WALDECK
Teu marido abjurou.
GERTRUD VON UTRECHT
O Senhor lhe pedirá contas, como mas vai pedir a mim, a ti, bispo, quando chegar a tua vez.
Mas eu perguntarei ao juízo de Deus por que permite Ele esta mortandade dos homens que vem desde o princípio do mundo,
Estes ódios de crenças, estas vinganças de povos, esta interminável dor do mundo,
A quem não basta a morte natural.
WALDECK
Abjura.
GERTRUD VON UTRECHT
Abjuro da intolerância, abjuro dos males que pratiquei e permiti, abjuro de mim, quando culpada, e dos meus erros.
Mas não abjurarei da minha crença, porque só a tenho a ela.
Sem uma crença o ser humano é nada.
WALDECK
Matem-na.
(Os soldados matam GERTRUD VON UTRECHT. O bispo WALDECK e a sua comitiva retiram-se. Escurece. Uma luz vermelha incide sobre as gaiolas, que começam a ser subidas lentamente. Os soldados vão e vêm, matando os feridos. A luz diminui cada vez mais. Um a um, terminada a tarefa, os soldados retiram-se. A escuridão torna-se total quando o último vai desaparecer.)
VOZ RECITANTE
Eis a palavra de Daniel:
"E ouvi jurar o homem vestido de linho, que estava sobre as águas do rio, levantando ao céu a mão esquerda assim como a mão direita: "Por Aquele que vive eternamente, isto será num tempo, tempos e metade de um tempo. Primeiro, a força do povo há-de quebrar-se inteiramente. Então todas as coisas se cumprirão."
José Saramago - In: In Nomine Dei, pgs 146/147
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IN NOMINE DEI, peça de Teatro baseada na:
Revolta de Münster, tentativa dos anabaptistas de estabelecer uma teocracia na cidade alemã de Münster, na Vestfália.
A rebelião durou de Fevereiro de 1534 a Junho de 1535. Sob a liderança de John de Leyden, que afirmava ter sido inspirado diretamente por visões divinas, a cidade foi administrada pelo terror e a poligamia legalizada. Ocupada por seu ex-arcebispo em Junho de 1535 os líderes foram condenados à morte.
A revolta de Münster deixou uma imagem deplorável do anabaptismo, embora essa comunidade religiosa se engajasse na não-violência absoluta.
A revolta serviu de inspiração para muitas obras literárias e cinematográficas. aqui
de 1534 (gravura de 1535).
A dramaturgia: Uma das vertentes da obra de Saramago.
De Duarte Ivo Cruz, excerto de uma análise: admite-se que incompleta mas sempre válida (na minha opinião), acerca da dramaturgia de Saramago, tal como deve ser citada.
Como referi, efetivamente Saramago, depois da adaptação, com Costa Ferreira, de um conto seu (“Fim de Paciência”) escreveu, a partir de 1970, peças que trazem para cena temários dominantes do autor:
“A Noite” (1979), visão realista da noite de 25 de abril de 1974 numa redação de jornal, “Que Farei com Este Livro” (1980) onde o protagonista, mais do que Camões é “Os Lusíadas” e alegorias heterodoxa e azedas, “A Segunda Vida de Francisco de Assis” e “In Nomine Dei”, ambas reflexo das angústias do autor.
E acrescento agora “Don Giovanni ou O Dissoluto Absurdo” datada esta publicação de 2005. aqui
J.S.Bach (1685-1750)
Sonatas para Flauta
Nota:
Ano da Celebração do Centenário de José Saramago.
Pequena incursão pela sua Obra, tal como
em posts anteriores.
Olinda
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1ª Imagem:
Gaiolas nas quais os corpos dos líderes da revolta de Münster foram expostos, no campanário da Igreja de Saint-Lambert.
Boa tarde Olinda,
ResponderEliminarComo gostei de ler este excerto da peça de Saramago. Confesso que desconhecia esta sua vertente dramaturga, mas fiquei impressionada e gostei muito.
