O
poder político é, conforme a clássica definição de Max Weber, uma estrutura
complexa de práticas materiais e simbólicas destinadas à produção do consenso.
Isto é, o poder político, ao contrário das restantes formas de poder social,
implica que haja uma relação entre governantes e governados, onde o governante
exerce um poder-dever e o que obedece, obedece porque reconhece o
governante pela legitimidade deste.
Assim,
o espaço normal do processo político é o da persuasão. O da utilização da
palavra para a comunicação da mensagem e a consequente obtenção da adesão,
enquanto consenso e não unanimidade, onde há obediência pelo consentimento,
onde o poder equivale à negociação.
Só
quando falha este processo normal de adesão comunicativa é que o governante
trata de utilizar a persuasão com autoridade, com o falar como autor para auditores,
onde o autor está situado num nível superior e o auditor no nível inferior da audiência.
Com efeito, o emissor da palavra não está no mesmo plano do receptor, está num
lugar mais alto, aquele onde se acumula o poder.
Num
terceiro passo vem a astúcia, o ser raposa para conhecer os fios da
trama, esse olhar de coruja, que nos tenta convencer, actuando na
face invisível do poder, nomeadamente para enganar o outro quanto à
identificação dos seus próprios interesses, ou criando, para esse outro,
interesses artificiais. Isto é, quando falha a comunicação pela palavra, mesmo
que reforçada pela autoridade, vem o engodo, a utilização da ideologia, da
propaganda ou do controlo da informação. O que pode passar pelo controlo do
programa de debates, com limitação da discussão ou evitando o completo
esclarecimento dos interesses das partes em confronto.
Excerto de um texto em que José Adelino Maltez, o nosso poeta do post anterior, (também investigador de ciência política, também professor universitário) analisa os princípios teóricos do sistema político na óptica de alguns autores que ele identifica no mesmo. Poderá lê-lo na íntegra aqui. Interessante o que se encontra escrito no topo: José Adelino Maltez, Tópicos Jurídicos e Políticos, estruturados em Dili, na ilha do nascer do sol, finais de 2008, revistos no exílio procurado da Ribeira do Tejo, começos de 2009.
De referir que no excerto que ora publico o itálico é do original.
Aproveitemos o ensejo e mergulhemos em mais um dos seus poemas:
Estar aqui
Estar aqui
e procurar descobrir
a minha própria procura.
Estar aqui e ficar à espera
do que o tempo me trouxer.
Não desesperar com a demora.
Seja o que Deus quiser!
a minha própria procura.
Estar aqui e ficar à espera
do que o tempo me trouxer.
Não desesperar com a demora.
Seja o que Deus quiser!
Cansa estar
aqui por estar apenas aqui,
nos meandros da procura,
procurando o meu porquê.
nos meandros da procura,
procurando o meu porquê.
Dar porquês
a cada momento, farta
.
Apetecia
ser um outro qualquer,
este lugar não ter de ser
e poder mudar meu tempo.
este lugar não ter de ser
e poder mudar meu tempo.
Porquê ter
de haver um sítio e um momento?
Para que servem coordenadas no espaço do pensamento?
Vivo, logo tenho que sonhar.
Para que servem coordenadas no espaço do pensamento?
Vivo, logo tenho que sonhar.
No próprio
tempo que tenho
procurar eternidade.
Ousar chegar mais além, na teia das palavras que procuro, aqui e agora.
procurar eternidade.
Ousar chegar mais além, na teia das palavras que procuro, aqui e agora.
Utopia não
há, nem vale a pena.
Sobretudo, para quem do poema faz
o seu próprio mais além.
O além de quem tem de estar aqui e agora e viver, o dia a dia.
Hora a hora, sagrar
o deus instante que Deus me deu.
Sobretudo, para quem do poema faz
o seu próprio mais além.
O além de quem tem de estar aqui e agora e viver, o dia a dia.
Hora a hora, sagrar
o deus instante que Deus me deu.
Viver tem
de ser
viver aqui e agora,
sem temer o que vai acontecer
depois de meu próprio morrer.
Porque apetece o perfume dos dias
e não cansar-me de procura.
A longo prazo só morrem
os que temem a própria morte.
Estar aqui e ser agora,
procurando descobrir os meandros da procura.
Ficar assim, hora a hora, à espera do tempo que vier.
Seja o que Deus, sem mais disser,
seja o que Deus quiser.
viver aqui e agora,
sem temer o que vai acontecer
depois de meu próprio morrer.
Porque apetece o perfume dos dias
e não cansar-me de procura.
A longo prazo só morrem
os que temem a própria morte.
Estar aqui e ser agora,
procurando descobrir os meandros da procura.
Ficar assim, hora a hora, à espera do tempo que vier.
Seja o que Deus, sem mais disser,
seja o que Deus quiser.
In: No princípio era o mar - p.9
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Imagem: aqui
Poema : daqui
" Estar aqui e SER agora é a nossa obrigação como cidadãos e ' " ser " agora, entendo que é participar, agir, olhar à nossa volta procurando ajudar, fazendo a nossa parte. Desejamos todos viver o nosso dia a dia em paz, cumprinfo as nossas obrigações, fazendo em cada dia algo de essencial, mas nem sempre nos permitem e chega a uma altura em que, perante tanta insensatez, perante tanto " palavreado " só nos resta dizer " seja o que Deus quiser " Olinda, muito obrigada ppr me dares a conhecer este senhor. Adorei o que escreveu e os belos poemas,este e o anterior. Muito bom, amiga! Espero que estejam todos bem, apesar do choque destes terriveis acontecimentos. Beijinhos
ResponderEliminarEmilia
Querida Emília
ResponderEliminarMuito obrigada pela tua presença aqui no Xaile e pela tua sensibilidade. "Estar aqui e ser agora" uma forma de dizermos presente e prestarmos de alguma forma socorro a quem está em aflição. Por exemplo, gostei de ver a solidariedade das pessoas para com os sobreviventes destes incêndios, cada um partilhando o que tem, com roupas, sapatos, cobertores...Empresas que levam parte daquilo que produzem. Pescadores com as suas sardinhas... Soube hoje de médicos que se voluntariaram para prestar assistência.
Cada pessoa na sua área, é uma dádiva para quem sofre nestes dias de desespero.
A máquina do Estado é muito pesada. As decisões levam tempo. A libertação de verbas para socorrer em casos de emergência leva uma eternidade não consentânea com as necessidades de quem perdeu tudo. E não devia ser assim. Numa guerra como esta há que ser célere.
Soube que na Galiza já foram aprovadas as indemnizações para as vítimas dos incêndios deste fim-de-semana. Que o crime para eventuais fogos postos já tem nome e promete mão pesada.
Espero que também estejas bem, junto à tua família.
Beijinhos
Olinda
O «post» é magistral...
ResponderEliminarDias melhores, forçosamente, chegarão...
Beijo
ResponderEliminarSim, também eu tenho essa esperança.
Muito obrigada, querida Ana.
Beijinhos
Olinda