A tua cabeleira é já grisalha ou mesmo branca? Para mim é toda loira e circundada de estrelas. Sobre ela o tempo não poisou o inverno dos anos que se escoam maldosos insinuando rugas, fios brancos...
Ao teu corpo colou-se o vestido de seda, como segunda pele; entre os seios pequenos viceja perene um raminho de cravos...
Pétalas esguias emolduram-te os dedos... E revoadas de aves traçam ao teu redor volutas de primavera.
Júlio Maria dos Reis Pereira, ou Julio como artista plástico e Saúl Dias como poeta (1902 -1983), foi um pintor, ilustrador e poetaportuguês. Pertence à segunda geração de pintores modernistas portugueses e foi autor de uma obra multifacetada que se divide entre as artes plásticas e a escrita, tendo sido um dos mais importantes colaboradores da revista Presença. aqui
Era irmão de José Reis, o homem do "Cântico Negro", poema extraído da obra "Poemas de Deus e do Diabo".
Por intermédio de Reis, o cineasta Manoel de Oliveira interessou-se pela obra plástica de Júlio, produzindo um documentário intitulado "As Pinturas do meu irmão Júlio", lançado em 1965.
Boa quinta-feira, amigos.
Olinda
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Poema - Citador
Imagem - pixabay
Ver Saúl Dias aqui, no Xaile de Seda
Veja esta análise -PINTURA MOVENTE: AS PINTURAS DO MEU IRMÃO JÚLIO
Lembrando-me da Comemoração do Mês do Amor promovido pela amiga Rosélia, no Blogue AmorAzul, em que o primeiro tema era "Castelos", chamou-me a atenção a notícia de que ao Castelo de Neuschwanstein, na Baviera, que servira de modelo a Walt Disney, na Disneylândia, para o castelo da Bela Adormecida, tinha sido atribuído o galardão de Património Cultural Mundial, pela Unesco.
Castelo de Neuschwanstein
Aliás, essa honra coube a mais dois castelos da Baviera: o Linderhof, mais pequeno, mas o mais pessoal dos castelos reais; e o Herrenchiemsee, o projecto mais ambicioso do rei Luis II, sendo Versailles o modelo, com o intuito não de copiá-lo, mas de superá-lo.
Ludwig Otto Friedrich Wilhelm von Bayern, apelidado de "Rei de Conto de Fadas", subiu ao trono aos 18 anos, em 1864, e apesar da Baviera ser submetida pela Prússia e absorvida pelo Império Alemão, continuou sem se interessar pelos assuntos de Estado, concentrando-se em projectos artísticos e arquitectónicos.
Um outro motivo que me leva realmente a referir esse castelo é o facto de, numa mansão de luxo na região de Sintra (donde retirei o Palácio da Pena para o meu post de participação), existir uma réplica oficial do castelo da Disneyland Paris, projecto autorizado pelo próprio parque francês nos anos de 1980.
Réplica em Sintra
Consta que esta réplica se deve à vontade do proprietário, de então, de fazer um gentileza à filha, trazendo para a sua casa o icónico castelo.
Embora com um mês de atraso, penitencio-me com esta publicação mas, ao mesmo tempo, com um toque romântico como é óbvio, tendo em conta o mês em questão.
Um convite da Lura, de ascendência cabo-verdiana, com a colaboração de Angélique Kidjo, do Benim, no sentido de se ultrapassarem diferenças, contando mais as semelhanças adstritas a todo o ser humano. Qualquer que seja a latitude, pelo mundo afora, há que encarar o outro, olhá-lo nos olhos com alegria, sem reservas.
A aparência física é o que salta à vista, i.e., a cor da pele, se se é gordo, feio ou com algum defeito físico, muitas vezes detalhes que assumem uma importância tal obliterando tudo o resto.
Depois vêm as escolhas de foro íntimo, as religiões, as formas de pensar que não prejudicam a ninguém, circunstâncias que muitos levam em conta na hora de julgar e que conduzem a quezílias irreconciliáveis.
Sabemos bem que há desentendimentos que se avolumam e que se transformam em guerra e disso temos exemplos que nos têm assombrado. Guerras que vão destruindo pessoas, pelo poder das armas e também pela fome.
Notícias preocupantes chegam até nós: Nos últimos 21 meses de guerra, mais de 17 mil crianças foram mortas e 33 mil ficaram feridas em Gaza. E continua a chacina, crianças desnutridas num campo de morte. Elementos da comunicação social, ali, em manifestação para que o ódio termine, porque até eles vão morrer de fome se essa insanidade não tiver fim...
Ouvi nestes últimos dias, tendo como pano de fundo a imensidão do mar, algumas músicas e, de entre elas, a que está mais acima. Tomo a liberdade de fazer minha a mensagem destas duas grandes cantoras.
Abraços, meu amigos.
