quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Moeda de troca

Tempo. E se, de repente, o tempo passasse a ser a moeda de troca em todas as circunstâncias da nossa vida? O dinheiro deixaria de ser importante: para comer pagar-se-ia com Tempo; a casa, a luz, a água, a roupa, os sapatos, o carro, o combustível, o autocarro, enfim, tudo seria pago com a moeda Tempo.

In Time, com tradução para o português, Sem Tempo, é o nome do filme onde tudo isto se passa. Uma alteração genética leva a que o processo de envelhecimento pare nos 25 anos de vida. A partir desta idade ninguém morre, vive para sempre. Para impedir a superpopulação é criado um sistema em que pelo trabalho produzido recebe-se tempo...um relógio embutido na pele de um dos braços indica o tempo que cada um tem. Para não atrair a cupidez há uma manga ou um bocado tecido a esconder esta informação. Há pessoas que vivem no limite, com uma esperança de vida de um dia ou de apenas umas horas ou mesmo minutos. Tudo é feito a correr porque o tempo pode acabar de um momento para o outro. Há time zones ou portagens que separam o gueto da zona dos ricos que até jogam ao poker que pagam com Tempo. Por aqui se vê que há os pobres muito pobres sem tempo nenhum e que acabam por morrer onde quer que seja e há os ricos muito ricos que vivem para sempre e que controlam tudo. No meio, toda uma trama de corrupção para ganhar tempo, assaltos para roubar tempo, assassínios para espoliar os outros do tempo que têm.

Fui ver este filme. Impressionou-me. E se não estivermos tão longe de uma realidade como esta ou parecida? Presentemente, o tempo tornou-se um dado insidioso que já se entranhou nos interstícios mais escondidos da nossa vida e promete tornar-se ainda mais presente.


Convenceram-nos que podíamos todos ser proprietários, contraindo empréstimos para compra de casa própria a 60, 80 anos.Vivemos com o nosso tempo hipotecado, pagando os juros com anos de vida. Acabamos por morrer sem o que tal bem seja nosso ou então acabamos por ir para debaixo da ponte porque não conseguimos pagar os juros. Pagamos diariamente juros astronómicos de uma dívida soberana que vai crescendo crescendo na mesma proporção que o passar das horas, dos dias, dos anos. Juros a seis meses, a um ano, a dois, a dez, numa espiral incontrolável. O nosso dia-a-dia está comprometido e o nosso futuro como país na corda-bamba.
  
Lá está, há os pobres e os ricos...os pobres ou remediados que não têm para onde ir e os outros que sempre arranjam um qualquer paraíso ou alguma forma de se refugiarem em retiros sabáticos numa inimputabilidade espantosa...
  




Imagem do filme retirado do Google.

19 comentários:

  1. MUITO INTERESSANTES AS CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMPO OLINDA....PENSAMOS E TEMOS ESPERANÇA DE QUE AINDA SERÁ TEMPO DE MUDAR.....AINDA SABEMOS POUCO DESTA DIMENSÃO NÃO É AMIGA...E É MESMO IMPRESSIONANTE!!
    Beijos e me desculpa a falta de temp esta semana!!
    :D

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  2. Olinda, pagamos, pagamos, pagamos para ter... e parece que andamos como burro atrás da cenoura-tempo na esperança de, um dia, desfrutar...
    Beijinhos apressados,
    Madalena

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  3. A eterna busca pelo caminho do regresso, aquele que nos poderá conduzir de novo aos tempos da inocência.
    Aqueles que o conseguem achar, reencontram a imortalidade do paraíso, a verdadeira liberdade de viver sem sujeições.
    The return to innocence i supose, Olinda!
    http://www.youtube.com/watch?v=9-EJV47-Ltw
    ;)

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  4. Adorei o texto! Excelente ligação entre a mensagem que o filme nos transmite e o que vivemos actualmente. Todos nós pagamos quase tudo com tempo de vida, pouca coisa é realmente nossa. Enquanto que no filme há uma correria desenfreada por ganhar tempo de vida, nós, por mais que nos esforcemos, estamos destinados a desaparecer...o que ainda nos frustra mais. Para quê tanto sacrifício se tudo um dia acabará? Bem, suponho que seja para que o tempo que teremos aqui seja o melhor possível, com a qualidade e conforto que todos queremos.

