Chegados ao dia de hoje*, impunha-se um balanço do que fiz e do que deixei para trás. Houve situações sobre as quais eu deveria ter-me debruçado. Depois via que já estavam a ser tratadas, vistas e revistas e comentadas, não indo eu acrescentar nada de relevante. Outras houve em que, impulsivamente, lá dizia da minha justiça. Mas, o que na verdade acontece é que por aqui as coisas vão acontecendo sem prazos nem periodicidades. Penso que poderia ser de outro modo, mas ainda bem que apareceis apesar destas minhas falhas.
Hoje gostaria de produzir um grande texto se a isso me assistissem o engenho e a arte. Em vez disso prefiro recorrer às interrogações sobre o desconcerto do mundo do grande Luís Vaz de Camões nestes versos em oitava. Eis as três primeiras:
O desconcerto do mundo**
Quem pode ser no mundo tão quieto,
ou quem terá tão livre o pensamento,quem tão exp'rimentado e tão discreto,
tão fora, enfim, de humano entendimento
que, ou com público efeito, ou com secreto,
lhe não revolva e espante o sentimento,
deixando-lhe o juízo quase incerto,
ver e notar do mundo o desconcerto?
Quem há que veja aquele que vivia
de latrocínios, mortes e adultérios,
que ao juízo das gentes merecia
perpétua pena, imensos vitupérios,
se a Fortuna em contrário o leva e guia,
mostrando, enfim, que tudo são mistérios,
em alteza de estados triunfante,
que, por livre que seja, não se espante?
Quem há que veja aquele que tão clara
teve a vida que em tudo por perfeito
o próprio Momo às gentes o julgara,
ainda que lhe vira aberto o peito,
se a má Fortuna, ao bem somente avara,
o reprime e lhe nega seu direito,
que lhe não fique o peito congelado,
por mais e mais que seja exp'rimentado?
.... (excerto)
Luís Vaz de Camões
in:Líricas - pg 85
Neste oitavo ano que agora começa aqui no Xaile de Seda, comunico-vos a intenção de reeditar a Quinzena do Amor, que irá de 31 de Janeiro a 14 Fevereiro. Por isso, peço o vosso contributo, como das outras vezes, trazendo-me poemas de amor, vossos ou de quem admirais, os quais publicarei durante esses quinze dias. Podereis deixá-los no espaço dos comentários. Para já, os meus agradecimentos.
Um grande abraço.
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* 7º aniversário do Xaile de Seda
** Nota de rodapé, do livro:
Esta célebre poesia moral foi endereçada ao seu amigo D. António de Noronha, filho do Conde de Linhares, companheiro e talvez discípulo algum tempo. Alude ao desconcerto, à má organização em que andam as coisas neste mundo: os bons por baixo, os maus no galarim
Imagens: Pixabay
Parabéns pelos 7 anos do Xaile de Seda. Este é um espaço com sumo, que transmite paz e conhecimento de uma forma despretensiosa. Uma escrita tão cuidada e bonita. Que continue por mais anos. Muito obrigada! Isabel
ResponderEliminarParabéns pelos 7 anos do "Xaile de Seda". Gosto muito de tudo o que publica. Camões é sempre uma referência para quem lê e para quem escreve. Mas não há como comentá-lo...
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
é sempre bom visitar o seu espaço
ResponderEliminarVenham mais cinco
Parabéns pelo aniversário do blogue.
ResponderEliminarAndamos às voltas com o Camões e os Lusíadas.
Nesse ambito amanhã vamos para uma visita de estudo a Alcobaça.Não me lembro se alguma vez participei na quinzena.
Um abraço e uma boa semana
Pois, foi há já algum tempo.
EliminarDê uma olhadinha aqui :)
http://xailedeseda.blogspot.pt/2012/02/nosso-amor-nascido.html
bj
Sentidos e alegres parabéns pelo XAILE DE SEDA!
ResponderEliminarAs minhas congratulações estimada Olinda.
Antes destas estrofes, Camões confessa-se culpado...
«Fui mau, mas fui castigado:
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado.»
Um caloroso abraço especial, Olinda.
Beijos
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Olá Olinda,
ResponderEliminarVenho para os parabéns, para os votos de mais sete e mais sete e muitos mais, para dizer que aqui se está sempre bem, que a boa onda impera, o conhecimento, a sensibilidade e o bom senso também. E para deixar um abraço e desejar que haja sempre saúde e alegria.
Muito obrigada, Xaile de Seda, pelo aconchego que dás a quem te visita. Nestes sete anos tenho sentido aqui todo o tipo de sensações e espero poder continuar a fazer parte desta familia por muito mais tempo ainda. Parabéns, querida amiga e muito obrigada por tudo o que me tens dado. Um forte e carinhoso abraço
ResponderEliminarEmilia
Olá, querida Olinda!
