I
Dá-me lírios, lírios,
E rosas também.
Mas se não tens lírios
Nem rosas a dar-me,
Tem vontade ao menos
De me dar os lírios
E também as rosas.
Basta-me a vontade,
Que tens, se a tiveres,
De me dar os lírios
E as rosas também,
E terei os lírios —
Os melhores lírios —
E as melhores rosas
Sem receber nada.
A não ser a prenda
Da tua vontade
De me dares lírios
E rosas também.
II
Usas um vestido
Que é uma lembrança
Para o meu coração.
Usou-o outrora
Alguém que me ficou
Lembrada sem vista.
Tudo na vida
Se faz por recordações.
Ama-se por memória.
Certa mulher faz-nos ternura
Por um gesto que lembra a nossa mãe.
Certa rapariga faz-nos alegria
Por falar como a nossa irmã.
Certa criança arranca-nos da desatenção
Porque amámos uma mulher parecida com ela
Quando éramos jovens e não lhe falávamos.
Tudo é assim, mais ou menos,
O coração anda aos trambulhões.
Viver é desencontrar-se consigo mesmo.
No fim de tudo, se tiver sono, dormirei.
Mas gostava de te encontrar e que falássemos.
Estou certo que simpatizaríamos um com o outro.
Mas se não nos encontrarmos, guardarei o momento
Em que pensei que nos poderíamos encontrar.
Guardo tudo,
(Guardo as cartas que me escrevem,
Guardo até as cartas que não me escrevem —
Santo Deus, a gente guarda tudo mesmo que não queira,
E o teu vestido azulinho, meu Deus, se eu te pudesse atrair
Através dele até mim!
Enfim, tudo pode ser...
És tão nova — tão jovem, como diria o Ricardo Reis —
E a minha visão de ti explode literariamente,
E deito-me para trás na praia e rio como um elemental inferior,
Arre, sentir cansa, e a vida é quente quando o sol está alto.
Boa noite na Austrália!
Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 106
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Este poema, lindíssimo, "Dá-me lírios, lírios/E rosas também", foi-me indicado por pessoa amiga. E fui à procura dele. Mas, surpresa das surpresas para mim, tem uma segunda parte, que também transcrevo, numa toada completamente diferente mas não menos belo. (Um dia hei-de folhear o livro onde se encontra inserido).
E assim, sem mais, termina com "Boa noite na Austrália!". Ou teria alguma razão de ser no momento em que o poeta escrevera o poema?
Na actualidade, na Austrália pessoas e animais atravessam momentos aflitivos, martirizados por incêndios sem fim à vista. E a terra privada do seu húmus, secada até às entranhas.
Se a esperança é a ultima a morrer...parece que já não restará muito mais.
E assim, sem mais, termina com "Boa noite na Austrália!". Ou teria alguma razão de ser no momento em que o poeta escrevera o poema?
Na actualidade, na Austrália pessoas e animais atravessam momentos aflitivos, martirizados por incêndios sem fim à vista. E a terra privada do seu húmus, secada até às entranhas.
Se a esperança é a ultima a morrer...parece que já não restará muito mais.
Boa segunda-feira, meus amigos
Abraços.
Versão da bela canção de Roberto de Carlos, por
Raquel Tavares, fadista, que decidiu interromper ou pôr fim à sua carreira musical.
Desejo que ela encontre o caminho que deseja percorrer e por que tanto anseia
Desejo que ela encontre o caminho que deseja percorrer e por que tanto anseia
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O título do post - 23.Esperança - Tal como aparece na fonte
Subtítulo - POEMA DE CANÇÃO SOBRE A ESPERANÇA - daqui
O interessante é que há outro poema, provavelmente também de
Álvaro de Campos, com este título: DAI-ME ROSAS e LÍRIOS,
Noutra ocasião, trá-lo-ei aqui para o Xaile..
Imagem - pixabaySubtítulo - POEMA DE CANÇÃO SOBRE A ESPERANÇA - daqui
O interessante é que há outro poema, provavelmente também de
Álvaro de Campos, com este título: DAI-ME ROSAS e LÍRIOS,
Noutra ocasião, trá-lo-ei aqui para o Xaile..
