quinta-feira, 3 de março de 2022

Ucrânia - um pouco da sua história


KIEV

A Resistência de um Povo

A história política depende dos acontecimentos e das suas circunstâncias. O momento de guerra na Europa que vivemos deve ser visto a essa luz. Longe de se saber qual o desenlace, temos de compreender a essência da situação. Ao falarmos da Ucrânia estamos perante um caso especialmente difícil, longe do que quer a narrativa de Putin, porque a história envolve, como habitualmente, um conjunto vasto de razões. Kiev está na origem da civilização russa. Segundo a tradição, no século VI, aí se reuniram 13 tribos eslavas orientais voluntariosas e determinadas, que fizeram prosperar a região do Dniepre. 

Se o primeiro Estado russo nasceu em Novgorod, quando o príncipe Riurik, um normando, não eslavo, foi convidado a assumir o poder, foi o seu irmão Oleg que transferiu para Kiev a capital da Rus. Iniciaram-se então as relações com Bizâncio e geraram-se as raízes dos povos russo, ucraniano e bielorrusso. Kiev tornou-se o coração da Santa Rússia, herdeira da segunda Roma (Constantinopla). 

Contudo, no ocidente da Ucrânia, em Lviv, cidade fundada pelo grão-duque da Ruténia, em 1256, encontramos, de certo modo, uma outra história. A cidade passou sucessivamente da soberania polaca, em 1340, para a austríaca em 1772, integrando o Império Austro-Húngaro. Depois, a cidade foi polaca, em 1919, no fim da Grande Guerra, e tornou-se ucraniana em 1939. Em 1945, nas partilhas territoriais do fim da Segunda Guerra, a região foi integrada na República Soviética da Ucrânia, que viria a ser fundadora das Nações Unidas, ao lado da URSS e da Bielorrússia. A soberania de Direito da Ucrânia é assim inequívoca e antiga. A libertação de 1991 e tudo o que se seguiu merecem especial atenção, no âmbito da aplicação da Carta das Nações Unidas.

 A Ucrânia é um Estado soberano, com raízes históricas complexas e claras, a partir de influências que se completam - eslava e europeia central. Kiev é uma das cidades mais antigas da Europa e uma referência matricial da rica cultura eslava. Fundada no século V é um centro da economia e da cultura. E o cristianismo ortodoxo, de bases profundas, teve Kiev como matriz. A própria língua ucraniana tem raízes próprias, próximas da língua russa, do servo-croata e do polaco.

 A palavra ukraina significa zona fronteiriça, onde o domínio cossaco se distinguia dos principados eslavos do norte e oeste e das hordas turcas do sul. Em 1240, a cidade foi ocupada e destruída pelo Império Tártaro-Mongol, na conquista iniciada por Gengis Khan. Kiev perdeu influência, mas manteve autonomia, no âmbito do Canato da Horda do Ouro. Em 1321, a cidade seria conquistada pelo grão-duque da Lituânia, passando ao domínio polaco-lituano até ao final do século XVII, quando Kiev passou para a esfera do Império Russo, tornando-se o mais importante centro cristão ortodoxo, antes da transição para Moscovo. 

Nos séculos XVIII e XIX a vida da cidade foi dominada pelas autoridades militares e eclesiásticas, em 1834 foi criada a Universidade de S. Vladimir e em 1846 constituiu-se a proibida Irmandade de S. Cirilo e S. Metódio, defensora de uma federação eslava de povos livres, animada por Nikolay Kostomarov. Kiev foi a terceira cidade do império, importante centro de comércio, beneficiando do rio Dniepre. Deste modo, as lágrimas e a vontade de um povo resistente reforçam a história, a herança e a memória de um dos fundamentos da civilização europeia, que a cegueira bárbara de um ditador será incapaz de destruir.

Guilherme de Oliveira Martins

Administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian

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Transcrevo este texto de 01/03, da autoria de Guilherme de Oliveira Martins, mais para informação minha do que para a vossa, pois deverão já conhecer a realidade histórica da Ucrânia. Nestes dias em que o centro de gravidade ali se situa, termos consciência disso parece-me importante.

