terça-feira, 19 de janeiro de 2016

As grandes descobertas


(Nunca usei um relógio. O tempo nunca coube num relógio)

As grandes descobertas
surgem
com a naturalidade de continuarem incertas
— ilhas sólidas no nevoeiro

Por exemplo:
o tempo sou eu.
Apenas eu.
Uma espécie de relógio
com pele.
pés doridos do gelo.
a mão que empurrou a porta.
acendeu a luz eléctrica.
lançou lenha na fornalha
—  e agora aqui estou estendido no divã
à espera de quê?


Dos passos que nunca ouvi
instantes de outro tempo
sem manhã
nas cinzas do relógio em ti
.

José Gomes Ferreira
     1900-1985

Poeta e ficcionista. 
Conhecido como "poeta militante".
Ver mais aqui

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In:Banco de Poesia Fernando Pessoa

2 comentários:

  1. Na verdade é prudente não ter relógio. Há a impressão que 'dá' horas; mas não: tira-as...

    jorge

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  2. ~~~
    Um poema de grande beleza, que me fez lembrar Vitorino Nemésio.

    Fui pesquisar e verifiquei que pertenceram à mesma geração.

    Achei muito interessante a minha associação...

    ~~~ Beijinhos, Olinda. ~~~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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