sábado, 25 de abril de 2020

Pequena história - sem Abril

Muitas foram as conquistas que a Revolução de Abril de 1974 proporcionou à Mulher. Aliás, sem direitos quase nenhuns, estava-lhe reservado o papel de dona de casa e pouco mais. Completamente submetida ao marido, carecendo da sua autorização para se movimentar, para trabalhar, para viajar, para tomar posse dos seus bens, em caso disso, para respirar quase... 





Deixo-vos aqui uma pequena história, real, que me foi contada por pessoa amiga. Sem pormenores ou atavios:

Maria era a mais velha de nove irmãos. Em casa, o braço direito da mãe. Por morte do pai ela teve direito a herança de alguma monta. Aos 18 anos casou. Nunca foi herdeira de coisa nenhuma. O marido intitulava-se e intitulou-se toda a vida como herdeiro de Timóteo Henriques,* gerindo e vendendo as terras como lhe aprazia. Toda a vida calada, aos oitenta e seis anos desatou-se-lhe o subconsciente e entre o alzheimer e momentos de consciência dizia: este homem roubou-me as minhas terrasFaleceu em 2003. 
Para ela Abril nunca se cumpriu.





Casos que se desenrolam no tempo e que cerceiam à Mulher a liberdade de decidir da própria vida. Nem haverá lugar a perplexidades porque sabemos muito bem que a mentalidade não muda por decreto. 

No entanto
Sei do esplendor das coisas possíveis
E da decantação das horas.
E que o perfume das madrugadas
Se alimenta desta espera.
E desta teimosia.

E deste húmus.





Desejo-vos um Dia vivido em pleno! 

Que o 25 de Abril se manifeste em cada um dos nossos actos.

Abraços.






====

Excerto do Poema, MÍTICAS AURORAS - 25 de Abril, Sempre!, de Manuel Veiga, no seu blog - Perdoe-me o Autor a ousadia - Obrigada

Leiam, se lhes interessar, para reavivar a memória - aqui (Dossier)
Imagem: daqui

* Nome fictício

17 comentários:

  1. Algo de novo tinha que chegar. A evolução das Vidas não pode parar. Que a dignidade dos Seres seja colocada no trono em conjunto com as Pessoas.

    Beijo
    SOL

    ResponderEliminar
  2. Muito obrigada, Olinda, por este testemunho. A maioria das pessoas não faz ideia de como era a vida aqui no rectângulo.
    Obrigada pelo Zeca e pela fotografia no topo da montanha: poderia ser eu, gostaria de ser eu :))

    Bom 25!
    Abracinho
    🌻

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Maria

      Muito obrigada pela sua visita e comentário.

      Não encontrei o caminho para retribuir...

      Felicidades.

      Abraço

      Eliminar
    2. Olá Olinda,

      Não encontrou porque eu não tenho blog, sou só "comentadeira".
      Já a conheço há tempos e hoje resolvi comentar.

      Obrigada eu, pelo carinhoso acolhimento.

      Tudo de bom.
      Beijinho
      🌻

      Eliminar
  3. Profundas e reflexivas palavras! Que a data seja sempre lembrada!bjs, ótimo fds! chica

    ResponderEliminar
  4. Boa tarde de esperança, querida amiga Olinda!
    Que vídeo bonito que traz recordações na sua suavidade bonita!
    Quando por aqui a história da mulher, personifica uma gama de muitas outras na mesma situação.
    Adorei a veracidade do fato que não seja um decreto que mude a cena...
    E muito intrínseco tudo.
    Viva a liberdade sempre!
    Tenha dias abençoados junto aos seus amados!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

    ResponderEliminar
  5. Podia ser a história da minha sogra, se ela não tivesse morrido aos 43 anos segundo a certidão de óbito com uma embolia pulmonar. E digo segundo, porque embora fosse isso o que constava na certidão os filhos dizem que o que a matou, foi o marido ter vendido as terras que ela herdara, como se fossem dele,o filho ter sido destacado para a Guiné, e a filha ter casado e ter vindo viver para Paço de Arcos onde o marido vivia e trabalhava.
    A coitada, viu-se de repente, sozinha, com um homem que lhe roubara o que ela queria deixar aos filhos, que nunca lhe deu mostras de amor e longe dos dois filhos que eram o seu grande amor e o seu apoio. Morreu 7 anos antes do 25 de Abril.
    Abraço e bom fim de semana

    ResponderEliminar
  6. Boa tarde:- Felizmente que o 25 de Abril abriu novas mentalidades. A mulher é hoje em dia, como não podia deixar de ser, uma peça fundamental, com todo o direito à igualdade com o homem, na harmonia do mundo.

