domingo, 3 de fevereiro de 2019

Deixa-me falar-te de amor

Nesta era em que tudo é fabricado, em que nada é natural, em que nada é puro; em que os primeiros beijos se trocam por telemóvel, se fala por sms e os ditos «encontros românticos» acontecem no cinema, entre um balde de pipocas e um copo de coca-cola, nesta era, que já não é minha, já não é tua, já nem é nossa; deixa-me falar-te de amor. Não quero falar deste «amor» novo, feito de «roda-bota-fora», que nasce podre e é vazio. Não te quero falar do amor para passar tempo, que se joga na Internet; nem daquele que se conhece num bar ou numa discoteca. 

Não: deixa-me falar-te de amor como o conheço, da mesma forma lamechas e (hoje) tão fora de moda; a mesma que te ensinaram os teus pais ou os teus avós; como era antigamente, quando passeavam junto ao rio, por vezes de mãos dadas, e coravam ainda, se encontravam alguma cara conhecida. Deixa-me falar-te do amor que me ensinaste. O amor que me ensinaste começou por um acaso, porque, por acaso, eu estava sozinha e tu também. O amor que me ensinaste não foi cozinhado nem confeccionado a propósito. 



No nosso amor, tu dás-me a mão e eu coro; convidas-me para sair e eu hesito; brincas com os meus caracóis e eu gosto; bebemos chá e ficamos ébrios; passeamos à beira-rio e pode ser que nos beijemos. No nosso amor, não somos só amantes, mas somos cúmplices. E companheiros. Olhas para mim e lês-me nas entrelinhas. Olho para ti e sei-te de cor. Sorrio e mergulhas nesse sorriso. Abraças-me e absorves-me inteira. Dizes-me «amo-te» e eu acredito. 
O amor que me ensinaste é puro, é natural, é biológico, sem corantes nem conservantes. Mas deixa-me contar-te um segredo: nesta era, que já não é minha, já não é tua, já nem é nossa; o nosso amor, ainda encanta! 

Ana Rita da Silva Freitas Rocha,

 in 'Textos de Amor – Museu Nacional da Imprensa' *


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Texto classificado como Carta de amor - Citador

*Concurso Textos de Amor:

Imagem: daqui 

7 comentários:

  1. Gostei do texto, embora a palavra 'era' me soe como uma
    hipérbole exagerada...
    O romantismo é inerente à juventude, em todos os tempos...
    Não há muito tempo, clamava-se contra os guedelhudos
    rockeiros...
    Beijinhos, estimada Olinda.
    ~~~~

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  2. Gostei do texto. Romântica que sou, ele tocou-me a memória que foi até onde o pensamento permitiu…
    Um grande beijo minha Amiga Olinda.

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  3. Será que não existe ainda esse modo de amar?


    Abraço, com votos de semana boa

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  4. O amor descobre-se um dia e vida passa a encantar- nos tanto! Essa é a razao desta linda carta.

    Beijinho, querida Olinda.

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  5. Boa noite, querida amiga Olinda!
    Já havia lido seu post excelente, mas devido a um luto familiar, não pude comentar na hora.
    Sabe, amiga, o contato físico pessoal é indispensável... o passeio de braço dado... o toque tímido com respeito... certos carinhos pertinentes e pessoais.
    O virtual não nos daria a dimensão exata da intensidade... seria o tal do amor platônico adolescente onde tudono ocorre nas nuvens...
    Você foi intercalando sabiamente o real do provável...
    Acontece tudo no imaginário, mas a cumplicidade e perseverança no Amor vai com o tempo na vida real... nos encontros fortuitos no início ou depois...
    Tudo tão lindo!
    Sou romântica à moda antiga, amiga .
    Felicidades e bênçãos para você!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
    🙏😘😘😘

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