A história política depende dos acontecimentos e das suas circunstâncias. O momento de guerra na Europa que vivemos deve ser visto a essa luz. Longe de se saber qual o desenlace, temos de compreender a essência da situação. Ao falarmos da Ucrânia estamos perante um caso especialmente difícil, longe do que quer a narrativa de Putin, porque a história envolve, como habitualmente, um conjunto vasto de razões. Kiev está na origem da civilização russa. Segundo a tradição, no século VI, aí se reuniram 13 tribos eslavas orientais voluntariosas e determinadas, que fizeram prosperar a região do Dniepre.
Se o primeiro Estado russo nasceu em Novgorod, quando o príncipe Riurik, um normando, não eslavo, foi convidado a assumir o poder, foi o seu irmão Oleg que transferiu para Kiev a capital da Rus. Iniciaram-se então as relações com Bizâncio e geraram-se as raízes dos povos russo, ucraniano e bielorrusso. Kiev tornou-se o coração da Santa Rússia, herdeira da segunda Roma (Constantinopla).
Contudo, no ocidente da Ucrânia, em Lviv, cidade fundada pelo grão-duque da Ruténia, em 1256, encontramos, de certo modo, uma outra história. A cidade passou sucessivamente da soberania polaca, em 1340, para a austríaca em 1772, integrando o Império Austro-Húngaro. Depois, a cidade foi polaca, em 1919, no fim da Grande Guerra, e tornou-se ucraniana em 1939. Em 1945, nas partilhas territoriais do fim da Segunda Guerra, a região foi integrada na República Soviética da Ucrânia, que viria a ser fundadora das Nações Unidas, ao lado da URSS e da Bielorrússia. A soberania de Direito da Ucrânia é assim inequívoca e antiga. A libertação de 1991 e tudo o que se seguiu merecem especial atenção, no âmbito da aplicação da Carta das Nações Unidas.
A Ucrânia é um Estado soberano, com raízes históricas complexas e claras, a partir de influências que se completam - eslava e europeia central. Kiev é uma das cidades mais antigas da Europa e uma referência matricial da rica cultura eslava. Fundada no século V é um centro da economia e da cultura. E o cristianismo ortodoxo, de bases profundas, teve Kiev como matriz. A própria língua ucraniana tem raízes próprias, próximas da língua russa, do servo-croata e do polaco.
A palavra ukraina significa zona fronteiriça, onde o domínio cossaco se distinguia dos principados eslavos do norte e oeste e das hordas turcas do sul. Em 1240, a cidade foi ocupada e destruída pelo Império Tártaro-Mongol, na conquista iniciada por Gengis Khan. Kiev perdeu influência, mas manteve autonomia, no âmbito do Canato da Horda do Ouro. Em 1321, a cidade seria conquistada pelo grão-duque da Lituânia, passando ao domínio polaco-lituano até ao final do século XVII, quando Kiev passou para a esfera do Império Russo, tornando-se o mais importante centro cristão ortodoxo, antes da transição para Moscovo.
Nos séculos XVIII e XIX a vida da cidade foi dominada pelas autoridades militares e eclesiásticas, em 1834 foi criada a Universidade de S. Vladimir e em 1846 constituiu-se a proibida Irmandade de S. Cirilo e S. Metódio, defensora de uma federação eslava de povos livres, animada por Nikolay Kostomarov. Kiev foi a terceira cidade do império, importante centro de comércio, beneficiando do rio Dniepre. Deste modo, as lágrimas e a vontade de um povo resistente reforçam a história, a herança e a memória de um dos fundamentos da civilização europeia, que a cegueira bárbara de um ditador será incapaz de destruir.
Guilherme de Oliveira Martins
Administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian
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Transcrevo este texto de 01/03, da autoria de Guilherme de Oliveira Martins, mais para informação minha do que para a vossa, pois deverão já conhecer a realidade histórica da Ucrânia. Nestes dias em que o centro de gravidade ali se situa, termos consciência disso parece-me importante.
