quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho
e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados
deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros
mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça
por ora
basta-me o arco-íris
em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço
companheiros
Mia Couto, pseudónimo de António Emílio Leite Couto, escritor moçambicano internacionalmente conhecido, lido e traduzido, nasceu na Beira em 1955.
A cidade da Beira, por vezes em conversa, é confundida com as nossas Beiras. Mas a raiz é de cá e, depois da independência de Moçambique, conservou essa designação. Fora originalmente fundada pelos portugueses em 1887, sendo-lhe atribuído o nome de um rio local, Chiveve. Em 1907, recebera a visita do Príncipe da Beira, Dom Luís Filipe portador do decreto real que a elevava à categoria de cidade. Tradicionalmente, o príncipe herdeiro de Portugal detinha o título de Príncipe da Beira, província histórica de Portugal.
Nesse aspecto, rezam as crónicas:
Talvez por ser a maior província de Portugal, no século XVII, foi transformada num principado honorífico, cujo titular era, inicialmente, a filha mais velha do Monarca e, depois, o Príncipe herdeiro da coroa de Portugal.
Talvez por ser a maior província de Portugal, no século XVII, foi transformada num principado honorífico, cujo titular era, inicialmente, a filha mais velha do Monarca e, depois, o Príncipe herdeiro da coroa de Portugal.
=====
Poema: daqui
"...andei sempre
ResponderEliminarsobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver..."
Querida Olinda, parabéns pela escolha do poema e do poeta-escritor moçambicano.
Com Moçambique (o meu país do coração) atingido por uma catástrofe terrível e a cidade da Beira severamente destruída, mando um apertado abraço para o povo moçambicano.
Para ti, minha amiga, fica aqui um beijo.
Inconfundível a poesia de Mia Couto numa transversalidade humana num convite à reflexão. Admiro-o demais.
ResponderEliminarbeijinho, Olinda!
Aprecio muito ler Mia Couto, quer em prosa, quer em verso.
ResponderEliminarTem poemas e contos impressionantes.
Por isso, tenho a postagem pronta para publicar amanhã
com poemas dele... (Coincidências ou afinidades?!)
Foi um prazer, Amiga.
Abraço afetuoso.
~~~
Gostei muito desta publicação. Parabéns. Adorei saber (coisas que desconhecia)
ResponderEliminarBjos
Votos de um óptimo Domingo.
Quem me dera também poder "escrever-me de homens/e calçar-me de Terra"...
ResponderEliminarum "portentoso" Poeta e Escritor, o Mia Couto! este sim, Olinda.
abraço
(grato pela atenção que te merece o Manuel Maria ...)
Pois, é verdade, em relação ao Manuel Maria - curiosíssima quanto ao "Esquerdino" e ao "Canhoto". Sei que tenho o "take" 12 à minha espera e, depois de o ler, talvez, já se me faça alguma luz.
ResponderEliminarAbraço
Olinda
Que belíssima escolha, esta. Mia Couto deixa-me sem palavras. É magnífico este poema! Queria pertencer aos "Companheiros" a quem ele o dedica.
ResponderEliminarUma boa semana, minha Amiga Olinda.
Um beijo.
Que poema, amiga! Gosto muito de Mia Couto. Belíssima escolha!
ResponderEliminarCompanheiros...
(...) e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados
Uma ótima semana, Olinda, e grata por partilhar tão lindo poema.
Beijo!
E a Primavera chegou para alegria de todos nós, com o seu florido e chilrear das aves contentes com o sol que tem aparecido. Mas, bastaram uns poucos raios deste nosso astro rei para que aqui a Norte já deflagrassem alguns incendios, ou por descuido, ou por crime, o certo é que constatamos que nada se aprende com as desgraças do verão passado. Por aqui a falta de água aflige-nos e por tantos oitros lugares, furiosa, ela carrega tudo na sua frente , matando e desabrigando aqueles que já não tinham um abrigo digno desse nome. Pena que a natureza se vingue naqueles que mais a respeitam e naqueles que menos proveito dela tiram, porque há os ganaciosos que tudo querem. É doloroso ver o que está a acontecer em Moçambique e vai demorar muito para que alguma luz ilumine o caminho dos que conseguiram sobreviver. Olinda, obrigada por teres lembrado aqui o povo irmão e também por teres partilhado este magnifico poema de Mia Couto que desconhecia, mas que me comoveu por a ele ter associado a cidade da Beira e o pouco que resta dela. As informações que nos dás são também preciosas. Um beijinho, querida Amiga e que consigas levar os teus dias para a frente, com saúde e sorrisos, apesar das desgraças.
ResponderEliminarEmilia
De Mia Couto o que conheço é a prosa. Sei que tem poesia, mas ainda não fui ler! Portanto tive o primeiro contacto com a sua poesia através deste poema! E gostei muito! É um poema bem solidário e humano! O que mais aprecio em Mia Couto, na sua personalidade, é a sua humanidade, o seu calor, e, na escrita, a forma como cria palavras!
ResponderEliminarO post está ótimo!
Bom final de dia !
Mia Couto transmite, em sua criatividade literária, a beleza e a imensidão das terras de África. Cruza o espaço esta luta: "hei-de inventar um verso que vos faça justiça". E a poesia ocupa, assim, um lugar sublime.
ResponderEliminarExcelente e oportuna publicação!
Beijo,querida Olinda.