Obrigada por estes momentos culturais tão edificantes que connosco partilha.
Um beijinho e continuação de boa semana.
Ailime
Sua chamada "pequena incursão" pela obra do grande escritor ficou excelente, Olinda. Uma rica homenagem para a celebração de seu centenário. O vídeo, também aplaudo. Abraço.
ResponderEliminarBoa tarde, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarTem tanta "substância" escrita aqui...
"Sem uma crença o ser humano é nada."
Em contrapartida, vê-se verdades incontestáveis:
"Esta mortandade dos homens que vem desde o princípio do mundo,
Estes ódios de crenças, estas vinganças de povos, esta interminável dor do mundo,
A quem não basta a morte natural.
Guerras e mau guerras "em nome de Deus", em nome do petróleo, em nome do poder desenfreado...
Enfim, intolerâncias e males ainda reinam "normalmente" na humanidade.
Vou ver os links indicados, amiga.
As crenças fortalecem nossos dias se não forem radicais.
O extremismo causa uma vida sôfrega.
Deus não adere as violências de nenhuma espécie.
Tenha dias abençoados!
Beijinhos com carinho fraterno
😘🕊️💙💐
*guerras e mais guerras
EliminarNão conheço Saramago como dramaturgo mas tenho pena!
ResponderEliminarAbraço
Saramago deixou-nos uma obra notável em várias vertentes da escrita.
ResponderEliminarNão foi por acaso que lhe atribuíram o prémio Nobel.
Excelente post, gostei de ler.
Continuação de boa semana, amiga Olinda.
Um beijo.
Olinda, um bom sábado...
ResponderEliminarSaramago, escritor que li alguns livros e gosto muito. Ótimo post, bonita celebração do Centenário.
Abçs... Muita paz e saúde...
Olá Olinda!
ResponderEliminarSaramago, deixou-nos uma obra extraordinária.
Desejo-lhe uma semana repleta de luz
Abraços Loiva
Em Nome de Deus, mas sobretudo em nosso nome, Saramago esmerou-se em boa conta. Daí resultou numa Obras notável.
ResponderEliminarHonra e Glória.
Beijo
SOL da Esteva
Uma extraordinária e completa forma de homenagear o Centenário de José Saramago.
ResponderEliminarBeijos e suaves brisas plenas de harmonia e paz
Passei para ver as novidades.
ResponderEliminarAproveito para lhe desejar uma boa semana, amiga Olinda.
Um abraço.
Parabéns pela postagem. Bom compartilhar. Bjs querida
ResponderEliminarMagnífica homenagem ao nosso Nobel.
ResponderEliminarAqui aprendo sempre. Gostei, amiga!
Beijo, boa semana.
Fantástico!!! Bela homenagem ao grande Saramago. Parabéns!
ResponderEliminarUm beijo
Uma excelente postagem, amei!
ResponderEliminarVotos de saúde e paz
Beijinhos e ótima semana.
Não sabia que Saramago também fazia dramaturgia, texto impecável, gostei muito, Olinda. Beijos ;) https://costuraerasga.blogspot.com/
ResponderEliminarBelo post que nos convida a descobrir a dramaturgia de Saramago.
ResponderEliminarIrei procurar "A Noite" para ler.
Desejo-lhe uma boa semana!
Muito boa tarde!
boa incursão, sem duvida, de quem domina o assunto
ResponderEliminarabraço
O grande Saramago, e que obra maravilhosa nos deixou!
ResponderEliminarEsses escritores não morrem, vivem em suas obras e essas
vivem em nós.
Será sempre muito lembrado e reverenciado, aí e aqui!
Belíssima postagem, minha querida Olinda!
Aplausos!
Beijinho.
É um facto que, em nome de Deus, muitos crimes se cometeram ao longo da história. E não há volta a dar a isso, a não ser dizer que não era essa a intenção de quem pregou a Boa Nova.
ResponderEliminarAbraço amigo.
Juvenal Nunes