Imbuída das melhores intenções, preparei o papel, o tinteiro, a caneta com o aparo, e dispus-me a iniciar a minha escrita, procurando não esquecer aquilo que tinha em mente, e que era deixar bem explícitos os sentimentos em questão.
Contudo, alguma hesitação me tolheu a inspiração. E se não conseguisse dizer tudo, se a minha expressão escrita não fosse suficiente, dado os meus verdes anos? Talvez cara-a-cara fosse mais fácil...mas não era por aí, como verão mais adiante.
Com toda a concentração, inclinada sobre o lado direito, com o braço em toda a sua extensão bem apoiado na mesa, uma pontinha da língua sobre o lábio inferior, para a esquerda, fazendo com o aparo uma força enorme sobre o papel, comecei a missiva.
Fiz saber ao príncipe encantado que não devia preocupar-se, que estava tudo bem, que era correspondido e para provar isso escrever-lhe-ia uma carta sempre que o barco aportasse na vila. E estaria à espera do carteiro no portão, mesmo desobedecendo às indicações superiores. Para não se atrapalhar porque estava tudo encarreirado como ele queria.
Penso que não podia ter feito melhor. Estava lá tudo. Com alguns riscos e emendas, reconheço. Mas nas voltas das linhas e entrelinhas terá acontecido algo imprevisível que ainda hoje não sei explicar. O rapaz ficou ofendido, por algum motivo obscuro, a ponto de devolver as outras cartas com ameaças de acabar o namoro.
Mortificadíssima, eu. Desfiz-me em desculpas perante a Josefa, auxiliar da farmácia local, que me tinha prometido uma caixinha vazia, muito mimosa, para pôr os meus lápis, se lhe escrevesse uma carta com todos os rr e ss.
Acho que fiz mais do que isso, empenhei-me e dediquei-me ao máximo, a palavra atrapalhar não tinha nada de mais, e do alto dos meus oito anos senti-me injustiçada.
Olinda
Tony de Matos
O Eterno
Cantor Romântico
MEUS AMIGOS:
Normalmente só escrevo algo na abertura e encerramento desta série. Mas, desta vez, fiz este pequeno texto para participar no desafio do amigo Juvenal Nunes, na 2ª Celebração de S. Valentim, "A Seta de Cupido".
Aproveito para vos informar que vou ausentar-me nos dias 10 e 11. O poema correspondente ao dia 10 será publicado antes da minha ida. O do dia 11 será agendado e os comentários aparecerão quando eu regressar, no dia 12.
Os meus pedidos de desculpas por esta interrupção.
Abraços
Olinda
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imagem pixabay
Que maravilha de texto. Delicioso, amoroso, poderoso, tão bem escrito que o li e consegui sentir a ingenuidade da menina de oito anos que não queria de todo «atrapalhar» o amor dos namorados. Adorei!
ResponderEliminarAmiga Olinda no próximo dia 10 a pétala também tem a ver com cartas de amor. Ridículas? Não são todas?!
Beijo, fica bem, descansa, diverte-te.
Ridículas mas tão agradáveis de ler
ResponderEliminar.
Um dia feliz … saudações cordiais.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
A Olinda correspondeu e bem à solicitação feita.
ResponderEliminarTodas as cartas de amor são ridículas se o envolvimento amoroso dos apaixonados não for verdadeiro e genuíno.
Tony de Matos será sempre um ícone incontornável dos nossos cantores românticos, num tempo em que também as letras tinham um valor literário muito apreciável.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes
Que beleza,Olinda!
ResponderEliminarÓtima participação e inspiração!
Por vezes ,mesmo querendo ajudam, não conseguimos...Nos atrapalhamos ,rs...
ADOREI! beijos, lindo dia! chica e bom descansinho!
A menina de oito anos só pode ter escrito uma carta de um amor tão puro que baralhou quem a recebeu. Muito belo este texto, minha Amiga Olinda.
ResponderEliminarTudo de bom. Una dias tranquilos.
Um beijo.
Querida amiga Olinda, bom dia de paz!
ResponderEliminarAmo o pensamento que encabeçou seu lindo post participativo na iniciativa do amigo Juvenal. Somos "ridículas" quando amamos.
Hoje escutei algo que me fez refletir muito no dia:
"Guarde meu amor contigo mesmo que você não queira mais usar."
Fiquei matutando em como poderia interpretar a pista. Poderia ser por um lado dos "amores" efêmeros, descartáveis, etc.
Em semelhança com sua carta tão bem escrita, apesar da tenra idade da menina que amava, vejo que, muitas vezes, nos atrapalhamos em todas as idades, tanta dedicação, tanto amor e...
