segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen

Iremos juntos sozinhos pela areia
Embalados no dia
Colhendo as algas roxas e os corais
Que na praia deixou a maré cheia.

As palavras que disseres e que eu disser
Serão somente as palavras que há nas coisas
Virás comigo desumanamente
Como vêm as ondas com o vento.

O belo dia liso como um linho
Interminável será sem um defeito
Cheio de imagens e conhecimento.


in No Tempo Dividido, 1954






Façamos de conta que este poema é uma carta de amor, obedecendo ao tema proposto. Penso reconhecer-lhe juras e propósitos afins. 

Não resisto e transcrevo mais este poema:

Assim o amor
Espantando meu olhar com teus cabelos
Espantando meu olhar com teus cavalos
E grandes praias fluidas avenidas
Tardes que oscilavam demoradas
E um confuso rumor de obscuras vidas
E o tempo sentado no limiar dos campos
Com seu fuso sua faca e seus novelos

Em vão busquei eterna luz precisa


in Geografia, 1967





Sobre a autora, Sophia de Mello Breyner Andresen, li hoje a notícia de que está a circular por aí um poema apócrifo, de nome O Mar dos meus olhos. Não o transcrevo para não aumentar a proliferação, se for o caso. Consta que a filha tem procurado desfazer o equivoco, mas é uma luta desigual.


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Poema transcritos - daqui (BN)
Imagem daqui
Video youtube
Notícia aqui

4 comentários:

  1. O mar da poeta
    é incomensurável

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  2. Leio sempre com bastante prazer os poemas de Sophia Andresen,
    hoje preparei uma postagem em sua homenagem...
    Beijinhos, estimada Amiga.
    ~~~~

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  3. Ler a Sophia faz-me sempre bem. Claro que pode ser uma carta de amor, já que não interessa a forma mas o conteúdo…
    Um dia bom, minha Amiga Olinda.
    Um beijo.

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  4. Realmente são poemas de amor, dedicados. Como missivas.
    Na poesia de Sophia abre-se um tempo novo.
    Belíssimo post, querida Olinda!

    Beijo meu.

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