quarta-feira, 8 de maio de 2024

Autos de Gil Vicente

   Se, no Auto da Alma, a dominante são os sentimentos piedosos e a vitória tranquila do Bem sobre o Mal, não será essa a tónica geral das peças. No Auto da Barca do Inferno (1517), a mais importante da Trilogia das Barcas (Inferno, Purgatório e Glória), os critérios de selecção serão mais mordazes e exigentes. Nela, o Fidalgo é condenado por ter levado uma vida dissoluta de luxúria. O Onzeneiro (agiota) perde-se pela ganância, usura e avareza. O Sapateiro vai para a Barca do Inferno por roubar o povo no seu ofício e por falsidade religiosa. O Frade e a Amante não vão para o Paraíso pelo seu falso moralismo. Brísida Vaz, feiticeira e alcoviteira, vai para o Inferno por essas práticas e ainda a da prostituição. O Judeu, que se faz acompanhar de um bode, é condenado por desrespeitar a religião cristã. O Corregedor e o Procurador não têm salvação por terem usado o poder judicial em proveito próprio. O Enforcado, que cometeu crimes ao serviço de Garcia Moniz, também é condenado.

   Só têm acesso à Barca do Paraíso o Parvo, pela sua simplicidade e modéstia, e os Quatro Cavaleiros que morreram nas Cruzadas pela vitória do cristianismo.

   Testemunha de um tempo de mudança e de rápida riqueza trazida pelas caravelas - bem como milhares de escravos -, Gil Vicente não se deixa embalar na vertigem do presente. Pelo contrário, denuncia-a a cada passo, cara a cara com a realeza, a fidalguia do paço, o clero e os altos funcionários. (Excerto) *



Gil Vicente (c. 1465 – c. 1536) é considerado o primeiro grande dramaturgo português, além de poeta de renome. Enquanto homem de teatro, parece ter também desempenhado as tarefas de músico, ator e encenador. É considerado o pai do teatro português, ou mesmo do teatro ibérico, já que também escreveu em castelhano — partilhando a paternidade da dramaturgia espanhola com Juan del Encina. Mais aqui

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Avançando no tempo. 
A 9ª Sinfonia de Beethoven, completa 200 anos. Foi apresentada pela primeira vez em 7 de maio de 1824, no Kärntnertortheater, em Viena, na Áustria.

O regente foi Michael Umlauf, diretor musical do teatro, e Beethoven — dissuadido da regência pelo estágio avançado de sua surdez — teve direito a um lugar especial no palco, junto ao maestro. 





O Hino da Alegria, ou Ode à Alegria, poema escrito por Friedrich Schiller em 1785 e tocado no quarto movimento da 9.ª sinfonia de Ludwig van Beethoven, foi adoptado como Hino da União Europeia.

Neste poema Schiller expressa uma visão idealista da raça humana como irmandade, uma visão que tanto este como Beethoven partilhavam.



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*Excerto: Livros- Tudo o que é preciso ler - 
Christiane Zschirnt, pg.339
Imagem: Net

9 comentários:

  1. Bom dia de Paz, querida amiga Olinda!
    "Nao vão para o Paraíso pelo seu falso moralismo."
    Em contrapartida, " têm acesso à Barca do Paraíso o Parvo, pela sua simplicidade e modéstia".
    Se atentarmos bem para as palavras acima que recortei do texto postado, um verdadeiro parâmetro do cristianismo autêntico...
    Quanto falso moralismo!
    Como nos faz falta a modéstia e s simplicidade...
    Por trás da dramaturgia, se revelam grandes verdades.
    Gostei do post para reflexão além de ser informativo.
    Tenha dias abençoados!
    Beijinhos com carinho fraterno

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  2. Gracias por la reseña. Lo tendré en cuenta. Te mando un beso.

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  3. Lindo ´post.Passando pra agradecer os desejos e preocupação! Estamos bem, dentro do poss´pivel. Mas vamos que vamos! bjs, chica sonhando com a normalidade da vida!

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  4. Quem se salvaria agora?

    Abraço

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  5. Este blog é um livro de cultura na minha estante.
    Um abraço.

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  6. Olá, estimada amiga Olinda,
    Muito interessante postagem aqui partilha.
    Sem dúvida que os Autos de Gil Vicente, em particular o "Auto da Barca do inferno", se aplicaria no presente a muitos políticos da nossa praça.

    Muito oportuna esta postagem sem dúvida, estimada amiga.
    Gostei bastante.

    Deixo os meu votos de um bom fim de semana!
    Beijinhos.

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com
    https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

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  7. Querida Olinda
    Como é habitual... escolheste um tema que, apesar da sua antiguidade, se pode adaptar perfeitamente à actualidade.
    O que é que tal particularidade nos diz? O mesmo de sempre: o Homem não aprende com os seus erros!
    Gosto, adoro todas as sinfonias de Beethoven, mas tenho uma preferência pela 9ª. Admito que tal se deva ao facto de a mesma incluir o "Hino à alegria"...Parece-me que a torna mais apelativa.

    Querida, espero que tenhas tido um feliz Dia da Mãe.
    Deixo-te um carinhoso abraço.

    Bom Fim de Semana.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  8. Mais mordaz e crítico seria, Gil Vicente no tempo presente. Não faltariam casos de inspiração apropriada como a que o movia. Dizer é uma Arte que muitos pensam e poucos a praticam com verdade e oportunidade.
    A 9ª Sinfonia está de Parabéns. O aproveitamento e apropriação dela pela UE, pode ter sido um acto feliz.
    Por mim, adoro-a com o que ela tem.
    Grato pela escolha e partilha destes eventos.

    Beijo,
    SOL da Esteva

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  9. Oi Olinda, vim aqui te desejar muita saúde, paz e alegria em sua vida e de sua família e também um feliz dia das mães. Bjs querida Amo você e Deus ainda mais. Abcs NalPontes

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