quinta-feira, 10 de março de 2022

POEMA SEM RIMA

Há neste tempo um prenúncio
Uma espera que germina
Uma fala inesperada...
Um murmúrio, uma corrente.
Há um rio que se adivinha.
Um rosto. Um desatino
Uma ferida que sangra
E uma sede desatada...

Há um sopro em cada esquina.
Uma promessa. Uma viola.
Uma canção que se afina.
Uma passagem. Uma senha
E uma luta pegada.

Há um poema sem rima.
Uma viagem. Uma flor. Uma arma.
Uma fronteira vencida.
Há um vento que se anuncia
E uma dor aziaga...

Há um barco que se anuncia.
E há uma ousadia sonhada...

Há um lume insubmisso.
Um hino. Uma bandeira
E esta paixão magoada...

In: Coreografia dos Sentidos
-Como se fora invenção minha-
pg. 26



...Na sua escrita, o Poeta dilui-se na euforia da Palavra e dos sentidos e declara-se Poema, em que soletra a Gramática do Mundo num abecedário que se reinventa a cada verso, e em que caminhos apaixonantes se adivinham, por vezes, em gestos delicados e eloquentes silêncios. 

Em registo impressivo, de tirar o fôlego, assistimos à inventariação poética de cada esquina da vida, num Poema sem rima em que se perde e se encontra numa promessa, numa viola, numa canção que se afina, numa passagem clandestina, numa senha, numa luta anunciada… aqui




====

25 comentários:

  1. Olá Olinda!
    Poema Belíssimo, e seu texto ficou maravilhoso Olinda.
    Meus aplusos pra vocês dois.
    Deixo-te milhares de sorrisos e um beijo no coração.
    🌺🌼

    ResponderEliminar
  2. Bom Novo dia, querida amiga Olinda!
    Lindo poema do Manuel acompanhado de uma moda de viola condizente com a dor aziaga que se refere o autor.
    Quase uma poesia sufocada duma paixão magoada que fica à mercê da pressa e angústia diária.
    Tenham ambos dias abençoados!
    Beijinhos carinhosos e fraternos

    ResponderEliminar
  3. Maravilhosa poesia sem rima,mas com tanto sentimento!Adorei! beijos, tudo de bom,chica

    ResponderEliminar
  4. Poema sem rima lindíssimo. O meu apreço, aplauso e elogio.
    .
    Saudações poéticas
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

    ResponderEliminar
  5. Ora muito bem. Parabéns ao Poeta Manuel Veiga!
    ~~
    Coisas de uma Vida

    Beijos, boa tarde.

    ResponderEliminar
  6. Um poema lindo de um poeta que muito admiro.
    Querida amiga, não sei o que se passa com o seu perfil, ou se tinha algum antigo que desativou, pois através dos comentários que deixa, não consigo chegar até si, veja por exemplo o seu link no comentário que deixou no post dos "amores-perfeitos". Inicialmente pensei que estava com problemas no blogue. Cheguei aqui através do seu comentário no blogue da Graça.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Querida Maria
      Bom dia

      Nem sempre tenho o pc comigo e assim comento do telemóvel que não dá acesso ao "Xaile de Seda", infelizmente.
      Ultimamente tenho-o feito mais amiúde pelo que lhe peço desculpas a si e aos amigos que se têm deparado com essa dificuldade.

      Beijinhos
      Olinda

      Eliminar
    2. Ainda bem que não qualquer problema, pois com o Blogger nunca se sabe e por vezes surgem imprevistos desagradáveis.
      Agora se voltar a acontecer já sei a razão.
      Beijinhos

      Eliminar
  7. Um belo poema inconformado e que pede um pouco mais da vida. Mais logo já vou visitar o link.
    Para já, um apontamento, a forma como apresenta o poeta e a sua palavra está ela mesma impregnada de poesia, um deslumbre.
    Um abraço e bom fim de semana

    ResponderEliminar
  8. Olá, Olinda!!! Venho conhecendo aos pouquinhos a arte de Manuel Veiga e tenho gostado demais! Gratíssima por compartilhar tão lindos versos!

    Estou apaixonada pelo vídeo. Derreto-me quando vejo um dedilhado assim! Coisa linda demais!

    Beijinhos!

    ResponderEliminar
  9. Nossa!!
    Esse é maravilhoso, uma construção belíssima num ritmo fascinante!!
    É Manuel Veiga, o Poeta!
    Beijinhos aos dois e um fim de semana calmo, com mais paz para o mundo!

    ResponderEliminar
  10. Texto Poético com versos de ouro. Magnífico.
    Parabéns pela escolha.

