Um povo deve apropriar-se da sua cultura e fazer dela o seu estandarte. Revolver a terra à procura dos valores da sua ascendência e beber as ideias emanadas desde o princípio dos tempos. Despir-se de roupagens culturais trazidas pelo opressor numa assimilação imposta e eliminar em si próprio todos os resquícios externos fazendo nascer um homem novo. Amílcar Cabral acreditava neste paradigma, não propriamente com estas palavras, mas de forma sistemática e com uma fundamentação político-filosófica de mestre.
Qual a realidade geográfica e mental que ele tinha em vista? Pergunta retórica... Era a Guiné e, paradoxalmente, unido a Cabo Verde. Espaços geográficos diferentes e mentalidades diferentes e já com desinteligências no terreno de quase-séculos. Mas não é aqui que reside o propósito desta reflexão. É dentro da própria Guiné onde existia uma grande diversidade de povos, com as suas diferenças e as suas querelas ancestrais (R.Pélissier). Onde seria necessário encontrar um denominador comum que servisse de elo, numa noção de corpo e de nação trilhando os mesmos caminhos. Tê-lo-á descoberto Cabral? Talvez. Contudo, sabemos que ele não pôde consolidar e pôr em prática as suas ideias. Um tempo que lhe foi roubado.
Hoje sentimo-nos perplexos perante a instabilidade na Guiné-Bissau. Ali, todas as situações são consideradas de ruptura, não prevalecendo o diálogo e a procura do caminho ideal para que o país possa prosseguir em paz. Fazem-se perguntas. Apontam-se motivos. Soluções, não se vislumbram.
Voltando a Cabral, mas com a adaptação necessária a estes tempos, há que dar pequenos passos, indo buscar ao passado elementos culturais válidos, como o amor arreigado à terra, no sentido de serem ultrapassadas as diferenças para a construção do país com o contributo de todos.
Li num jornal, há uns dois dias, que, em Bissau, os rapazes mais velhos, perante a falência de um outro modelo, transmitem aos mais novos o 'a,e,i,o,u', reunindo-se para isso debaixo de uma mangueira. E eles dão-lhe um nome:'escola bas di pe di mango'. Só interrompem quando a isso são obrigados pelo barulho das armas. Mas o sonho não morre, diz o articulista.
O povo que sofre já está a dar o exemplo.
Qual a realidade geográfica e mental que ele tinha em vista? Pergunta retórica... Era a Guiné e, paradoxalmente, unido a Cabo Verde. Espaços geográficos diferentes e mentalidades diferentes e já com desinteligências no terreno de quase-séculos. Mas não é aqui que reside o propósito desta reflexão. É dentro da própria Guiné onde existia uma grande diversidade de povos, com as suas diferenças e as suas querelas ancestrais (R.Pélissier). Onde seria necessário encontrar um denominador comum que servisse de elo, numa noção de corpo e de nação trilhando os mesmos caminhos. Tê-lo-á descoberto Cabral? Talvez. Contudo, sabemos que ele não pôde consolidar e pôr em prática as suas ideias. Um tempo que lhe foi roubado.
Hoje sentimo-nos perplexos perante a instabilidade na Guiné-Bissau. Ali, todas as situações são consideradas de ruptura, não prevalecendo o diálogo e a procura do caminho ideal para que o país possa prosseguir em paz. Fazem-se perguntas. Apontam-se motivos. Soluções, não se vislumbram.
Voltando a Cabral, mas com a adaptação necessária a estes tempos, há que dar pequenos passos, indo buscar ao passado elementos culturais válidos, como o amor arreigado à terra, no sentido de serem ultrapassadas as diferenças para a construção do país com o contributo de todos.
Li num jornal, há uns dois dias, que, em Bissau, os rapazes mais velhos, perante a falência de um outro modelo, transmitem aos mais novos o 'a,e,i,o,u', reunindo-se para isso debaixo de uma mangueira. E eles dão-lhe um nome:'escola bas di pe di mango'. Só interrompem quando a isso são obrigados pelo barulho das armas. Mas o sonho não morre, diz o articulista.
O povo que sofre já está a dar o exemplo.
Houve um político português no século xix que disse que um país só é livre se o seu povo for instruído.
ResponderEliminarGeralmente, quem detém o Poder não está muito interessado nisso, pois uma pessoa instruída pensa...e pensar é perigoso.
As divergêndias da Guiné( e não9 passame pela maneira como os colinizadores da civilizada Europa construíram os países africanos segundo os seus proprios interesses.
A falta de respeito pela cultura locak tem um paradigma perfeito no pelourinho da Cidade Velha, em Santiago(Cabo Verde).
