sábado, 19 de março de 2022

DEVAGAR




Nada entre nós tem o nome da pressa.
Conhecemo-nos assim, devagar, o cuidado
traçou os seus próprios labirintos. Sobre a pele
é sempre a primeira vez que os gestos acontecem. Porém,

se se abrir uma porta para o verão, vemos as mesmas coisas –
o que fica para além da planície e da falésia; a ilha,
um rebanho, um barco à espera de partir, uma palavra
que nunca escreveremos. Entre nós

o tempo desenha-se assim, devagar.
Daríamos sempre pelo mais pequeno engano.

Maria do Rosário Pedreira



Tal como num belo bordado, ponto por ponto,
tacteando e escolhendo as cores certas e ideais para 
uma paleta perfeita, onde a imperfeição dos dias também tem o seu lugar.
Sigamos, andando por esse caminho, por vezes com encruzilhadas,
mas em que a meta estará sempre bem definida.
 





Maria do Rosário Pedreira (Lisboa, 1959) tem a sua obra poética coligida em Poesia Reunida, que a Quetzal publicou em 2012 (nomeadamente A Casa e o Cheiro dos Livros, 1996; O Canto do Vento nos Ciprestes, 2001; Nenhum Nome Depois, 2014). Além de poeta, romancista (a de Alguns Homens, Duas Mulheres e Eu), autora de literatura juvenil e um dos nomes mais importantes da escrita de fado – Maria do Rosário Pedreira é também uma referência de grande qualidade para a edição portuguesa contemporânea, sendo editora na Leya. Mantém o blogue As Horas Extraordináriasaqui


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Poema: Poemário
Imagem: net






10 comentários:

  1. Nada entre nós tem o nome da pressa.

    É meu lema de vida há anos, querida amiga Olinda!
    Correria só faz a pessoa ficar no mesmo lugar. Mesmice não nos leva ao profundo de nós mesmas.
    Música linda que amo e me marcou muito quando conheci meu amado há uns anos. Letra maravilhosa.
    O Amor é urgente mas Amar é devagarzinho.
    Intensidade não tem a ver com pressa no meu modo de sentir as coisas
    Uma autora contemporânea que nos dá a conhecer. Obrigada, querida.
    Tenha um final de semana abençoado!
    Paz, saúde e Amor.
    Beijinhos carinhosos e fraternos

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  2. Que lindo! A pressa é danada...Eu tenho que me controlar pois sou afobadinha,rs...Adorei passar aqui! beijos, ótimo fds! chica

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  3. Gostei muito deste poema que os sentimentos que a vida nos traz com você diz com a paleta perfeita. Grata por compartilhar, vou buscar saber mais sobre ela. Bjs
    Bom final de semana.

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  4. Porque a vida se apressa temos que andar devagar!

    Abraço

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  5. Devagar se chjega ao longe...
    .
    Feliz fim-de-semana … saudações cordiais
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  6. Gostei bastante da publicação!! :))
    --
    Coisas de uma vida

    Votos de um excelente fim de semana.
    Beijos

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  7. Querida Olinda, esse é o meu aprendizado sem limites de tempo, afinal, por quê a pressa? Para ir onde, para acelerar e nada curtir? Eu digo que sempre aprenderemos e o bom é quando reconhecemos que temos, ainda, 'um mundo' para aprender.
    Gostei imensamente do poema, não conhecia a poeta Maria do Rosário Pedreira, mas me deste a conhecê-la.
    Marisa Monte, gosto muito!
    Um bom domingo, pra você, saúde e paz!
    Beijinho.

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  8. Aceitar a lentidão como se ela nos fizesse saborear melhor todas as coisas. É um belo poema, este, o da Maria do Rosário Pedreira, como bela é toda a poesia que ela escreve. "O tempo desenha-se assim devagar". É como diz minha Amiga Olinda: "Tal como num belo bordado, ponto por ponto". Magnífico!
    Tudo de bom para si.
    Um beijo.

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  9. Se bem compreendo, o amor é intemporal, e, sobretudo, "atemporal"...

    Tal permite que o "pastor Jacob, servisse, por Raquel, sete anos e mais sete e outros tantos e "mais serviria se para tão grande amor seja tão curta a vida....!

    e que a autora possa esscrever este bonito verso "Sobre a pele
    é sempre a primeira vez que os gestos ..."

    quer dizer, portanto, que a questão não é da ordem da pressa ou não +ressa (tempo real. físico) mas da ordem de "perenidade" do amor, em que o Tempo é metáfora de si mesmo...

    gostei muito, minha Amiga

    Abraço

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  10. Poema maravilhoso, que adorei ler, pela qualidade, lirismo da autora. E parabéns por publicar.
    Marisa Monte, numa melodia que adoro, e que ouvi pelo menos umas três vezes por aqui.
    Grande abraço.

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