domingo, 15 de novembro de 2015

Onde se situará a cura para o fanatismo?

O fanatismo é para a superstição o que o delírio é para a febre, o que é a raiva para a cólera. Aquele que tem êxtases, visões, que considera os sonhos como realidades e as imaginações como profecias é um entusiasta; aquele que alimenta a sua loucura com a morte é um fanático.

Pequeno excerto de um grande texto de Voltaire, onde ele prevê e aconselha a cura para essa doença detestável através da assumpção do espírito filosófico, devidamente difundido, para adoçar a índole dos homens. Ele refere que as leis e a religião não não suficientes para a cura dessas almas doentes, aliás, a religião longe de ser para eles um alimento salutar, transforma-se em veneno nos cérebros infeccionados.

Ele recorda  o fanatismo dos burgueses da noite de São Bartolomeu e o massacre ocorrido, bem como o fanatismo de juízes que condenam à morte aqueles cujo único crime é não pensar como eles, de convulsionários que, falando dos milagres de S. Páris, sem querer se acaloravam cada vez mais; os seus olhos encarniçavam-se, os seus membros tremiam, o furor desfigurava os seus rostos e teriam morto quem quer que os houvesse contrariado.

São os velhacos que conduzem os fanáticos -diz elee que lhes põem o punhal nas mãos. Assemelham-se a esse Velho da Montanha que fazia - segundo se diz - imbecis gozarem as alegrias do paraíso e que lhes prometia uma eternidade desses prazeres que lhes havia feito provar com a condição de assassinarem todos aqueles que ele lhes apontasse.

E ele coloca esta questão fulcral:Que responder a um homem que vos diz que prefere obedecer a Deus a obedecer aos homens e que, consequentemente, está certo de merecer o céu se vos degolar?

E assim estamos nós como na noite dos tempos, como se nascêssemos agora, não com aquela pureza própria da infância, mas velhos por dentro sem nada termos aprendido sem nada para dar. Andamos às arrecuas, vazios, estupefactos, interrogando-nos sobre o porquê das coisas. Nós que já pensávamos ter chegado a um estádio tal de evolução que não era preciso mais nada, teremos agora de rever tudo e voltar ao princípio de tudo.




Talvez assim a minha Paris, a minha bela cidade, se revigore depois desta tragédia. Talvez assim nos reencontraremos num domingo de manhã numa esplanada a conversar, sem medos, gozando este sol outonal vindo dos céus. Meu Deus, o que será preciso fazer para que se instale a paz nos nossos corações? Será o espírito filosófico, no sentido de nos interrogarmos de modo a encontrarmos respostas para os nossos males, o suficiente? 

Uma coisa é certa: há que não baralhar situações. Há os fanáticos que atacam e matam indiscriminadamente e há aqueles que precisam do nosso apoio e da nossa solidariedade. Estou a falar dos refugiados, como é natural. Se conseguirmos distinguir isso, nesta confusão de sentimentos que nos assola, então poderemos dormir descansados, na certeza de que, afinal, esses séculos vividos sempre serviram para alguma coisa. 

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Ler o texto em itálico, na íntegra, aqui 

16 comentários:

  1. Eu penso que a humanidade nunca evoluirá de maneira certa, porque em qualquer ponto da sua evolução inventou uma coisa que se chama dinheiro, e descobriu o poder que isso dá. Aí nesse ponto a humanidade deixou de evoluir.
    Um abraço e bom domingo.

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  2. Que abram os olhos os inocentes
    em vida
    e se lute contra os miseráveis mercados da guerra

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  3. ~~~
    ~ De facto, a Europa também passou pela fase do fanatismo...

    ~ Os membros deste auto-proclamado estado, não praticam

    o Islamismo, nem a Jihad; na realidade, são apenas terroristas.

    A solução está somente na educação, que não deve concentrar-

    -se na Escola, mas abranger a comunidade e a ocupação dos

    tempos livres dos jovens.

    ~ Paris já viu correr muito sangue... Irá recompor-se...

    ~ ~ Está um ''post'' muito inteligente e interessante. ~ ~

    ~~ Apesar dos pesares, que seja uma boa semana. ~~

    ~~~~ Beijinhos, Olinda. ~~~~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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  4. Eu sempre detestei fanatismos religiosos, mas os que eu conhecia era totalmente inocentes. Neste caso, há um pretexto religioso para o domínio e o poder, e para enfiar ideias mortíferas em mentes frágeis e revoltadas. Espero que haja uma solução!
    Beijinhos

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  5. Eu pasmo como é que o Islamismo que na Idade Média Europeia estava muito mais avançado em termos de civilização do que o Cristianismo , está ele próprio agora, em parte, contaminado por selvagens que assassinam a frio e com tiros pelas costas duzentas crianças sírias de um só vez!!!

    De qualquer modo e por muito que nos doa, temos que reconhecer a responsabilidade do Ocidente em toda esta tragédia : quem atacou com base em mentiras o Iraque? Quem treinou e financiou Bin Laden ? Quem vende armas ? Quem compra as antiguidades ? Quem adquire o petróleo ?

    Gostei muito do texto.

