sexta-feira, 4 de março de 2016

A Ponte

Diante de mim, a escuridão. A voragem
Que não tem cimo e que nem sequer tem margem
Lá estava, sombria, imensa; nada nela mexia.
Perdido no mundo infinito eu me sentia.
Ao longe, através da sombra, impenetrável véu,
Entrevia-se Deus, pálida estrela no céu.
Clamei: - Ó alma, alma minha! eu precisava,
Para atravessar o abismo cujo fim não vislumbrava,
E para durante a noite até Deus eu ascender,
De construir uma ponte e em mil arcos a estender.
Quem o conseguirá? Ninguém!ó dor! tormento!
Chora! - Um fantasma branco ergueu-se no momento
Em que à sombra um olhar de temor eu deitava.
A forma de uma lágrima esse fantasma mostrava;
Tinha uma fronte de virgem e duas mãos de criança;
Lembrava um lírio que toda a brancura alcança;
As suas duas mãos juntas acendiam uma luz.
Apontou o abismo onde tudo a pó se reduz,
Tão fundo que nem o eco aí segue a sua lei,
E disse-me: - Se quiseres, a ponte construirei.
Para o desconhecido ergui meus olhos do chão.
-Como te chamas? perguntei. Respondeu: - A oração.

Victor Hugo 
(1802-1885)
Poemas
(Selecção e tradução de Manuela Parreira da Silva)

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Olá, Amigos.
Sejamos construtores de pontes.
Muito obrigada pela vossa presença e simpáticas mensagens.
Um abraço

12 comentários:

  1. Engraçado. Acabamos de dar Victor Hugo na aula de literatura portuguesa. Não faz muito sentido eu sei, mas a professora que está dando o romantismo, resolveu contrapor alguns escritores estrangeiros para comparação com os nossos. Assim vimos Almeida Garrett versos Victor Hugo.
    Um abraço.

    Nota: Fico contente com o seu regresso

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  2. Bom regresso à minha escarpa

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  3. Que bom que regressaste, querida Olinda!
    Belo e pensativo poema de V. Hugo...

    Um beijo amigo

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  4. A ponte é uma metáfora muito bonita. Une dois opostos. Bom regresso, minha querida.
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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  5. Ainda bem que está de regresso.
    Bjs

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  6. Minha amiga nesta altura da minha vida, em que de um momento para o outro o meu genro deu entrada no IPO, com uma doença bem grave, estou mesmo precisando dessas pontes, pontes de oração e esperança.
    Beijinhos
    Maria

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  7. Seguiu email. A Elvira é a filha mais velha do Manuel. Logo a do meio, na foto.
    Um abraço e bom fim de semana

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  8. Olá, Olinda.
    Agora parecemos em conexão. Isto vai bem =)
    Bonito poema para a trazer de regresso: que possamos concretizar a construção de nossas pontes.
    bj amg

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  9. ~~~
    Muito bem vinda, querida Olinda!

    ~~ Já VH fazia notar falta de pontes
    -indispensáveis aos seres humanos-
    no belo poema citado, com bom gosto.

    ~ Sim, é preciso construir pontes
    e, de boa vontade, quero contribuir.

    ~~~ Abraço amigo. ~~~~~~~~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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  10. E agora gostaria de uma ponte que rapidamente me levasse até aí para te dar um abraço e te dizer, com o meu melhor sorriso que estou muito feliz com a tua volta. Não tenho essa capacidade, mas sei que o meu coração a tem e , mal soube o teu regresso voou ate ai ,,aconchegou-se nesse xailinho macio; depositou nele uma braçada de rosas de cores variadas e juntinho um lindo cesto de beijos carregadinho, Amiga, estou muito feliz por teres voltado e espero que estejas bem. Até breve!
    Emilia

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  11. Vivemos uma época onde só se pensa em construir muros. São levantados por qualquer motivo, afastando as pessoas. Como são belas as pontes! E quando não encontramos meios para vencer os desafios, basta orar. A oração é caminho. Bjs.

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  12. Estou a construir neste momento uma ponte por cima de um muro que não cessa de querer bloquear o meu caminho

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