A vida mesmo se encarrega de ser injusta conosco, acontece, às vezes...
Sabe que eu adolescente escrevi uma carta de amor para um amigo jovem da família que não tinha estudo. Mas deu tudo certo ente ele e sua namorada, diferente da sua história de amor da auxiliar de farmácia.
Amiga, que o Amor não seja usado por ninguém!
Ele é nobre demais e deve ser conservado mesmo quando não houver mais amor da outra parte. Muitas mulheres agem assim e são valorizadas por Deus.
Ouvi o vídeo que não conhecia e gostei.
Bom passeio, minha amiga! Você merece descansar um pouco pois sua Quinzena de Amor extrapolou os dias e estafam os posts diários com respectivos comentários que você, com toda maestria, conduz animada e generosamente.
Tenha dias abençoados!
Beijinhos carinhosos e fraternos
Querida Olinda
ResponderEliminarAs cartas de Amor são ridículas, sim, mas apenas quendo vistas à distância. No momento em que estão a ser vividas, são a coisa mais saborosa que existe. Tal como esta carta, escrita por uma menina de oito anos... Pode haver maior delicia???
Parabéns, minha amiga, pela excelente inspiração.
Perfeitamente condizente, a música que escolheste. Há tanto tempo que não ouvia o Tony de Matos com a sua intemporal "Cartas de Amor"! Amei!
Obrigada!
Continuação de boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Querida, desculpaaaaaa! Ainda inebriada com a doçura dessa ingénua e ao mesmo tempo ternurenta carta, esqueci-me de te desejar bom descanso nesses poucos dias da tua ausência. Aproveita-os na sua plenitude! E guarda-os na alma, para quando fores velhinha... 😊
EliminarBeijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Um texto maravilhoso amiga Olinda. Escrevi tantas cartas de amor em mais de 4 anos de namoro com o meu mais que tudo em duas comissões de serviço em África. Praticamente todo o tempo do meu namoro foi feito à distância, imagine quantas cartas e aerogramas, os famosos "bate estradas" se cruzaram entre Portugal e Guiné, primeiro e Portugal e Angola, depois.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Sorri ao ler a descrição da tua postura , tão concentrada na dificil e importante tarefa, a tal ponto que até a lingua queria espreitar . Revi-me, assim mesmo, sentada à mesa da cozinha de uma senhora, minha vizinha, que não sabia ler e que me incumbia de escrever as cartas para o irmão que estava no Brasil; imagina....uma carta para um lugar tão distante tornava a tarefa ainda mais árdua para uma menininha que ainda tão pouco sabia do mundo e das letras. Parece-me que correu tudo bem apesar de alguns erros, " riscos e emendas " e sentia-me honrada e importante com o pedido que a senhora me fazia. Quanto às cartas de amor, não me lembro quando escrevi a primeira, mas foram muitas para a Guiné onde o meu primeiro amor cumpria o serviço militar; eram cartas ridiculas com toda a certeza, mas levavam todos os nossos sonhos, projectos, promessas e como demorava " a volta do correio " ...tanto, tanto tempo e algumas perdiam-se pelo caminho. Era uma alegria, quando, finalmente , a missiva chegava, missiva essa que era logo bem escondidinha e lida várias vezes quando não havia ninguém por perto. Eram o meu tesouro , guardado " a sete chaves " durante muitos e muitos anos, Depois...ficaram só as palavrinhas ," carregadas de doçura, " no coração e o papel amarelecido pelos anos foi jogado fora. Não as guardei, mas o amor que elas carregavam, de um lado para o outro, felizmente, continua até hoje. Olinda, gostei muito desta tua cartinha que me fez sorrir, logo ao acordar, Espero que tenhas um bom descanso e não te preocupes com a interrupção; esperaremos por ti o tempo que for necessário. Beijinhos e saúde para todos vós. Obrigada, Amiga!
ResponderEliminarEmilia
É o modo de dizer-nos como tudo ocorreu que conta. É a sua vocação para "contar", para escrever que nos aprisiona da primeira à ultima linha, Olinda. Suas cartas nunca seriam ou serão ridículas!
ResponderEliminarAproveite o descanso. Relaxe. Volte renovada.
Forte abraço,
José Carlos
Não há nada que atrapalhe a vontade de agradar e corresponder ao ente amado. Mas a verdade é que há palavras e expressões que podem ser interpretadas de maneira diferente de quem as pensou e escreveu.
ResponderEliminarUm magnífico texto, gostei de ler.
Continuação de boa semana, amiga Olinda. E bom descanso.
Um abraço.
