior. Sei que não trocava a minha infância, a jogar à macaca e ao elástico, e a subir às árvores no quintal, por uma qualquer play-station!
    Beijinho.

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    1. Prevalece esta dúvida, não é? E agora seria impensável dizermos a uma criança: olha, agora não há mais jogos, nem telemóveis, nem... Era o fim mundo!
      :))

      Desejo-te, querida Teresa, uma excelente semana, já sem a gripe.

      Bj

      Olinda

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  3. Nem melhor nem pior

    é diferente
    e já é tanto

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    1. Pois é também verdade, mar arável, e já é tanto contabilizarmos essas diferenças, ver os prós e os contras... melhor mesmo seguir o evoluir das coisas e dos tempos. Também racionalizarmos um pouco as situações quando os exageros o exigirem...

      Abraço

      Olinda

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  4. Olinda, não existia play station, mas tínhamos nos gibis (histórias em quadrinhos), e nas brincadeiras várias, uma forma de interagirmos com a própria natureza.
    Hoje, o vídeo game e os pcs tomam o tempo tornando a vida mais sedentária mesmo para as crianças.
    Um abraço.
    Um beijo em teu coração.

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  5. Olinda, não existia play station, mas tínhamos nos gibis (histórias em quadrinhos), e nas brincadeiras várias, uma forma de interagirmos com a própria natureza.
    Hoje, o vídeo game e os pcs tomam o tempo tornando a vida mais sedentária mesmo para as crianças.
    Um abraço.
    Um beijo em teu coração.

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    1. Caro Antônio

      Vê-se hoje, realmente, pouco contacto com a natureza. Havendo-o é coisa esporádica, programada, em dias da Árvore e outros.O próprio modo de vida dos pais, a forma como a nossa vida está estruturada,a morar em apartamentos, os horários, as correrias, as crianças em infantários, jardins de infância e afins, cerceia esta liberdade de vida ao ar livre.
      Como bem refere, a vida vai se tornando mais e mais sedentária para as crianças e também para nós.

      Uma boa semana para si, meu amigo.

      Abraço

      Olinda

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  6. Claro que muita coisa mudou para melhor na vida das nossas crianças. Lembro de que, na aldeia onde nasci havia muita criança pobre; não levavam merenda, não tinham casacos quentes, e os pés muitas vezes estavam sem qualquer protecção...nem um simples chinelo. As escolas não tinham aquecimento e não havia merenda escolar e muito menos cantina. Os livros eram pagos pelos pais...quem podia comprava, quem não podia ficava sem eles. Era muito dura a vida daquelas crianças que, apesar da fome, aprendiam; é que se não aprendessem havia a tal da palmatória. Algumas delas depois da escola voltavam para casa onde as esperavam uma malga de caldo de couves( era assim que se dizia) e depois ainda tinham de ajudar os pais. Hoje nesse aspecto está muito melhor; na escola há sempre algo para dar às crianças e nenhum fica lá sem comida; as salas são aquecidas e também poucas há que não vão agasalhadas. No entanto, vemos as nossas crianças a sofrerem de stress, de falta de afetos, de solidão; há um olhinho triste nos nossos meninos vestidos de marcas dos pés à cabeça. Penso que hoje os pais querem-lhe dar o mundo e por isso trabalham demais sem verem que os filhos não querem o mundo; para eles bastar-lhes-ia um verdadeiro lar, aconchegante de carinho, diálogo e um passeiozinho pelo parque com os pais naqueles fim de tarde de verão. Mas os pais não têm tempo...chegam tardissimo, cansados e o pouco tempo que sobra é para tratarem da casa e verem televisão. Sei que o dinheiro não chega para tudo, porque esse tudo está num patamar muito elevado e pt há que mantê-lo. A mãe poderia pagar a uma pessoa para os trabalhos domésticos...sobraria tempo para os filhos, mas cadê o dinheiro para isso? Claro que haveria dinheiro se não tivessem comprado um iphone...um ipad...uma playstation etc, etc. Estou a falar assim, porque conheço alguns casos..poucos, mas os há, sim. Uma mãe que cuida de duas filhas sozinha; tem uma empregada que vai uma vez por semana por a casa em ordem, e o tempo chega para dar atenção às filhas, mas não há essas extravagâncias; há carinho, há comida boa e fruta; há os estudos, há a roupa necessária e tudo o mais que seja fundamental para a boa formação das filhas. Por isso, penso que é tudo uma questão de prioridades e é aqui que reside o maior problema das nossas crianças. Um beijinho, Olinda e parabéns pelo tema que trouxeste, pois temos todos de reflectir na situação em que estamos a colocar as nossas crianças.
    Emília