    Felizmente, sempre direi... felizmente
    .
    Feliz fim de semana
    Viva a liberdade de um Povo

    ResponderEliminar
  7. Gostei muito de ler a sua fascinante publicação. Obrigada
    Viva a Liberdade! :)
    -
    As palavras que me apraz dizer...
    -
    Beijos e um excelente feriado. "Mas, em casa!"

    ResponderEliminar
  8. Há tantas histórias assim, minha querida Olinda. Os direitos iguais, as oportunidades iguais, o poder ser dona da sua vida ainda é utopia para muitas mulheres. A história que conta é comovente. Fez bem em "roubar" o poema ao Manuel Veiga. Ele conhece as palavras certas para dizer…
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  9. Querida Olinda, um facto que nos conta muito real na vida das mulheres antes do 25 de Abril e, não estarei muito errada se disser que ainda hoje muitas delas vivem situações semelhantes. Aproveito o comentário da nossa Amiga Elvira, para nele acrescentar que conheci muitas mulheres como a sogra dela e a lista seria grande,. Posso deixar aqui o caso da minha avó paterna; teve 12 filhos e era considerada uma simples empregada do meu avó; o que mais me chocava quando a casa deles ia, era ver o meu avó a comer sozinho na sala de jantar e filhos e mulher todos na cozinha sendo a comida muito diferente, especial para o senhor da casa. Apesar de tudo, foi muito bem cuidado pela minha avó que viveu quase até aos 90 e ele até pouco mais dos 70, tendo ficado acamado e a precisar de cuidados. Admirei sempre muito a minha avó por ter tido a capacidade de perdoar; para o meu avó os amigos estavam acima da mulher e dos filhos, mas, quando ficou doente, ninguém aparecia...só interesseiros cercavam o meu avô. Olinda, querida, obrigada pelo post retratando a vida das mulheres, as que mais sofriam nesses tempos. Espero que estejam todos bem e que este dia tão importante seja lembrado da melhor maneira possivel. Um abraço do tamanho do mundo
    Emilia

    ResponderEliminar
  10. Parabéns pela sua celebração do 25 de Abril: está muito original
    e tão discreta que eu nem dava por ela...

    E reconheci o poeta pelos versos.

    Dias de serena conformação.

    Beijinhos, Olinda.
    ~~~~~

    ResponderEliminar
  11. muito obrigado, amiga Olinda
    por mais esta manifestação de apreço pela minha poesia

    quero dizer-lhe que me é muito grato
    sentir as minhas palavras assim envolvidas num texto tão lúcido e tão oportuno, como é a causa da denominada "emancipação feminina".

    bem haja!

    abraço

    ResponderEliminar
  12. Para muitos, parece ser tão fácil falar do passado com saudosismo, sem pararem para pensar no caricato do que estão a defender.

    Uma vez mais, uma bela publicação, a referir um dos muitos pontos que brotaram do pós 25 de abril de 1974.

    Um marido que dispunha dos bens desta sem carecer autorização e com poder correctivo qual pater famílias de outros tempos.

    Abraço e obrigado

    ResponderEliminar
  13. Cheguei. É sempre tempo de celebrar Abril, não é verdade, querida Olinda?
    A verdade é que ainda hoje há cenas de poder absoluto. E há homens que lutam ao nosso lado. Há, de facto,"o esplendor das coisas possíveis".
    As palavras de Manuel Veiga sublinham uma publicação bela e esclarecida.
    Terno abraço, minha amiga. Viva Abril|

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É mesmo, querida Teresa.
      Na celebração de Abril o tempo não conta.
      Os momentos são sempre propícios.
      E é um prazer imenso vê-la aqui com estas belas palavras.

      Beijinhos
      Olinda

      Eliminar