Segui a leitura da carta e no final sou surpreendida por a escritora ser uma jovenzinha de 8 anos, que texto tão terno e lindo. Por vezes tentamos ajudar e o resultado não é o esperado.
ResponderEliminarBeijinhos
Uma publicação muito rica. Parabéns pela partilha! :))
ResponderEliminar.
Vagueando até o sol se erguer
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Beijos e uma boa tarde.
Cartas de amor de uma época era delicioso, não achávamos nada ridículas, hoje, não existem, manda-se um " Bom Dia, amor, te amo!" ( pelo Whatsapp ) e a conversa está pronta, perfeita! Os sentimentos foram informatizados, evaporou-se o 'charme'!
ResponderEliminarDe resto (rsrsrsrs) adorei o empenho da cartinha e que vi que atrapalhou um monte! Coitadinha da menininha!! rsrsrsrs
Descanse, querida amiga, saberemos aguardar!
Um beijinho, muita alegria por aí!!
Um episódio tão interessante e bem contado!
ResponderEliminarEsta nota de bom humor caiu muito bem nesta série de poesia apaixonada...
Que tudo lhe corra pelo melhor... Abraço afetuoso.
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Cartas de amor, quem as não tem?
ResponderEliminarPara uma menina de oito anos até que a Menina Josefa, auxiliar da farmácia, ficou muito bem servida com a carta escrita pela pequena Olinda. Agora, se a palavra 'atrapalhar' foi atrapalhar o namoro e o rapaz ficou todo enxofrado, é porque o amor não era forte e duradouro. Que culpa teve a criança? :)
E, como não sou de me ficar, deixe que lhe diga, querida Olinda : ridícula é a opinião de Álvaro de Campos sobre as cartas de Amor. Provavelmente nunca recebeu foi nenhuma...:)
Excelente esta sua participação na 2ª Celebração de S. Valentim, "A Seta de Cupido" do amigo Juvenal Nunes. Tenho de lá ir espreitar.
Desejo-lhe uma pausa bem aproveitada, ainda que por pouco tempo.
Beijinho e tudo de bom para si.
Bom dia Olinda,
ResponderEliminarQue ternura essa carta de amor de uma menina de oito anos.
Que terá acontecido para que o seu apaixonado tivesse devolvido todas as cartas...
Decerto algo que leu a que não deu a devida interpretação.
É assim o amor...
Desejo-lhe bom descanso.
Beijinhos,
Ailime
Sempre maravilhoso esse estar de bem com o mundo em que nesse estado de graça tudo nos fala. É um diálogo interior a que se associa, quantas vezes a natureza. Linda essa descrição pormenorizada da menina de 8 anos e que já sabia tão bem como "iludir" quem atrapalhasse!
ResponderEliminarParabéns, querida Olinda!
Bom descanso
Esta menina de 8 anos já mostrava um gosto especial pela escrita e anda agora a lembrar a importância de uma carta de amor. À hora do correio ninguém saía da janela, falo por mim.
ResponderEliminarQuerida Olinda, este é um excelente desafio. Falemos de amor e não de guerra. Amor como bálsamo da humanidade. Obrigada.
Grande abraço.
Olá, amiga Olinda, a Taís me falou desta postagem sobre a carta desta menina de 8 anos que se chama Olinda. Vim ao blogue com muita curiosidade para ler a carta da menina , que escreveu a pedido de uma atendente da farmácia que enviaria para seu namorado. Mas cheguei aqui e perguntei a Taís: cadê a carta? Depois entendi que se fala apenas do fato.
ResponderEliminarMas que a carta não foi transcrita. De qualquer forma fiquei imaginando a menina de 8 anos escrevendo uma carta de amor!
Bom descanso, amiga Olinda, aguardemos sua volta.
Um beijo
O espirito do amor, respirou-se por aqui, em candura, inocência e beleza!
ResponderEliminarAdorei a sua participação, Olinda... assim como todos os demais elementos, que tão bem a complementaram!
Beijinhos
Ana
Que maravilha!
ResponderEliminarEstive por aqui a ler e, agora, na minha apressada vida...não consigo comentar em todos os "posts"...mas apreciei todas as participações.
Beijo amigo
Meus queridos
ResponderEliminarNesta minha participação no desafio da 2a Comemoração de S. Valentim, fiz uma carta de amor, aliás fiz saber da carta de amor que alguém me pediu a fineza de escrever, tinha eu 8 anos.
Foi com muito prazer que recebi as vossas prestigiosas palavras, que muito agradeço.
Como vêm pela data continuamos com a "Quinzena do Amor", que segue em força.
Beijos e abraços
Olinda