Há oito meses dissemos: – Até logo! Era uma tarde fria de Novembro uma tarde como qualquer outra gente regressando a casa do trabalho lancheiras malas rugas profundas no rosto.
Se houvesse malas de mão para a saudade a desventura não havia malas no mundo que chegassem…
Era uma tarde fria de Novembro. Não sei se alguém sorriu do beijo que trocámos. – Até logo – disseste.
Depois passaram oito meses os meses mais compridos que tenho encontrado.
Que pensamentos levava comigo? Sei que disseste «até logo» E era como se levasse as tuas mãos Abertas sobre o meu peito.
Pensava que só nas despedidas breves por horas se dizia «até logo» como a alguém que parte «boa viagem» ou ao nosso companheiro «bom trabalho».
Mas já passaram oito meses duzentos e quarenta dias cinco mil e setecentas horas. Porque disseste «Até logo»?
Se eu não soubesse aprenderia que na minha pátria os namorados dizem «até logo» e estão meses anos por vezes não voltam mais.
Fecham-nos atrás de grades de ferro espancam-nos matam-nos devagar e não permitem que apareçam «logo».
Amiga o ódio que trago armazenado destas noite de insónia e abandono dou-o à luta. Mas temos que sofrer sofrer deveras. Até que um dia Os homens cantarão livres como os pássaros
os namorados beijarão sem pressa e as palavras «até logo» quererão dizer simplesmente «até logo»
António Borges Coelho, historiador, poeta e teatrólogo português. Catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tem diversos títulos publicados sobre história medieval e começos da Idade Moderna.
Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Lisboa, doutorado em História Moderna com um estudo sobre a Inquisição de Évora, foi docente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, especializado na área da História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa.
Colaborou em várias publicações periódicas com estudos históricos; efetuou traduções de obras filosóficas e históricas; dirigiu a revista História Sociedade. No domínio da investigação histórica, revelou-se com A Revolução de 1383, numa tentativa de caracterização dessa crise sociopolítica a partir de uma perspetiva baseada no materialismo histórico.Ver aqui
Pela primeira vez na forma de bailado, o romance de Eça de Queirós estreia-se no Teatro Camões a 16 de Outubro, estando previstas dez apresentações, até dia 26 do mesmo mês. É uma criação de Fernando Duarte, coreógrafo e director artístico da CNB, um bailado em três actos que conta a trágica história do amor incestuoso de Carlos da Maia e Maria Eduarda.
Foi o que eu li e ouvi ontem.
Também vi alguns passos na Tv2 o que aguçou a minha curiosidade. O romance de costumes de Eça de Queirós, em passos de dança, estreia absoluta. O que diria Eça perante tal representação artística, ele que tinha sempre uma palavra a dizer acerca do que se passava na sociedade lisboeta?
Senhor de uma Obra gigantesca, sendo "Os Maias" uma das mais conhecidas, publicada em 1888. Esta trata da história de três gerações da Família Maia, na qual vemos desenrolar a tragédia de Carlos e Maria Eduarda, irmãos, mas também temos contacto com personagens que agilizam a trama como o retórico João da Ega e o Eusebiozinho, representante da educação tradicional e retrógrada portuguesa.
O autor inicia o livro com a descrição da Casa do Ramalhete que nada tem de campestre e fresco, antes pelo contrário de ambiente bastante escuro e pouco apelativo. Apesar do tema delicado, vemos que ao longo da obra não perde a oportunidade de aplicar a sua fina ironia e crítica na leitura das situações que se apresentam nas reuniões burguesas da Lisboa do século XIX.
Vieram muitos à procura de pasto traziam olhos rasos da poeira e da sede e o gado perdido.
Vieram muitos à promessa de pasto de capim gordo das tranqüilas águas do lago. Vieram de mãos vazias mas olhos de sede e sandálias gastas da procura de pasto.
Ficaram pouco tempo mas todo o pasto se gastou na sede enquanto a massambala crescia a olhos nus.