Um óptimo dia, querida Olonda
Querida São
EliminarRealmente, a partilha de África em 1884/1885, na Conferência de Berlim,criou fossos intransponíveis para os africanos.Eles viram-se reduzidos no seu espaço vital, com etnias separadas e culturas misturadas. Uma partilha de gabinete, feita a régua e esquadro, sem respeito pelos seres humanos naturais dessas regiões.
O Pelourinho da Cidade Velha, em Cabo Verde, é igual a tantos outros pelourinhos,infelizmente, um local privilegiado para a exibição da 'mercadoria', os escravos. Testemunha de grande sofrimento e tortura.
Obrigada pelo seu contributo.
Beijinhos
Olinda
É preciso acreditar num paradigma, que permita construir um sonho possível de se tornar realidade... assim seja encontrado o "denominador comum que sirva de elo" e que permita conciliar esse amor arreigado à terra, com os desejo de modernidade, a vontade de prosperar e agenuína identidade de um país.
ResponderEliminarO rumo que a historia escolher, nos dirá, minha Amiga Olinda.
Caro Bartolomeu
EliminarSim, concordo contigo,é preciso acreditar. Que o amor à terra, apanágio antigos dos povos da Guiné,recobre de energia e conduza a uma paz efectiva, trilhando os caminhos do progresso.
Abraço.
Olinda
Amilcar Cabral
ResponderEliminaruma referência inestimável
Amilcar Cabral
ResponderEliminaruma referência inestimável
Uma figura ímpar a quem muito devem a Guiné e Cabo Verde.
EliminarAbraço.
Olinda
Boa Tarde Amiga!
ResponderEliminarHoje em especial
Parei um pouquinho
Para trazer o meu carinho.
E apenas lhe dizer muito simplistamente,
Muito Obrigado!
Obrigado por tudo, que Deus esteja sempre com você hoje e sempre e sempre...
Com todo o meu carinho o meu grande Abraço.
Maria Alice
Querida Maria Alice
EliminarMuito obrigada por ter vindo até aqui. A sua presença é sempre bem-vinda e as suas palavras trazem-nos esperança e alegria.
Beijos
Olinda
Olinda, Querida
ResponderEliminarO problema da Guiné é a diversificação de etnias, contadas por dezenas.
Amílcar Cabral conseguiu uma certa coesão pelas circunstâncias duma época (anos sessenta)e pela doutrinação que estava sendo apoiada do exterior e levada a cabo pelos insurgentes de então.
O terreno da propaganda é fértil, quando as promessas de colheitas são feitas por entidades que os Guineenses consideravam mais instruídos.
Os Cabo-verdianos eram mais uma diferença que eles não desejavam assimilar.
Entretanto, os que apoiaram a descolonização estão postos de lado e os Cartéis da Droga fazem o papel então atribuído a potências estrangeiras que, agora, após o fim da Guerra Fria, não aparecem.
Os Portugueses, através de ONGS (ex.: Ajuda Amiga - Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento
Pessoa Colectiva de Utilidade Pública NIPC: 508617910
ONGD - Organização Não Governamental para o Desenvolvimento
Sede Provisória
Rua do Alecrim, 8, 1º Dto.
2770 - 007 Paço de Arcos
NIB:
Contactos:
E-mail: ajudaamiga2008@yahoo.com
Telemóvel: 966 651 820 [Carlos Silva])
Vai canalizando material escolar, roupas, etc.
Nesta altura, está sendo distribuído material de ajuda no interior da Guiné.
Aceitam donativos e material escolar mesmo que antigo, tipo Cartilha Maternal.
Beijos
SOL
http://acordarsonhando.blogspot.pt/
Olá, Sol da Esteva
EliminarSim, umas quarenta etnias num espaço relativamente pequeno.
Verifica-se que a Guiné-Bissau ainda não conseguiu fazer as opções necessárias à sua independência em todos os planos. Esperemos que um consenso possa nascer e que não tenham de recorrer a ‘golpes’ para resolverem os seus diferendos.
Obrigada, Sol, por este comentário que veio complementar o meu post e também pelo endereço da ONG.Felizmente há pessoas que demonstram como a solidariedade não é palavra vã.
Abraço
Olinda
Querida Olinda:
ResponderEliminarTalvez o sonho de Amilcar Cabral, seja só sonho. Aqui onde vivo, vivem muitos originais da Guiné. Nota-se bem a diferença de etnias, de hábitos, de tradições.
Deve ser difícil, uma conciliação justa de e para, todos.
Gostava de estar enganada. Para mim, a paz no Mundo inteiro, seria linda. Sabemos que nunca será possível. A Paz na Guiné, era talvez possível, com Cabral. Conseguiu um grande consenso. Mas não há ninguém, para o substituir, infelizmente.
Obrigada, por este texto tão bonito. Como era bom que a realidade fosse igual.