Lindos os poemas e parece veio a calhar com a situação na Austrália onde esperança não pode faltar! Tristeza! bjs, chica
ResponderEliminarObrigada pelos belos poemas . Austrália não terá uma 'boa noite', mas a esperança como bem diz ainda resiste.
ResponderEliminarQuerida Emília
ResponderEliminarPenso que eliminei o teu lindo comentário, sem querer.
Devo ter carregado no sítio errado e, pronto, já se
sabe, depois disso não se consegue anular o gesto.
Peço-te mil desculpas.
Beijinhos
Olinda
Querida Olinda, não tem importância nenhuma. As novas tecnologias pregam-nos dessas partidas e não há nada a fazer. Comigo já aconteceram coisas parecidas. Um beijinho e até breve.
EliminarEmilia
Um poema lindo pelas palavras e pela mensagem... que continua muito atual... algo vale pela vontade em dar/fazer e o mundo necessita desse espírito.
ResponderEliminarCusta-me ver o que se passa na Austrália, tinha esperança de terem maior capacidade de resposta.
Beijinhos
Ler Álvaro de Campos é sempre como se fosse a primeira vez. Gostei imenso do poema "dai-me lírios e rosas também". O outro poema deixou-me encantada.
ResponderEliminar"Tudo na vida
Se faz por recordações.
Ama-se por memória." É tão verdade isto…
Que a esperança esteja com os australianos porque bem precisam dela para acreditarem que aquilo que lá se passa não é o inferno…
Uma beijo, minha Amiga Olinda.
São dois poemas mimosos que dizem do que poderia ter sido e não foi. É um diálogo interior como um sonho que advém do desejo.
ResponderEliminarO sonho de ir à Austrália também parecia longínquo e agora, com ele, ardemos um pouco.
Muito adequado o tema e bela voz de Raquel Tavares. Terá as suas razões para mudar de vida.
Grande abraço, querida amiga Olinda.
Querida Olinda
ResponderEliminarQue maravilhoso poema!
Deliciei-me a lê-lo.
Refiro-me ao primeiro, embora o segundo seja igualmente belo.
É claro que a vida é feita, essencialmente, de recordações.
Que seria de nós (de mim...) se não fossem as recordações? É através delas, e por elas, que os nossos entes queridos continuam connosco, acompanhando-nos a passo e passo.
Continuação de boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Uma escolha perfeita, os dois poemas são lindos, conhecia apenas o primeiro.
ResponderEliminarOlinda, desejo-lhe um ano 2020 pleno de tudo de bom.
Beijinhos
Gostei muito desta postagem muito equilibrada e harmoniosa.
ResponderEliminarPorém, na verdade, não simpatizo com a personalidade criada por Pessoa para Álvaro de Campos... 'Carpe diem!'
Compreendo que os heterónimos eram personalidades do seu tempo.
Não sabia que Raquel Tavares tinha interrompido a carreira, lamento, gosto de ouvir a sua bela voz de contralto.
Dias de Janeiro muito confortáveis.
Beijinhos, querida Amiga.
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1 - que sempre tenha, minha amiga, "lírios e rosas para dar..."
ResponderEliminare muitos mais para receber...
2 - o "coração anda aos trambulhões" é mesmo de guardadores de rebanhos (Caeiro), dos contadores de estrelas e ... e dos poetas, está claro.
pelo menos daqueles que não tecem loas a eles próprios.
apreciei imenso, Olinda, esta magnífica partilha.
excelente a música.
abraço
Molto bello il video, non la conoscevo.
ResponderEliminarBuona giornata.
Embora o meu preferido seja o Alberto Caeiro, gosto bastante do Álvaro de Campos.
ResponderEliminarGosto imenso de ouvir a Raquel Tavares e fiquei bastante surpreendida com a notícia do seu abandono da carreira artística, mas ela lá saberá das suas razões, e as pessoas só devem fazer o que as torna completas e felizes.
Abraço
Bela escolha dos poemas, minha amiga Olinda!
ResponderEliminarÉ sempre prazeroso ler os nossos poetas.
Quanto à decisão de Raquel Tavares, lamento porque lhe reconheço talento, aceito porque não deve ser fácil a vida na ribalta.
Beijo, querida amiga.