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    1. Querida Emília

      Fizeste um retrato fiel destas realidades. A estratificação da sociedade leva a que haja tantas diferenças num mesmo lapso de tempo. Aqui então é que a dificuldade em comparar o ontem e o hoje se apresenta com maior acuidade, porque as diferenças acontecem em vários níveis. A vida despreocupada de umas, com brincadeiras próprias da idade e a vida de sacrifícios de outras a quem falta quase tudo. E não há dúvida que houve uma evolução para melhor.
      Também há outro aspecto muito importante que focas: os pais se sacrificarem para compensarem os filhos das suas ausências, necessárias na maior parte dos casos, para ganharem a vida. Mas subsiste aquele peso na consciência de que passam o tempo sozinhos ou com estranhos que tratam deles. É uma reacção que tem como resultado, muitas vezes, o de criar nos filhos a ilusão de que podem ter tudo porque os outros têm. É muito difícil a gestão destas situações. A procura de um equilíbrio apresenta-se quase inacessível porque o tempo não para, sai-se de casa de manhã, volta-se à noite, em empregos que não compensam, que não valorizam a pessoa. A parte psicológica dos pais sai fragilizada e, naturalmente, não conseguem transmitir aos filhos a segurança e aquele conjunto de valores com que, por sua vez, foram criados.

      São vidas difíceis e, tens razão, cada caso é um caso. Há quem consiga resolver a vida familiar socorrendo-se de determinadas ferramentas e há quem não consiga pelos mais variados motivos.

      É muito bom falarmos destes assuntos que envolvem o desenvolvimento das nossas características de indivíduos actuantes na sociedade, onde a família aparece como um núcleo necessário na formação desses mesmos indivíduos.

      A protecção da maternidade/paternidade por parte do Estado e de Associações da Sociedade Civil deveria ser também uma prioridade, criando estruturas consentâneas com as necessidades que o modo de vida de hoje em dia vai criando de forma inexorável. Talvez por aí também se resolvesse o grande problema da natalidade…

      Minha querida amiga, muito obrigada pelas tuas palavras, por este comentário tão rico que nos fez mergulhar no Portugal profundo, onde continuam a existir tantas falhas e tantas necessidades.

      :)

      Beijinhos

      Olinda

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  7. Ò linda menina,

    é verdade que sim, que sobra tempo para ser criança
    mas também te digo que com muito pouca parecença
    dos tempos de Joana, que teu texto apresenta...
    tal como Emilia e tu própria dizem, falta o tempo p`ró aconchego, falta o tempo p`ró amor...foi substituido por outro sabor...eu vivo todos os dias, com vários "sabores"...e existe uma distância tããããão grande, entre uns e outros que arrepia saber que o que sobra a uns, ainda faz falta a tantos outros...e vice-versa!!! nem todos os meninos pobres são infelizes e nem todos os meninos de posses são felizes...e como diz Emília...e há as prioridades, pois!!...neste nosso tempo de desigualdades! e deixei a rima, lá por cima :))...é que aqui o meu tempo tb é pouquito...é isso aí, como dizes ao visitar-me: elas são uma ternurinha, afinal ainda têm "aquele tempo" de ser criancinha e chego ao fim do dia estafadinha ;))) que só me apetece é caminha!
    Obrigada por deixares aqui estas palavras...e não acho que seja só em Portugal...acho que no mundo inteiro o "efeito" é geral!!!

    Te deixo meu abracinho menina Linda e um beijinho, e prometo voltar sempre que o corpito deixar ;)

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    1. Querida Levezinha

      Falas num aspecto que também é preciso não esquecer:'nem todos os meninos pobres são infelizes e nem todos os meninos de posses são felizes'... Diz-se que o dinheiro, só por si, não traz a felicidade, sendo absolutamente necessário que seja equilibrado com o amor, com os bons tratos, com boa saúde.
      Pelo mundo fora vivem-se situações afrontosas para os Direitos da Criança, no limite, a exploração do trabalho infantil em que se veem meninos de tenra idade a fazerem trabalhos que é de partir o coração...
      Na nossa evolução como seres humanos temos ainda um caminho muito grande a percorrer.

      Minha querida, desejo-te um fim de semana descansado, repondo energias para gastares com os teus meninos, fontes incessantes de energia... :)

      Beijinhos

      Olinda

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  8. O importante mesmo é que arranjem tempo para serem crianças. Como aqui já foi dito pelos outros comentadores, comparando com antigamente, há vantagens e desvantagens. O importante é que os pais nunca se esqueçam de que as crianças precisam, acima de tudo, de atenção, carinho e brincadeiras.

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    1. Cara Cristina

      Grata pela sua presença, aqui, neste debate sobre o direito de ser criança, e, como diz e muito bem, no meio de todos os estímulos da nossa era que tenham tempo para serem crianças. Penso que é isso, a par do amor e carinho, que nos fica de mais gratificante e nos fortalece o carácter na nossa vida adulta.

      :)

      Um bom fim de semana.

      Bj

      Olinda

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