Comecei a tentar escrever com 12 anos. Depois aos 14 escrevi mais e a partir daí fui sempre escrevendo. Aí entre os 16 e os 23 escrevi mais do que em todo o resto da minha vida. Tenho imensa coisa por publicar dessa época. Sophia
Paisagem
Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.
Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.
Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.
Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.
Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
In Poesia, 1944
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JCV Os poemas mais antigos são...De quando tinha para aí 14 anos. Logo do princípio.
JVC Os primeiros versos incluídos na «Poesia» escreveu-os apenas com 14 anos!?
Sim, alguns, só dois ou três. Às vezes eram poemas muito mais compridos e que eu cortava, cortava, até ficarem três ou quatro versos. Mesmo no «Dia do Mar» há um poema que era muito longo e que ficou reduzido a dois versos. Chama-se «Evohé Bakhos».
Sim, alguns, só dois ou três. Às vezes eram poemas muito mais compridos e que eu cortava, cortava, até ficarem três ou quatro versos. Mesmo no «Dia do Mar» há um poema que era muito longo e que ficou reduzido a dois versos. Chama-se «Evohé Bakhos».
MAP Há dois dos seus primeiros poemas intitulados, um, «Homens à beira-mar», outro, «Mulheres à beira-mar». As mulheres «têm o corpo feliz de ser tão seu» e «a boca colada ao horizonte». Os homens «nada trazem consigo» e os horizontes são-lhes longínquos e o seu corpo «é só um nó de frio»...Esses poemas têm a ver com as manhãs da Granja, com as manhãs da praia. E também com um quadro de Picasso. Há um quadro de Picasso chamado «Mulheres à beira-mar». Ninguém dirá que a pintura do Picasso e a poesia de Lorca tenham tido uma enorme influência na minha poesia, sobretudo na época do Coral... E uma das influências do Picasso em mim foi levar-me a deslocar as imagens. Quanto ao mais, eu penso que há uma diferença entre o homem e a mulher, e os feminismos não podem... Para mim o machismo não é considerar que há uma diferença entre o homem e a mulher, o machismo é tentar fazer um negócio dessa diferença...
1919-2004
Excertos de entrevistas:
Aqui: Biblioteca Nacional
Imagem: searasdeversos
É muito bom recordar hoje Shopia e a amiga fê-lo muito bem.
ResponderEliminarDesejo muito que esteja bem.
Estou voltando lentamente, porque ainda tenho mtº. pouco tempo
para estar ao computador.
Bj.
Irene Alves
A eternidade da Sophia fica exarada nas palavras que sabiamente escreveu.
ResponderEliminarFoi bom recordar Sophia neste dia em que se completam dez anos sobre a sua morte e é trasladada para o Panteão.
ResponderEliminarQuerida Olinda, abraço-a com carinho
As mulheres «têm o corpo feliz de ser tão seu»
ResponderEliminarShopia conseguiu em poucas palavras escrever a dignidade e o respeito pelo corpo de uma mulher..
Flor
Sophia, hoje no Panteão Nacional. Como a expressão mais alta da poesia feminina portuguesa.
ResponderEliminarUm abraço
Menina do mar
ResponderEliminar(^‿^) ❀
ResponderEliminarMerci Olinda ! C'est magnifique !
BISES de Normandie jusqu'à toi !!! ❀ ❀ ❀
Andei por aqui a relembrar os poemas de Sophia e a ler as entrevista que não conhecia.
ResponderEliminarUma grande senhora-poeta!!!
Um abraço amigo, Olinda.
Mais que uma mão estendida
ResponderEliminarmais que um belo sorriso
mais do que a alegria de dividir
mais do que sonhar os mesmos sonhos
ou doer as mesmas dores
muito mais do que o silêncio que fala
ou da voz que cala, para ouvir
é, a amizade, o alimento
que nos sacia a alma
e nos é ofertado por alguém
que crê em nós.
Sua amizade e carinho mesmo
que você não acredite me faz um bem
enorme.
Deus abençoe seu final de semana
deixo aqui meu carinho e todo sentimento ,
mais puro que trago na alma.
Beijos no seu lindo coração.
Evanir.
COMUNICADO:
ResponderEliminarTENHO ESTADO DOENTE
04.07.2014
Há cerca de cinco dias fui atacado por uma forte gripe, que mostrou intenções de invadir zonas do meu corpo que não lhe diziam respeito, nomeadamente a zona pulmonar.
O médico que me tem assistido moveu-lhe guerra feroz, e da refrega saíram dois vencedores: o médico e eu.
Hoje já tive autorização para me levantar duas ou três horas, e mal pus o pé fora da cama, corri – em sentido figurado, que as forças ainda não dão para correr – “corri” para o computador para estar um bocadinho convosco.
Espero em breve estar são como um pêro…“Bravo de Esmolfe”– o mais doce do reino *perófico* (de pêro).
Sei que a palavra não existe, acabei de a inventar… mas é gira, não é?
Miguel, o rei perófico
(AQUI APARECE A FOTO DO REI, QUE POD VER NO BLOG)
Beijos para as meninas e abraços para os meninos.
Até breve, até sempre.
P.S. O meu primo vai-me fazer o favor de levar este comunicado aos blogues amigos, para que não me esqueçam...
Miguel
Oi Olinda,
ResponderEliminarQue belos versos, desde pequena já era sabia...
Abçs
Estas são as homenagens que Sophia merece. O tributo à sua escrita cristalina e luminosa.
ResponderEliminarGostaria tanto de vê-la regressar aos programas escolares do 12.º ano!
Beijinho, querida Olinda.
Há pessoas que já nascem com dons inexplicáveis, cada um a sua missão e ter um dom e obra-prima divina. Belíssimas escritas, belíssimo poema profundo e forte em suas palavras.
ResponderEliminarA própria arte da escrita em obra-prima da natureza.
Beijos.
Magnífico! Sophia será sempre "Grande"!
ResponderEliminarBeijinhos
Ah, finalmente consigo comentar aqui!
ResponderEliminarAinda que Sophia seja considerada poeta e não poetisa, a escrita dela mantém traços muito femininos, eu acho.
Beijinhos, boa semana!