Partiram com olhos rasos de pasto limpos de poeira levaram o gado gordo e as raparigas.
De alguns dos excelentes poemas de Ana Paula Tavares que já publiquei, optei por republicar "Vieram muitos" por me lembrar a luta do povo Kuvale do sul de Angola, povo esse registado por Ruy Duarte de Carvalho, em "Vou lá visitar pastores". Também Pepetela dedica algumas páginas no seu livro "Yaka", ao drama desse povo.
Ana Paula Tavares, angolana, escritora, historiadora, cuja biografia consta já no Xaile de Seda, conta com uma obra de respeito e já tive oportunidade de falar sobre ela e, como disse acima, de publicar poemas seus. Portanto, não me surpreendeu que o júri do Prémio Camões lhe tivesse atribuído o mais alto galardão de literatura em língua portuguesa.
Aproveito para deixar aqui mais um dos seus poemas, que muito aprecio:
José Luís Marques Peixoto ( 04/09/1974) é um escritor, dramaturgo e poeta português,
cuja primeira obra foi publicada em 2000. Com apenas 27 anos, José Luís Peixoto foi o mais jovem vencedor de sempre do Prémio Literário José Saramago. Desde esse reconhecimento, a sua obra tem recebido amplo destaque nacional e internacional. Os seus livros estão traduzidos e publicados em 26 idiomas. Foi o primeiro autor de língua portuguesa a ser traduzido e publicado na Arménia (Morreste-me, 2019), na Geórgia (Galveias, 2017) e na Mongólia (A Mãe que Chovia, 2016).aqui
um amante e o seu único amor, caminhando devagar(pensamento no pensamento) por alguma verde misteriosa terra
até o meu segundo sonho começar— o céu é agreste de folhas;que dançam e dançando arrebatam(e arrebatando rodopiam sobre um rapaz e uma rapariga que se assustam)
mas essa mera fúria cedo se tornou silêncio:em mais vasto sempre quem dois pequeninos seres dormem(bonecas lado a lado) imóveis sob a mágica
para sempre caindo neve. E então este sonhador chorou:e então ela rapidamente sonhou um sonho de primavera —onde tu e eu estamos a florescer
in "livrodepoemas" Tradução de Cecília Rego Pinheiro
Edward Estlin Cummings (1894-1962), usualmente abreviado como e. e. cummings, em minúsculas, como o poeta assinava e publicava, foi um poeta, pintor, ensaísta, autor e dramaturgo americano.
...No momento de sua morte, Cummings era reconhecido como o "segundo poeta mais lido nos Estados Unidos, depois de Robert Frost".
Ricardo Reis (19 de setembro de 1887) é um dos quatro heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa, tendo sido imaginado de relance pelo poeta em 1913 quando lhe veio à ideia escrever uns poemas de índole pagã.
Um Outono metafórico como imaginária é a figura de Lídia. Mas a realidade é bem diferente. O nosso Outono já deu entrada neste nosso hemisfério, mais precisamente por cá. Tempinho fresco, mas a prometer calor lá mais para a frente, e alguma chuva que não chega para apagar os incêndios que já voltaram.
Mas tenho umas belas palavras, do nosso poeta Luís Rodrigues, que tomo a liberdade de transcrever:
O Outono
é um lugar só nosso
onde guardamos a beleza
das estações da vida
L.R.
Abraços. meus amigos.
Olinda
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13-6-1930
Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).
- 120.
1ª publ. in Presença , nº 31/32. Coimbra: Mar./Jun. 1931.