    Mais uma vez, excelente texto...leva-nos a querer fazer uma reflexão de tudo aquilo que nos rodeia e o que realmente move o nosso mundo.

    Beijinhos,

    Isabel

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  5. Excelente, texto Olinda! É bom ter dinheiro, é bom ter conforto, é muito bom ter qualidade de vida, mas tudo isto deveria ser tentado com equilíbrio. Corremos atrás de tudo isso e conseguimos: sucesso na carreira, dinheiro mais do que suficiente, boas casas, optimos carros. Mas, onde está o tempo para desfrutar de tudo isso? Onde está o tempo para desfrutarmos da maravilha dos 1ºs passinhos do nosso filhos, do 1º dia de escola, das gargalhadas gostosas nas suas brincadeiras. Não vimos nem apreciámos nada disso; o tempo nos roubou esses momentos maravilhosos; roubou-nos também o convívio familiar, as conversas com os amigos, a visita àquele amigo que se foi e que, por incrivel que pareça conseguiu de nós o tempo necessário para o acompanhar à sua última morada. Onde fomos arranjar tempo para isso? onde estava esse tempo quando ele desejava se despedir de nós? Trocámo-lo por mais uns centavos no bolso com toda a certeza!
    E se me permite gostaria de deixar aqui uma mensagem sobre o tempo de Carlos Drummond de Andrade. Espero que goste, Olinda. Adorei esta sua publicação que mais uma vez nos deve fazer refletir na maneira como utilizamos o tempo que temos.

    Cortar o tempo

    "Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
    a que se deu o nome de ano,
    foi um indivíduo genial.

    Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

    Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
    Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente"
    Espero mesmo que, depois desta confusão global, tudo vá ser diferente. Beijinhos, amiga
    Emília

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  6. Deve ser um filme muito interessante.
    Pois é, tanta coisa que se paga que nunca é
    nossa...
    Tantos impostos, para cada vez usufruir menos...
    Beijinhos aniga,

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  7. Gostaria de lhe pedir umas informações sobre
    como colocar os links no sidebar, poderia
    dar-me por favor o seu email para o meu
    iriste@portugalmail.pt?
    Um beijinho
    Irene

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  8. Não vi o filme mas a reflexão que fazes no final é muito oportuna...
    Bj

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  9. Esse filme , pelo que diz, deve ser uma boa metáfora daquilo que hoje é a nossa sociedade.

    Bom fim de semana.

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  10. Sim, Carla, é sempre tempo de mudar. Pelo menos, devemos ter sempre esta esperança, não é?

    Bj

    Olinda

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  11. Olá, M.

    :) Cenoura-tempo...Uma bela imagem.

    Bj

    Olinda

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  12. Tens razão, Bartolomeu, talvez seja esse o caminho: o caminho da inocência, o regresso à pureza das coisas...

    Adorei o video. Obrigada.

    Abraço

    Olinda

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  13. Olá, Isabel

    Por vezes é preciso pararmos e tentarmos compreender o que se passa ao nosso redor.Depois, de um primeiro momento de desânimo chegamos à conclusão de que a vida vale a pena...

    Obrigada pela visita.

    Beijos.

    Olinda

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  14. Querida Emília

    Lindíssimo e cheio de significado o poema de Drummond de Andrade. É na renovação que encontramos o alento para enfrentar os desaires da vida.

    E é verdade, Emília, precisamos encontrar o equilíbrio entre as coisas materiais que adquirimos e aquilo que é indispensável para poder desfrutar o convívio da família e dos amigos: o tempo. Sem isso acabamos por viver num deserto de afeição e de companheirismo. Sendo nós animais gregários, acabamos por nos ressentirmos de tudo isso.

    Beijinhos e bom fim de semana.

    Olinda

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  15. É, Irene, sempre a pagar....:) Às vezes, nós é que temos a culpa de querer isto e aquilo. Naquilo que estiver nas nossas mãos devia haver um certo controlo da nossa parte, não é?

    Já respondi para o seu email. Espero que tenha conseguido inserir o que pretende, com as explicações muito pouco técnicas... :))

    Beijos

    Olinda

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  16. Obrigada, Blue Shell.

    Beijinhos e tudo de bom.

    Bom fim de semana

    Olinda

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  17. Olá, São

    Uma coisa assim no limite e, sim, uma boa metáfora.