    Beijo
    SOL da Esteva

    ResponderEliminar
  11. Um poema sem rima, belo , como já nos habituou o nosso Amigo Manuel e, a beleza está também nos que rimam e na prosa onde a poesia se desenvolve em forma diferente. Há alturas em que os poetas, creio eu, encontram dificuldade em rimar determinadas palavras; não sei construir um poema, querida Olinda, mas não saberia descobrir uma que rimasse com " arma " a não ser outra arma e mais outra e a promessa que daqui sai não rima mas combina com bala com " ferida que sangra...com dor aziaga " ; para dor encontraria o amor, uma palavra que o poeta não ousou empregar, porque não cabe neste poema triste por falta de rima, mas que teima em ficar na " gramática do mundo" , porque o mundo o quer, o deseja, o espera a cada esquina; a flor rimaria bem com a dor, com o amor, mas o sofrimento não deixa que ela seja apreciada e o seu perfume sentido, nessa apressada" passagem clandestina " para a sobrevivência, numa " luta anunciada " e agora confirmada e que tão cedo não terminará, apesar da " viola, da canção, da poesia " ; são " promessas " de que tudo faremos para que a esperança contiue a fazer parte do poema, seja ele com rima ou simplesmente com as letras do abecedário, sabiamente alinhadas em versinhos lindos. Olinda, querida Amiga, temos uma guerra à nossa porta que não sabemos como vai acabar; ficamos tristes, mas isso não ajuda em nada este povo sofredor, mas....o que ajudará? Não sei...
    Somos pequeninos demais!!!! Obrigada, querida Amiga, pelo poema do Manuel e pelas belas palavras que usas para o apresentar. Um beijinho e saúde para todos aí em casa, com a alegria possível. Beijinhos
    aos dois queridos Amigos
    Emilia 🕊 🕊 🙏

    ResponderEliminar
  12. Muito Obrigado, Olinda.

    fico grato e sensibilizado pelo interessw que a minha poesia lhe merece
    e a constância reafirmada da sua divulgação neste espaço de inteligência
    e bom gosto.

    Agradeço-lhe também publicamente (falta minha náo o ter feito mais cedo) a circunstância de ter escrito e autorizado a sua publicação do belo e lúcido texto, que integra o meu último livro COREOGRAFIA DOS SENTIDOS. e que tanto prazer me deu publicar.

    Bem Haja.

    Beijo

    ResponderEliminar
  13. Linda poesia, Olinda
    Maravilhoso vídeo.
    Obrigada pela partilha.
    Um carinhoso abraço
    Verena.

    ResponderEliminar
  14. Nota-se em desfile um tudo que sendo visto aguça o olhar do poeta, dá-lhe contornos e ruídos. Vai listando verso a verso bonitezas e tristezas num poema sem rima; canta a viola gemente fazendo eco.

    Bravíssimo, caro poeta!
    Bela escolha no conjunto postado, Olinda.
    Abraços aos dois.
    Calu

    ResponderEliminar
  15. O Manuel Veiga deixa-me sem palavras porque ele, o Poeta, sabe usá-las tão bem que se me pegam à pele e fico sempre a desejar que fossem minhas. Tão belo este poema! Um abraço para ele.
    Um beijo para si, minha Amiga Olinda.

    ResponderEliminar
  16. Amei cada canto deste olhar poético que vai nos encaminha por cada verso. A escolha da música perfeita serciu de pano de fundo neste caminhar... Grata pela partilha, bjsss

    ResponderEliminar
  17. Boa noite Olinda,
    Um poema muito belo de Manuel Veiga, um Poeta de excelência, que leio sempre com muito agrado.
    Admiro-o muito.
    Nao conhecia este poema e gostei imenso.
    Muito obrigada por partilhá-lo.
    Beijinhos para ambos.
    Ailime

    ResponderEliminar
  18. Um dos poemas que mais me agradou de Manuel Veiga, cuja poesia conheço há muitos anos .

    Abraço para vós

    ResponderEliminar
  19. Não falei do tema musical, venho dizer agora que adoro!

    Querida Olinda, beijinho e óptima semana :)

    ResponderEliminar
  20. Manuel Veiga é um poeta!
    Neste poema "sem rima", como o era a Poesia clássica, na qual o nosso amigo tantas vezes se inspira, ouvem-se outros poemas em surdina - o que só reforça a forma magistral como usa as palavras.
    Um beijo para os dois

    ***
    E pela generosidade que sempre revela, aqui lhe deixo este poema de Pessoa:

    Teu xaile de seda escura

    É posto de tal feição

    Que alegre se dependura

    Dentro do meu coração.

    s.d.
    Quadras ao Gosto Popular. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido e prefaciado por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1965. (6ª ed., 1973). - 45.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Querida Ana

      Muito obrigada por teres trazido esta quadra de Fernanda Pessoa, de toada popular e que faz sempre bem ao coração.

      Beijinhos
      Olinda

      Eliminar