Abraços
Olinda
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Texto: daqui
imagem: wiki
Também tenho andado a informar-me sobre a história da Ucrânia. É impossível não nos interessarmos. Este texto do Prof. Guilherme de Oliveira Martins é uma síntese bastante eloquente. Obrigada por partilhar, minha Amiga Olinda.
ResponderEliminarTenha um dia tranquilo.
Um beijo.
Bom.dia de paz, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarHá tantos fatores que desconhecemos numa guerra que é muito bom você bater nos informado aqui, mesmo que para sua própria informação, em primeiro lugar, o que fica oculto aos olhos da maioria.
Muito obrigada pela sua predisposição em saber para partilhar.
Em todo caso, guerra jamais.
O diálogo precisa prevalecer.
Pena que a humanidade tem sangue nos olhos e não quer saber de paz numa grande parte dela.
Tenha dias abençoados!
Beijinhos carinhosos e fraternos
Um povo que luta pelo direito a viver a sua vida sem a opressão externa. Famílias que se separam, pessoas que largam tudo o que têm para merecer o estatuto de refugiados e ter de se sujeitar a condições degradantes até que consigam voltar a erguer-se.
ResponderEliminarUma vez mais, este seu blogue é um exemplo.
Abraço e boa semana
Muito bom-. Gostei do texto!
ResponderEliminarAndo atarantada com tudo isto!
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momentos de gratidão com o mar
Beijos e uma boa tarde!
Li em silêncio e... em reflexão sobre o que está a acontecer à Ucrânia, em silêncio me deixei ficar
ResponderEliminar.
Cumprimentos poéticos
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Grata pela partilha. Gostei de acompanhar o artigo bem esclarecedor.Fico muito indignada com tudo isto. Guerra!!!. Quem morre.. quem sofre... bjs
ResponderEliminarMuito bem Olinda, é preciso conhecer historia,
ResponderEliminaré preciso saber ter opinião e cultura.
Mortes e destruição coisas que nos abalam.
Grato pela partilha amiga.
Carinhoso abraço.
Um bom e feliz fim de semana.
Graças pelo elucidativo texto, minha amiga.
ResponderEliminarPutin deveria ter sofrido duras sanções quando destruiu brutalmente a Chechénia a ferro e fogo porque assim se evitaria ter vindo em crescendo até a este infame ataque à Ucrânia .
A Europa, a Nato e os EUA não estão inocentes de todo , têm responsabilidades em toda a linha, embora, fique claro, nada justifique o comportamento do presidente russo.
Querida OLinda, o meu abraço com voto de sereno fim de semana
Querida Olinda
ResponderEliminarMuito oportuna esta tua postagem.
Acredito que muitos de nós, perante esta estúpida guerra que se está vivendo, tenham sentido curiosidade em conhecer o país de que mais se ouve falar presentemente.
Apesar disso acho muito pertinente e importante a informação que nos forneces.
Obrigada pela partilha.
Dias felizes te desejo. A ti e a todos nós.
Bom Fim de Semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Tudo muito triste, demasiado triste, porque depois de tanto sofrimento, sabemos que só vai haver uma solução para a Ucrânia -- uma rendição desonrosa.
ResponderEliminarTodos ajudam, mas não se comprometem...
Regressando da minha pausa, tenho uma pequena celebração, creio que vai gostr de participar.
Tudo pelo melhor. Beijinhos
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Olá, Olinda, como a Ucrânia hoje é o centro do mundo em razão das agressões do Putin, esta sua postagem é muito oportuna por esclarecer aos leitores como ela se coloca na História. Esse texto da postagem, de autoria de Guilherme de Oliveira Martins levou-me a conhecer muito mais do que sabia sobre a Ucrânia. Então, Olinda, resta-me agradecer a você pela partilha histórica desse grande país, Ucrânia.
ResponderEliminarUm bom domingo pra você e uma excelente semana, com saúde.
Grande abraço.
Boa noite Olinda,
ResponderEliminarUm texto muito importante e esclarecedor que me ajuda a melhor conhecer e compreender a história da Ucrânia.
Obrigada por esta partilha tão oportuna.
Beijinhos,
Ailime