    Bj

    Olinda

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  18. Querida Olinda, eu já li umas cinco vezes esse seu poste, e saltei-o, reparaste que eu ainda não havia comentado-o? E não foi de propósito, foi porque o tema é bem instigante e provocativo, e eu não sabia o que dizer. Mas hoje enchi-me de coragem e decidi que não mais fugiria dele. Sim, eu estava fugindo dele, rs.

    O filme me fez lembrar outros filmes, e leituras. O primeiro filme que recordei, foi o Blade Runner, o Caçador de Andróides (esse é o título em português do Brasil), que todos somos chipados, e como replicantes que somos, temos um tempo de vida, um tempo de validade, do tempo determinado que temos; trata dessa pós-modernidade e do homem, sujeito da cultura; já o viste? É um dos meus prediletos.

    Segundo filme: "The Curious Case of Benjamin Button", que tem como componente, o fenômeno da doença (?) que o fez rejuvenescer ao longo do tempo - outra vez o tempo, esse rígido elemento que (também) comanda a nossa vida -;

    aí eu entremeio com Nietzsche, que sabia-se mortal, mas queria a imortalidade da matéria, ou seja, pararíamos no tempo, eternizaríamos... E depois?

    e revi o livro do Jean Baudrillard, A Ilusão Vital, que também trata de imortalidade (além da clonagem). O filme que nos trouxeste, carrega a nossa fantasia da imortalidade, claro, sujeitos ao controle do estado, que nos introjeta um relógio, uma máquina qualquer que nos torna escravos do nosso próprio tempo e das nossas ambições... A morte da matéria, o fim do homem "como um acontecimento fatal ou simbólico, deve ser apagada. A morte deve passar a ser entendida como uma realidade virtual, como uma opção ou uma montagem cambiável no sistema operacional do ser vivo." Ufa! Como vês, o filme Sem Tempo, têm muito pano para mangas. Envolve discussões em torno de muitas dimensões, desde a tecnologia, à ética, política, justiça social, e outros conceitos mais. Entretanto não quero que meu comentário-tese lhe canse, e fico por aqui, risos.
    Mas foi um poste e tanto, obrigada!.

    Deixo um beijão enorme e agradecimentos pela sua sempre carinhosa e generosa presença no Canto, adoro lhe ver lá, e agradeço demais a virtualidade que me trouxe você!

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  19. Canto da Boca
    Mulher valente e prendada! :))
    Trouxeste-me elementos que vieram enriquecer-me a mim e ao tema do post.
    A imortalidade tem sido uma preocupação sempre presente no espírito do Homem. Muitos têm sido os estratagemas ou conceitos encontrados para inculcar ou defender esta tese, desde a ideia de imortalidade pelos feitos, pela bravura, pela arte, pela transmutação, pela reencarnação, pela clonagem (como bem referiste), esta última, uma das formas de pôr a ciência ao serviço dessa ambição, com tudo o poderá implicar em termos da invasão dos terrenos tão sensíveis quanto perigosos da ética.
    Não conhecia 'A Ilusão Fatal' de Jean Baudrillar, como vês, mais uma indicação que te devo... É em relação a este livro que falas da morte como uma realidade virtual, não é? Cada dia que passa, a forma de ver o mundo e a nossa faceta finita se torna mais sofisticada, saindo um pouco da versão filosófica que invadia a 'anima' e passando agora para um meio muito mais volátil como é a realidade virtual. Com tudo o que isso terá de bom e de mau se contarmos com as mentes brilhantes que tanto podem encaminhar estes conceitos para um lado como para outro…
    Dos filmes que referiste só vi "The Curious Case of Benjamin Button", um tempo que volta para trás ou ao princípio de tudo, imparável, dramático, impressionante. Através deste filme e de outros como ‘In Time’ se vê que o ‘tempo’ está e estará no centro das nossas preocupações tendo nós, como humanos, logo mortais, como empenho maior controlá-lo e levá-lo a reverter a nosso favor.
    A crer em Zaratustra, o tempo será um anel perfeito, sem princípio nem fim. Todas as coisas já aconteceram ou vão acontecer de novo. O eterno retorno. Será isto a felicidade ou o inferno?
    Minha querida, muito obrigada pelo teu comentário.
    Gostei muito.
    Beijinhos
    Olinda

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