Não duvido que o Mundo no seu eixo
Gire suspenso e volva em harmonia;
Que o homem suba e vá da noite ao dia,
E o homem vá subindo insecto e seixo.
Que o homem suba e vá da noite ao dia,
E o homem vá subindo insecto e seixo.
Não chamo a Deus tirano, nem me queixo,
Nem chamo ao céu da vida noite fria;
Não chamo à existência hora sombria;
Acaso à ordem; nem à lei desleixo.
Não chamo à existência hora sombria;
Acaso à ordem; nem à lei desleixo.
A Natureza é minha mãe ainda…
É minha mãe… Ah, se eu à face linda
Não sei sorrir; se estou desesperado;
Não sei sorrir; se estou desesperado;
Se nada há que me aqueça esta frieza;
Se estou cheio de fel e de tristeza;
É de crer que só eu seja o culpado!
É de crer que só eu seja o culpado!
Antero de Quental
(1842-1891)
Natural de Ponta Delgada, Açores.
Poeta e ensaísta, domina toda a chamada geração de 70, de
que foi o ideólogo destacado, muito mais pelo seu espírito, cultura e dignidade
moral do que pela escassa obra literária que deixou.
Foi
sob a influência dos românticos, principalmente Lamartine, Victor Hugo e até
Soares de Passos, que começou a compor os seus primeiros versos, reunidos
posteriormente nas Primaveras Românticas, editadas em 1872.
(...)após a descoberta de Michelet, Proudhon e Hegel, a sua poesia transforma-se,
segundo ele, na «própria voz da Revolução». A edição das Odes Modernas, em
1865, desencadeou a nossa ainda hoje maior polémica literária — a Questão
Coimbrã —, onde o ultra-romantismo conservador de Castilho e da sua escola foi
zurzido sem piedade por um jovem de 23 anos em luta contra a falta de liberdade
criativa que dominava a anacrónica «presidência» das letras portuguesas.(...)
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In: Banco de Poesia Fernando Pesoa
Obrigado pela partilha. Conheço pouco Antero de Quental. Talvez seja até dos escritores portugueses o que menos conheço. Refiro-me claro aos escritores até ao séc XX, porque os modernos também conheço muito pouco.
ResponderEliminarUm abraço e um domingo radioso.
Antero de Quental, é o poeta da contradição de sentimentos o que o tornou num dos grandes poetas da nossa literatura.
ResponderEliminarEste seu poema é da fase mais sombria.
Um beijinho e bom domingo
Fê
Amiga Olinda,
ResponderEliminarMuito boa a escolha deste poema de Antero de Quental onde está bem patente a sua constante luta interior que, juntamente com a doença, o levariam ao suicídio.
Esta nossa visitinha de hoje tem por finalidade comunicar-te que o nosso Farol está a comemorar o seu 7º ano de nascimento e por isso gostaríamos de te ver por lá para recolheres o selinho de aniversário que te queremos oferecer.
Obrigado pela tua Amizade e por estares sempre ao nosso lado.
Abraços e beijos.
A Equipa do Farol
Olá Olinda
ResponderEliminarGrandes gênios as vezes por não conseguirem viver com a incompreensão de seus valores se perdem de si mesmo nos distúrbios ou em alguns casos se acham dentro da bipolaridade, é incrível os caminhos da mente.
Beijos
Joelma
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ResponderEliminarTenho um carinho muito especial
pela memória de Antero de Quental, o poeta de olhos tristes...
Pelo estudo e modernidade da época, desenvolveu valores muito
diferentes e opostos aos da sua formação familiar de raízes
católicas e de convívio clerical.
O nobre que foi tipógrafo e que se tornou socialista - o primeiro!
Como tal, mandou retirar do solar de família, a pedra de armas...
Apaixonado e exaltado por ideias, creio ter sido muito desajeitado
no convívio com damas e presumo não ter frequentado saraus.
Como lamento que a solidão, espírito inquieto e reflexivo e elevada intelectualidade tenham desenvolvido o problema de bipolaridade!
Neste poema, podemos constatar toda a angústia da sua depressão agravada por sentimentos de culpa... Triste!
A profunda amizade de Oliveira Martins não o conseguiu salvar...
Porém, deixou-nos poemas belíssimos e incomparáveis...
~~~ Beijinhos poéticos, Olinda. ~~~
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Excelente escolha.
ResponderEliminarBeijinhos
Maria
Há , hoje, belíssima poesia .
ResponderEliminarMas a que nos moldou os olhos e a alma, essa , continua a ser a que se bebeu e saboreou e formou o nosso olhar quando nos serviram poetas como Antero de Quental . Adorei reviver, Olinda!
Beijinho