Abraços
Olinda

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Texto: daqui
imagem: wiki

12 comentários:

  1. Também tenho andado a informar-me sobre a história da Ucrânia. É impossível não nos interessarmos. Este texto do Prof. Guilherme de Oliveira Martins é uma síntese bastante eloquente. Obrigada por partilhar, minha Amiga Olinda.
    Tenha um dia tranquilo.
    Um beijo.

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  2. Bom.dia de paz, querida amiga Olinda!
    Há tantos fatores que desconhecemos numa guerra que é muito bom você bater nos informado aqui, mesmo que para sua própria informação, em primeiro lugar, o que fica oculto aos olhos da maioria.
    Muito obrigada pela sua predisposição em saber para partilhar.
    Em todo caso, guerra jamais.
    O diálogo precisa prevalecer.
    Pena que a humanidade tem sangue nos olhos e não quer saber de paz numa grande parte dela.
    Tenha dias abençoados!
    Beijinhos carinhosos e fraternos

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  3. Um povo que luta pelo direito a viver a sua vida sem a opressão externa. Famílias que se separam, pessoas que largam tudo o que têm para merecer o estatuto de refugiados e ter de se sujeitar a condições degradantes até que consigam voltar a erguer-se.

    Uma vez mais, este seu blogue é um exemplo.

    Abraço e boa semana

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  4. Muito bom-. Gostei do texto!
    Ando atarantada com tudo isto!
    -
    momentos de gratidão com o mar

    Beijos e uma boa tarde!

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  5. Li em silêncio e... em reflexão sobre o que está a acontecer à Ucrânia, em silêncio me deixei ficar
    .
    Cumprimentos poéticos
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  6. Grata pela partilha. Gostei de acompanhar o artigo bem esclarecedor.Fico muito indignada com tudo isto. Guerra!!!. Quem morre.. quem sofre... bjs

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  7. Muito bem Olinda, é preciso conhecer historia,
    é preciso saber ter opinião e cultura.
    Mortes e destruição coisas que nos abalam.
    Grato pela partilha amiga.
    Carinhoso abraço.
    Um bom e feliz fim de semana.

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  8. Graças pelo elucidativo texto, minha amiga.

    Putin deveria ter sofrido duras sanções quando destruiu brutalmente a Chechénia a ferro e fogo porque assim se evitaria ter vindo em crescendo até a este infame ataque à Ucrânia .

    A Europa, a Nato e os EUA não estão inocentes de todo , têm responsabilidades em toda a linha, embora, fique claro, nada justifique o comportamento do presidente russo.

    Querida OLinda, o meu abraço com voto de sereno fim de semana

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  9. Querida Olinda
    Muito oportuna esta tua postagem.
    Acredito que muitos de nós, perante esta estúpida guerra que se está vivendo, tenham sentido curiosidade em conhecer o país de que mais se ouve falar presentemente.
    Apesar disso acho muito pertinente e importante a informação que nos forneces.
    Obrigada pela partilha.

    Dias felizes te desejo. A ti e a todos nós.

    Bom Fim de Semana.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  10. Tudo muito triste, demasiado triste, porque depois de tanto sofrimento, sabemos que só vai haver uma solução para a Ucrânia -- uma rendição desonrosa.
    Todos ajudam, mas não se comprometem...

    Regressando da minha pausa, tenho uma pequena celebração, creio que vai gostr de participar.
    Tudo pelo melhor. Beijinhos
    ~~~~~~~~~~~~

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  11. Olá, Olinda, como a Ucrânia hoje é o centro do mundo em razão das agressões do Putin, esta sua postagem é muito oportuna por esclarecer aos leitores como ela se coloca na História. Esse texto da postagem, de autoria de Guilherme de Oliveira Martins levou-me a conhecer muito mais do que sabia sobre a Ucrânia. Então, Olinda, resta-me agradecer a você pela partilha histórica desse grande país, Ucrânia.
    Um bom domingo pra você e uma excelente semana, com saúde.
    Grande abraço.

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  12. Boa noite Olinda,
    Um texto muito importante e esclarecedor que me ajuda a melhor conhecer e compreender a história da Ucrânia.
    Obrigada por esta partilha tão oportuna.
    Beijinhos,
    Ailime

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