Maria
Querida Maria
EliminarTambém acho que o Grande Projecto de A.Cabral era um Sonho lindo, mas infelizmente não lhe deram tempo para o pôr em prática. Não há dúvida que isso seria uma obra hercúlea e Deus sabe até teria podido ir, com tantas diferenças e ventos contrários.
A Paz mundial, uma jóia tão desejada e tão difícil de alcançar. Mas façamos de contas que sim, que bastaria congregar a boa vontade de todos os Homens e Mulheres para que isso fosse possível... :)
Beijinhos
Olinda
Olinda, espero não destoar do assunto.
ResponderEliminarMas penso eu: E O BRASIL?
O Brasil deu certo como nação?
Ou ainda somos adolescentes querendo ser gente grande?
Então, temos que pensar no contexto. Pois a Guiné está na convulsiva África. África tão sofrida, tão seca, por vezes estéril, e onde governos sanguinários, tribais e opressores estão lá há séculos.
No caso do Brasil, mais decepções do que glórias!
Isso é o que sinto.
Não conheço Guiné Bissau, porém dentro deste imenso país chamado Brasil, há várias "Guiné Bissau".
Isso Olinda, pode crer no que te digo. Só sei que é doloroso!
Um abraço. Beijos.
Meu caro Antônio
EliminarNunca destoa. As suas palavras revelam sempre a preocupação de quem se interessa pelos problemas globais e especificamente pelos do seu país, o Brasil.Fico-lhe sempre agradecida pelos seus comentários cheios de sensibilidade e coerência.
Pois é verdade, meu amigo, infelizmente a insanidade grassa por este mundo fora e os povos é que sofrem as consequências. Muitos vivem sem o mínimo para levar uma vida digna e muitas vezes privados da sua dignidade como seres humanos. E isso dói!
Grande abraço, meu amigo.
Olinda
Nunca vivi em África, mas tenho um apreço especial pela cultura e literatura. «Senti» de perto Cabo Verde através de Manuel Ferreira, meu querido professor. Naquele tempo, a visão era essa a de Amílcar - uma certa ligação à Guiné. Mas é como diz, as diferenças emergiam.
ResponderEliminarO que se passa na Guiné, o que se passa um pouco em toda a parte bem o caracterizou Pepetela em A MONTANHA DA ÁGUA LILÁS.
Beijinho.
Querida Ana
EliminarEu também sinto Cabo Verde como algo muito precioso nos seus poetas, nas suas gentes, na sua morabeza, no seu chão.
Como bem diz, as diferenças em relação à união dos destinos da Guiné e Cabo Verde começaram a emergir especialmente depois da morte de Cabral e mais ainda depois das respectivas independências, já sem a sua acção catalisadora.
Não conhecia esse livro de Pepetela, vou procurá-lo, fiquei interessada. Dele já li outros, entre eles, Yaka, muito interessante.
Beijos
Olinda
Querida Olinda
ResponderEliminarGostei muito desta tua reflexão sobre a Guiné.
Vivi dois anos em Cabo Verde; da Guiné conheço apenas o aeroporto, onde permaneci por duas horas no meu regresso de Cabo Verde :)
O sonho de Amílcar Cabral não passou, (nem passará tão cedo, assim o acredito), de um sonho.
Há demasiadas etnias, com demasiadas diferenças, para que possa haver concordância entre eles. Talvez... talvez decorrida uma ou duas gerações essas diferenças se atenuem e eles possam, finalmente, encontrar um consenso que lhes permita viver em paz. Talvez quando vingar essa filosofia do 'escola bas di pe di mango'...
Bom fim de semana, minha querida.
Beijinhos
Minha querida Mariazinha
EliminarCom que então já viveste em Cabo Verde! :) Gostei muito de saber isso.
O Sonho de A.Cabral era um desejo muito querido que acalentava em seu coração, penso eu. Nasceu em Bafatá-Guiné, de pai caboverdiano e mãe guineense. Foi ainda pequenino (8 anos) para Cabo Verde e lá cresceu.Licenciou-se em Agronomia em Lisboa onde tomou contacto com os ideais políticos da época.Depois foi para a Guiné como funcionário, trabalhando na sua área. Ali começou a ver as dificuldades daquela terra, fundou o PAIGC, vendo-se logo a sua preocupação em juntar C.Verde nesse projecto de libertação. Claro que são factos conhecidos de todos. Refiro-os apenas para assinalar como ele se sentia parte integrante tanto da Guiné como de Cabo Verde. O seu sonho não se concretizou. Nem tão pouco a Guiné conseguiu encontrar, ainda, a via certa rumo à paz e ao progresso.
Façamos votos para que isso aconteça em breve.
Beijinhos.
Olinda