segunda-feira, 14 de outubro de 2019

E o mapa cor-de-rosa se cumpre...

Conhecendo o meu interesse pelas Literaturas Africanas de Língua  Portuguesa, pessoa amiga enviou-me ontem a notícia do lançamento do Livro de Mia Couto e José Eduardo Agualusa, O Terrorista Elegante e outras histórias, ao que eu respondi:

Um mundo interessantíssimo que não me canso de tentar descobrir. Esse livro que aparece agora faz-me quase visualizar a imagem do mapa cor-de-rosa, o caminho percorrido entre Angola e Moçambique, agora a nível cultural, passado quase século e meio.

Com efeito, é na Conferência de Berlim de 1884/1885 que se verifica a divisão de África, de que resulta uma Acta assinada por: França, Grã-Bretanha, Portugal, Alemanha, Bélgica, Itália, Espanha, Áustria-Hungria, Países Baixos, Dinamarca, Suécia e Noruega, Turquia e EUA, na qual foi activada a obrigação de uma ocupação efectiva desses territórios, de que resultaram as tais Campanhas de África, de má memória para os Africanos. Portugal apresentou nessa altura a pretensão de ter para si o corredor que vai de Angola a Moçambique, ao que a Grã-Bretanha se opôs.

Tive a oportunidade de fazer esse caminho com amigos, não há muito tempo, através de três videos cujos links (Parte IParte II, Parte III) aqui deixo, com o título "De Angola à Contra-Costa", lembrando a obra de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens e a sua travessia, um pouco antes do terminus da Conferência de Berlim. O mesmo é dizer que o trabalho desses dois cientistas/exploradores nada teria a ver com essa Conferência, porquanto foi realizada entre 6 de Janeiro de 1884 e 20 de Setembro de 1885, embora se integrasse num contexto político marcado por um forte surto expansionista europeu. 

Mia Couto e Agualusa, mostram-nos nas suas obras, de ontem e de hoje, de quanto se fez esta viagem de séculos. Uma miscigenação, cultural neste caso, que traz para a Língua Portuguesa elementos de revigoração, a qual, por via disso, se perpetuará no tempo.

Façam esta viagem, amigos.

Nela encontrarão, porventura, muitos dos elementos que temos vindo a referir aqui no Xaile.

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Leia, se lhe interessar:

Conferência de Berlim
15/11/1884 a 26/02/1885
Mapa cor-de-rosa
Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens
De Angola à Contra-Costa
06/01/1884 a 20/09/1885

Videos: Youtube 

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Sem nada a ver com o tema do post, mas gostoso de ouvir,

Marisa Liz e Áurea

EU GOSTO DE TI



Sim, tão simples como isto :)


10 comentários:


  1. Olá:- Acredito que seja um bom livro de ler. Os autores são do melhor que África criou.
    .
    POEMA ** Fremente Loucura **
    .
    Desejando uma semana feliz

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  2. Já li algumas coisas sobre esse livro de Mia Couto e José Eduardo Agualusa, mas confesso que gostei da sua interpretação sobre o facto: "Esse livro que aparece agora faz-me quase visualizar a imagem do mapa cor-de-rosa, o caminho percorrido entre Angola e Moçambique, agora a nível cultural, passado quase século e meio." Boa a sua visão, minha Amiga Olinda.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  3. Você elencou com propriedade o contexto do livro e nos motiva a conhecer mais profundamente a obra citada
    Grande beijo amiga Olinda

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  4. admirável, amiga Olinda, a aproximação que faz entre duas "geografias" aparentemente tão distantes - a geografia do "território" físico (as vicissitudes do mapa cor de rosa) e a "geografia" da língua e da cultura lusófona, simbolizando no livro e nos seus autores, Mia Couto e José Eduardo Agualusa, de nacionalidade moçambicana e nacionalidade angolana, respectivamente, a gesta heróica dos antigos "bandeirantes"(uso a palavra bandeirante deliberadamente) "construtores" de impérios.

    hoje, porém, (e ainda bem), como o Padre António Vieira e, depois, Fernando Pessoa "profetizam" é o "Império Língua" , que, a exemplo dos autores citados) nos compete "construir" persistentemente.

    muito grato, minha amiga, pelas suas reflexões
    tão importantes quanto são prementes e indispensáveis.

    abraço

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  5. O Mapa cor-de-rosa persiste através da língua comum.
    E com estes dois grandes escritores de mãos dadas só poderia surgir um grande livro.
    Um post muito interessante, como sempre.
    Olinda, continuação de boa semana.
    Beijo.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Gostei de acompanhar esta viagem entre Angola e Moçambique. Pena que muitos animais tenham sido abatidos. A fauna de África já teve dias gloriosos.
    Muito interessante, querida Olinda, esta revisitação histórica. Fico com vontade de ler o livro de Mia Couto e José Eduardo Agualusa. A língua Portuguesa é uma herança cultural na região, a marcar um forte período expansionista.
    Parabéns, amiga, por trazer documentos importantes dos tempos de Portugal em África que não poderão ser apagados. Entre as vicissitudes, que a língua continue a ser seja factor de engrandecimento cultural e de união entre os povos.

    Abraço amigo.

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  8. Magnífica postagemm, querida Olinda!
    Estou a ler "O Terrorista Elegante e outras histórias". Já li a primeira das três pequenas histórias (dá nome ao livro) e..., hum, não digo!
    Mas digo que me arrepiei quando ouvi Marisa Liz e Áurea cantarem juntas "Eu gosto de ti." Fabuloso!
    "Mapa cor-de-rosa" cultural... vou tentar visualizar.
    Beijo.

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  9. Uma postagem muito bem organizada, focando o tempo das grandes explorações que contribuiram para o mapeamento de África e a Conferência de Berlim, páginas tristes de domínio absoluto sobre os povos africanos.

    Quanto a Agualusa é uma pessoa muito culta, mas não lhe reconheço talento para ser o escolhido para representar Angola num mapa cor-de-rosa literário.

    Dias muito agradáveis, Olinda.
    Beijinhos
    ~~~

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