    Que, apesar de tudo, a semana seja agradável, minha amiga

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  6. As pessoas exageram demasiado e em vez de pensar nos próximos, pensam apenas no seu interesse e fazem tudo para isso. Nada de respeito ou humanidade.

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  7. Olinda, não conseguimos entender o fanatismo. E creio que, por trás dele há interesses escusos. Os últimos acontecimentos nos deixaram atônitos. Fico pensando em quem os arma e com que fim. No fundo, há uma luta pelo poder, que desconsidera os seres humanos e suas necessidades. O mundo está de pernas para o ar, distante dos caminhos que poderiam levá-lo à paz. Uma excelente postagem. Bjs.

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  8. Destaco uma coisa que sucedeu em Paris nessa noite: houve pessoas que colocaram no twitter a hashtag porteouverte, com indicação da sua morada, para que quem não pudesse voltar para casa naquela noite tivesse onde se abrigar.
    Beijinhos :)

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  9. Olá, Olinda!

    Como está? Espero k bem, graças a Deus.

    Pois, logo o título da sua publicação, que é uma pergunta dá k pensar, mas resposta para ela?
    O texto de Voltaire, k já li na íntegra, no Citador, é extremamente inteligente e lúcido, mas o k devemos nós fazer para atenuar esta obsessão, e como devemos proceder em situações desta natureza? Prevenção? É mto insuficiente e não dá resultados, pke os fanáticos dão a vida por uma causa, k julgam suprema e santa.

    Como tão bem sabe, há vários tipos de fanatismo (político, religioso, artístico, desportivo, etc.), sendo, no entanto, o religioso o mais perigoso e o k mais danos causa.
    A palavra tem origem no latim "fanaticus" k significa pertencentes ao templo, aos deuses e pela etimologia, talvez possamos chegar a alguma conclusão. Os fanáticos religiosos matam, mas também querem morrer, portanto querem venerar um deus e dele serem os seus mais fiéis servos, os seus soldados, em linguagem belicista.

    À luz da Psicologia, eles são vistos como pessoas que se sentem inseguras, e que só alcançam a segurança, matando e morrendo. Qdo atuam em grupo e com explosivos à cintura, costumam dar as mãos, antes de ser acionado o sistema k os conduzirá ao paraíso e onde não sei qtas mulheres novas e virgens, os esperam. Não vou classificar isto!

    Pensando no mundo ocidental e no poder político, penso que eles, direta ou indiretamente, são minimamente responsáveis por algumas destas atitudes, mas 95% está-lhes no sangue, árabe, naturalmente. Assim sendo, não posso concordar com a teoria de Jean-Jacques Rousseau: o Homem nasce naturalmente bom, mas depois é a sociedade k o estraga e o corrompe.

    Conheço razoavelmente bem o caráter do povo árabe, falo dos do norte de África, mas eles são todos iguais na essência e já tenho tido episódios sui generis com eles, e um, com o dobro da minha idade, já "provou" o peso da minha mão.

    A vida para o povo Árabe não tem, em geral valor e este lema passa de pais para filhos.
    Se lhe dermos algum dinheiro, tornam-se nossos "escravos", ao ponto de qdo está calor, nos abanarem com folhas de palmeira durante largo tempo. Isto é apenas, um exemplo dos mtos k aqui poderia citar, mas, agora, estamos a falar de coisas mto mais sérias e penosas.

    Se Deus quiser, Paris, voltará a ter o encanto k sempre teve, pke Paris é Paris!

    Resto de boa semana.

    Beijos.

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  10. Não tenho respostas para nada, amiga. Mas que algo se passa de estranho na cabeça
    de algumas pessoas, passa!!!
    Quando se perde amor à própria vida como se pode respeitar a vida dos outros?
    Depois os interesses económicos que vão fechando os olhos consoante os seus
    interesses, também têm muita culpa na situação a que chegámos.
    Como sair disto?
    Como ter paz no mundo?
    Como dar de comer a tantos famintos?
    Como acabar com certas seitas?
    Tanto sangue derramado em tantos países...
    Guerra...Guerra...Guerra...
    O coração dos homens é uma pedra?
    Deixaram de ter sensibilidade?
    Não sei.
    Sei que não gosto nada do que está a
    acontecer.
    Bjs.
    Irene Alves


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  11. As pessoas estão muito individualistas.... Bjbj Lisette.

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  12. É realmente necessário não confundir Fanáticos Assassinos com Refugiados que fogem para fugir da guerra e viver em Paz .

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  13. Mandei-lhe um mail. Espero que goste.
    E no Sexto há movo desenvolvimento do conto.
    Um abraço

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  14. Atrevo-me a acrescentar um pormenor ao comentário do grande Voltaire e dizer que, neste caso, a religião não é apenas veneno, é o combustível para a monstruosidade. Andei todo o fim-de-semana atarantada, como se o mundo estivesse ao contrário, o medo invadiu o meu sossego. E agora, com a retaliação da França, o que acontecerá? Uma espiral de violência sem nexo?!
    Abraço, Olinda.
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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  15. «Nós que já pensávamos ter chegado a um estádio tal de evolução que não era preciso mais nada» - esse estádio nunca se alcançará, cara Olinda! O ser humano não aprendeu nada ainda e dificilmente aprenderá :(

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