Um pouco à deriva, de joelhos dobrados, com estranhos cá dentro de casa a mandar e a desmandar pensei que jamais conseguiria soerguer-me sequer. Uns atrás dos outros, praticamente da mesma família, eles foram surgindo cada um impondo o seu ponto de vista e as suas exigências, aproveitando as brechas que eu não tapei.
O tempo foi passando, com tudo a cair aos pedaços já não me reconhecia a mim nem aos meus. Passaram-se sessenta anos, mais ou menos, sobre a data em que o meu rei-menino, a minha esperança, resolvera ir perecer, levando as melhores promessas do meu reino, lá por terras de África. Chegou uma altura em que parei para pensar e perguntar-me para que lado é que eu queria ir. Aguentei até quase me faltarem as forças, mas ainda tive as suficientes para levantar a cabeça, endireitar o tronco e fazer-me ouvir.
Ainda consegui reunir umas quantas cabeças pensantes. Conjugando esforços, delineando metas e o futuro próximo, gritámos: basta! Refiz a minha independência, não foi fácil tudo o que se seguiu, mas recomecei a pensar por mim mesmo e a trabalhar para reerguer todo o edifício que estava quase em ruínas.
Hoje, parece-me, sigo pelo mesmo caminho. São outros tempos, as coisas acontecem com uma velocidade estranhíssima. O que é hoje uma coisa amanhã já não é. As alianças que se fazem presentemente têm o valor de coisa nenhuma. Outros são os senhores do mundo. Os paradigmas são outros. A democracia, em todo o espaço em que eu estou inserido, apresenta-se periclitante. Com o presente e o futuro comprometidos, pergunto-me: Conseguirei levantar-me de novo?