Vive o instante que passa. Vive-o intensamente até à última gota de sangue. É um instante banal, nada há nele que o distinga de mil outros instantes vividos. E no entanto ele é o único por ser irrepetível e isso o distingue de qualquer outro. Porque nunca mais ele será o mesmo nem tu que o estás vivendo. Absorve-o todo em ti, impregna-te dele e que ele não seja pois em vão no dar-se-te todo a ti. Olha o sol difícil entre as nuvens, respira à profundidade de ti, ouve o vento. Escuta as vozes longínquas de crianças, o ruído de um motor que passa na estrada, o silêncio que isso envolve e que fica. E pensa-te a ti que disso te apercebes, sê vivo aí, pensa-te vivo aí, sente-te aí. E que nada se perca infinitesimalmente no mundo que vives e na pessoa que és. Assim o dom estúpido e miraculoso da vida não será a estupidez maior de o não teres cumprido integralmente, de o teres desperdiçado numa vida que terá fim. Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente IV'
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Aldeia de Melo - a aldeia eterna, no dizer de Vergílio Ferreira. É lá que está a decorrer o Festival Literário designado "Em nome da Terra", de 11 a 15 do corrente mês de Setembro, celebração das palavras e da memória.
Inspirado no legado literário e na dimensão interartística da escrita de Vergílio Ferreira, o festival inclui propostas para públicos de todas as idades onde se incluem conversas com escritores, oficinas criativas, visitas às escolas, sessões de mediação de leitura, formação para docentes, apresentação de livros, música ao vivo, cinema documental, exposições e performances literárias.
uma coreografia de autor em que se reconhece o caminho já andado, mas onde a montanha se faz vale, ou seja, acolhe-se num múltiplo eu em busca do outro.
o que em Manuel Veiga é um destino sem cenários vagos.
Amigos, eu não me esqueci. Disse aquando das respostas ao quiz sobre África que, depois, falaria de um dos países que ali apareceram. E esse país é a Etiópia, que prefiro tratar por Abissínia.
Falar da Abissínia, do Império Etíope, é falar de um império* que nunca foi colonizado. Na altura da partilha de África, na Conferência de Berlim, de 1884-1885, os países que tomaram parte nesse acontecimento em função dos conflitos pela posse desse continente, traçaram praticamente a régua e esquadro os espaços que lhes interessavam, separando culturas e etnias. Começaria então a colonização propriamente dita.
E falo da Abissínia porque ela é considerada o "berço da humanidade". Ali foram encontrados os mais antigos vestígios da nossa evolução.
Não sei se estarão lembrados de "Lucy" um fóssil de Australopithecus afarensis de 3,2 milhões de anos, descoberto em 1974 pelo professor Donald Johanson, um norte americano antropólogo e curador do museu de Cleveland de História Natural e pelo estudante Tom Gray em Hadar, no deserto de Afar, na Etiópia.
A título de curiosidade, há notícias do passado mês de Agosto de que os fragmentos de Lucy e Selam, esta, uma criança que terá vivido 100 mil anos antes de Lucy, estão expostos, por 60 dias, no Museu Nacional Tchecode Praga, isto é, pela primeira vez na Europa. aqui
Castelo do rei Fasilides, 1632 e 1667
A Etiópia, Abissínia (assim grafado no exterior), é um pais independente desde a antiguidade, donde se pensa ter saído o homo sapiens. Encravada no Corno África, faz fronteira com o Sudão e com o Sudão do Sul a oeste, com o Djibuti e a Eritreia ao norte, com a Somália ao leste, e o Quênia ao sul. Sua capital é a cidade de Adis Abeba.
Este é apenas um apontamento. Quem quiser saber mais sobre África poderá consultar a obra de Joseph Ki-Zerbo, "História da África Negra" em 2 volumes, em que desmistifica a ideia de que África não tem história.
*A Libéria também não foi colonizado por europeus. Foi fundada por escravosamericanos libertos com a ajuda de uma organização privada chamada American Colonization Society, entre 1821 e 1822, (ver aqui)
**Os fragmentos de Lucy tomaram esse nome proveniente da canção dos Beatles, "Lucy in the sky with Diamonds. Motivo: Durante as escavações os arqueólogos estavam a ouvir essa canção.
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,
“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).
- 46.
“O Guardador de Rebanhos”. 1ª publ. in Athena, nº 4. Lisboa: Jan. 1925.