quarta-feira, 27 de março de 2019

...um ingano, um ingano de poucos instantes que seja...

Cena I

MADALENA

só, sentada junto à banca,
os pés sobre uma grande almofada,
um livro aberto no regaço, e as mãos
cruzadas sobre ele, como quem
descaiu da leitura na meditação.



MADALENA

(repetindo maquinalmente e devagar o que acaba de ler)

Naquele ingano d'alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito...*

Com paz e alegria d'alma...um ingano, um ingano de poucos instantes que seja...deve de ser a felicidade suprema deste mundo. E que importa que o não deixe durar muito a fortuna? Viveu-se, pode-se morrer. Mas eu!... (Pausa). Que o não saiba ele ao menos, que não suspeite o estado em que vivo...este medo, estes contínuos terrores, que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor. Oh! que amor, que felicidade...que desgraça a minha! (Torna a descair em profunda meditação: silêncio breve)




O que esconderá Madalena?

Almeida Garrett conta tudo em "Frei Luís de Sousa". Hoje, dia Mundial do Teatro, trago de novo a obra deste autor, num excerto. De seu nome completo, João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, mais tarde 1.º Visconde de Almeida Garrett (1799-1854), foi grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português. Foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.

Hoje há Teatro Solidário com Moçambique:
Entradas a preços "simbólicos", cuja receita reverte a favor das vítimas do ciclone Idai em Moçambique, entradas gratuitas, exposições e leituras encenadas;

SOLIDARIEDADE para com o actor António Cordeiro, actor de 59 anos a quem foi diagnosticada uma patologia degenerativa,

diz-nos o DN aqui.

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Excerto de "Frei Luís de Sousa" - Almeida Garrett
* Os Lusíadas
Imagem: daqui

13 comentários:

  1. Almeida Garrett merece vir a cena e receber nossos aplausos. Estou em pé na plateia, querida Olinda.

    Grande abraço.

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  2. Frei Luís de Sousa, é uma excelente opção para lembrar o dia. E solidariedade nunca é demais.
    Abraço

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  3. Aplausos à sua publicação :))

    Hoje:- Silêncio, em sentimento profundo.

    Bjos
    Votos de uma óptima noite de Quarta- Feira.

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  4. Não passei por aqui ontem, que era o dia dedicado ao teatro. Mas o Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett, é realmente uma peça cheia de dramatismo que vale sempre a pena rever. Que bom estarem a reencená-la com outros actores.
    Um grande beijo, minha Amiga Olinda.

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  5. Gostei de recordar este trecho de Frei Luis de Sousa,
    a obra-prima de Almeida Garret.
    Uma postagem muito pertinente e solidária.
    O meu terno abraço, estimada Amiga.
    Beijinhos
    ~~~~

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  6. Enquanto vivemos iludidos, esquecemos certas agruras da vida... Este Frei Luís de Sousa é sempre bom lembrá-lo, especialmente ontem.
    Belíssima publicação! Obrigada por partilhar essa lembrança connosco.
    Bom final de dia!

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  7. Vi uma representação do Frei Luís de Sousa na minha juventude. E lembro-me, apesar dos actores serem fracotes, de ter ficado impressionado. Depois disso vi muitas peças de teatro, mas ultimamente tenho andado afastado, principalmente por falta de oferta (na minha aldeia já não há teatro como antigamente...).
    Olinda, um bom fim de semana.
    Beijo.

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  8. Que bom teres trazido aqui o Frei Luis de Sousa de Almeida Garret. Já disse várias vezes que sou de letras e que no antigo 7o ano, tinha aulas de literatura e era obrigada a ler obras dos nossos escritores e, confesso, durante muitos anos não podia ouvir falar deles. Naquela altura as obras eram dadas muito " a fundo " e isso, em vez de agradarem, tinham um efeito contrário. Adoro ler, amiga, masosó há pouco, li com gosto as obras de Eça; isto para te dizer que gostei de relembrar esta obra fantástica, embora já a tenga estudado em tempos idos. Obrigada, Olinda e....talvez tenha sido também um pouco culpa da professora de literatura essa minha aversão. Era muito antipática e agora que moro em Famalicão, descobri que essa professora dava aulas cá e era o terror dos alunos. Na época do meu 7o ano, era novinha e dava aulas em Braga onde eu fiz o secundário, Passo por ela muitas vezes e continua a mesma, muito elegante e de " narizinho empinado " . Comk sao as coisas não! E sabes a melhor! E prima do meu marido e foi ao meu casamento: nunca tive coragem de lhe dizer que fui aluna dela . Não sei se me conheceu, mas...não se rebaxaixaria ao ponto de vir ter comigo e eu fiz o mesmo. Bem, Olinda, isto não tem nada a ver com o teu post, mas há certas coisas que nos marcam e que são lembradas logo que algo " carregue no botão da memória ", como foi agora o caso, Sei que não te importas! Beijos e boa noite
    Emilia

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  9. Mas, tantos erros, amiga...
    corrigindo
    mas só há pouco
    tenha
    como são as coisas, não?
    E sabes a melhor ?
    Rebaixaria
    Desculpa, sim ?
    Beijinhos
    Emília

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    Respostas
    1. hahaha!

      Minha querida,"erros" que erros não são. Eu sei o trabalho que dá escrever nestes pequenos rectângulos. Nem sempre a perícia no teclado acompanha a velocidade do pensamento.

      E devo dizer que gosto muito dos teus comentários. Leio-os sempre com prazer. Espontaneidade e genuinidade são a tua marca.

      Obrigada.

      Desejo-te um bom fim-de-semana.

      Beijinhos

      Olinda

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  10. As pausas são fundamentais na linguagem. A Meditação sobre o Teatro que (não) temos e sobre as tragédias que não são Teatro, também.
    Quase mágico trazeres este excerto na linguagem original.
    Boas ( e menos boas) recordações!...

    Beijo
    SOL

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  11. numa récita no Liceu que frequentei na adolescência (Saravah, Profª Maria da Guia!) fui um "convicente" Romeiro!

    depois vi a peça em Coimbra, pelo TEUC, encenada por Paulo Quintela. não irei perder a versão que está presentemente no Teatro D. Maria.

    uma evocação saudosa de belos momentos da minha vida, a que não resisti
    e de que fico grato, Olinda

    Abraço

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  12. Querida Olinda, aplaudo de pé esta tua publicação.
    Fabulosa!!!
    (O que eu ia perdendo...)
    Beijo.

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