ResponderEliminarEu nunca faço balanços, pois a partir dos 40 vivo um dia de cada vez. Há situações e pessoas, que retiro do meu cotidiano, sem o mínima pena, e outras que faço entrar, sem hesitar. A vida é um ciclo e eu sou pouco apegada a passados. Vivo o presente, o melhor que me é possível.
Feliz ou infelizmente, sou muito "certinha", mas se tiver que desacertar, assim o farei. "Há mais marés, que marinheiros", penso sempre.
Parabéns pelos sete anos de blogue, quase sempre com assuntos de muito interesse, e desejo que continue por muitos mais.
Em relação ao "Desconcerto do Mundo", que refere o nosso maior poeta, acho que continua muita "coisa" desconcertada, mas já nem tudo é uma questão de "Má Fortuna". Passaram-se seis séculos, e naturalmente as mentalidades mudaram. Ai, Camões a falar de adultérios (rs)!
Qto à "Quinzena do Amor", vou estar atenta, pois desconhecia a iniciativa.
Beijinhos e dias menos frios.
PS: grata pela sua resposta ao meu comentário no antepenúltimo post seu.
fui provavelmente o último a chegar,
ResponderEliminarmas nem por isso me dispenso de dizer-lhe que foi chegar ... e gostar!
como se amor (espero que retribuído rss) à primeira vista fora!
inteligência, autenticidade, temas aliciantes e boa escrita razões mais que suficientes para não dispensar as minhas visitas e agradecer a simpatia com que me acolheu.
que sejam muitos mais anos, parabéns!
abraço
Olá, querida Olinda!
ResponderEliminarGrata pelas suas palavras, tão bem posicionadas, no meu blogue.
De facto, no telemóvel ou mesmo no smartphone (são diferentes, não são?), não se consegue ver vídeos, pelo menos os que coloco no meu blogue. Já alguns comentadores mo disseram. Em computador de secretária, veem-se sempre, mas o da Olinda tem dias (rs). Eu mandei desligar a internet no meu telemóvel, que dizem ser básico, pois só tem 6 toques. Para quê tantos? Tem 4 anos, comprei-o no Jumbo, em saldo, mas já está a falhar nas poucas funções, que dizem ter. Para mim, chega-me um telemóvel que receba e faça chamadas e envie sms. O meu tb tem câmara fotográfica, mas nunca a usei. Acho que qdo comprar, vou "numa" de Alcatel, com o que o meu pai tinha. Mto fácil. Este tipo de coisas, não me dizem nada. Interessa-me, sim, o interior das pessoas, a cultura das gentes e a tolerância inteligente.
Beijos e bom fim de semana.
Olá, Olinda: virei com tempo para ler as últimas publicações; como acabei de ler o teu comentário sobre a querida Alice, deixo-te um poema dela
ResponderEliminarALICE QUEIROZ, in JARDIM DE AFECTOS (Versbrava, 2014)
NÃO É POR ACASO
Não é por acaso
que existe um espaço
entre dois braços
lugar onde se semeiam
germinam e crescem
os abraços
No espaço
entre dois braços
exauram-se medos e agonias
removem-se pedras do caminho
fecundam-se sonhos
criam-se laços
No espaço entre dois braços
calam-se as vozes e os passos
falam os sentidos consentidos
nasce a vertigem de coração
com coração sem embaraços
Não não é por acaso
que existe um espaço
entre dois braços
lugar onde se semeiam
e crescem os abraços
*
https://www.youtube.com/watch?v=ZA3cLgYBVb8
(infelizmente este belíssimo declamador, também já faleceu, há cerca de um ano ano e tal, dois; O Joaquim Lopes também foi cedo, muita saudade que deixou...)
Parabéns, Olinda! Que este xaile de seda continue a ser festivo e brilhante encantando quem aqui vem. Por muito tempo!!!
ResponderEliminarDe Camões admiro TUDO!
Bjinho
(Grata pelo sabor da tua presença no meu espaço)
Muita sabedoria tinha Luís de Camões!
ResponderEliminarOlinda, muitos parabéns e continue ao ritmo que mais lhe convier! Eu tento fazer o mesmo :)
Beijinhos
Olá Olinda!
ResponderEliminarDepois de uma longa ausência voltei a tempo de festejar o 7º aniversário deste cantinho encantador.
Parabéns! Continue compartilhando tesouros de sabedoria e conhecimento.
Beijo e boa semana.
Parabéns, Olinda!
ResponderEliminarPelo que me é dado perceber, este xaile de seda é de aprimorada qualidade. Daí que me fique na ideia sentir-lhe o toque sempre que me seja possível.
Grande abraço.
Olinda, parabéns pelo primoroso blogue!
ResponderEliminarBeijinhos e continue!
Meus amigos
ResponderEliminarMuito obrigada pela vossa presença e apreço. Começou a "Quinzena do Amor". Apareçam, se puderem.
Grande abraço.
Olinda