Olinda
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Tradução livre. Não sei se consegui transmitir a essência da mensagem.
Maria Fernanda Teles de Castro e Quadros Ferro (1900-1994) foi uma escritora, poetisa, tradutora portuguesa.
Foi Fundadora e directora da Associação Nacional dos Parques Infantis e da revista «Bem Viver» e de diversas acções em prol do turismo. Escreveu músicas para fado, marchas e canções infantis e, também, argumentos para cinema e bailado. Ver mais aqui
DUNAS
GNR
Uns diazitos ao pé do mar. Sol, mar e dunas. Enterrar os pés na areia e sentir a água rumorejar como se contasse segredos antigos. E mais ali ao lado a arte xávega, ao fim da tarde. Nas horas mais quentes, um livro.
Tenho estado a ler alguns livros de Philippa Gregory sobre a "Guerra das Rosas", de 1455 a 1487, entre a Casa Lencastre e a Casa de York, uma guerra feroz entre primos. Tratando-se de uma aristocracia terra-tenente, o objectivo maior era deixar herdeiros, prometendo em casamento meninos e meninas no sentido de juntar casas e fortunas. Assim, o importante era ascender ao trono e permanecer ali e se necessário mandar decapitar familiares e amigos que tentassem impedir esse estado de coisas, no seu próprio interesse, como é evidente.
O penúltimo romance que li foi "A Rainha Branca", referente à flor branca dos York. A esposa de Eduardo IV de nome Isabel Woodville, era tida como bruxa dizendo-se que o seu poder lhe vinha de Melusina, personagem da lenda e folclore europeus, um espírito feminino das águas doces em rios e fontes sagradas. Ela é geralmente representada como uma mulher que é uma serpente ou peixe (ao estilo das sereias), da cintura para baixo.
Consta que, a beira do rio Tamisa, Isabel Woodville e a mãe, Jacquetta de Luxemburgo, lançariam pragas para que Melusina produzisse tempestades no sentido de que a parte contrária não pudesse avançar com as suas tropas.
Posto isto, chamou-me a atenção a notícia de que um documentário da autoria de Melanie Pereira ganhara o prémio de grande vencedor do 21º festival de cinema DocLisboa, em 2023, com este título: "As Melusinas à Margem do rio".
Esse documentário nada tem a ver com a Guerra das Rosas, mas sim com Melusina e o rio e sobre o fenómeno da imigração. Fala da história de cinco mulheres, reflectindo sobre identidades fragmentadas e sentimentos de não pertença: Ana-Filipa, Melina, shanila, Amela, e a própria realizadora, Melanie, nascidas em Luxemburgo de pais imigrados. A finalidade do filme é, precisamente, tentar uma reconciliação com o país que as viu nascer. Contudo, no trailer diz-se que o que é fragmentado não tem reconstituição possível.
Eis uma passagem do referido documentário:
Há também algo de profundamente terapêutico na forma como Melanie Pereira, se aproxima das suas amigas: Ana Filipa, Melina, Shanila e Amelia. As conversas que partilham não têm pressa. São feitas de pausas, de memórias familiares, de perguntas difíceis como “De onde és, afinal?”. O que para muitos é uma pergunta banal, mas para elas é um poço sem fundo. “As Melusinas à Margem do Rio” não procura respostas fáceis. Antes, tenta habitar o desconforto, o desenraizamento, a sensação de nunca se ser “de lá”, mesmo quando se nasceu lá. A segurança económica e o conforto social do Luxemburgo não apagam o sentimento de exclusão cultural. E é nesse desfasamento que nasce a dor, mas também a arte e a simplicidade da realizadora.
Transpus a similaridade deste caso para outros que conheço, de filhos de imigrantes que nascem em países que não os dos pais e que lutam toda a vida com essa diferença.
Um exemplo flagrante, mal estudado, é o caso dos filhos dos europeus que vieram de África, os chamados retornados, que nunca se integraram verdadeiramente e os filhos dos africanos que carregam nas costas a marca desse estrangeirismo.
O papel do documentário referido acima é deveras importante porque foca esse sentimento de não pertença. Filhos sem terra, quase expatriados, que não pertencem a lado nenhum, que tentam construir uma vida baseada no trabalho, na integração social e política e que nem sempre se sentem realizados.
Abraços, amigos.
Olinda
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Imagem: pixabay
Embora o documentário se refira a Luxemburgo, em homenagem aos livros de Philippa Gregory optei pela imagem acima. Isabel Woodville esteve muito tempo refugiada com os seus filhos, na Abadia de Westminster.
Ver aqui"As Melusinas à Margem do Rio - Análise / Uma história de sereias reais".
Aos poucos, eu sentia a nossa família quebrar-se como um pote lanado no chão. Ali onde eu sempre tinha encontrado meu refúgio já não restava nada. Nós estávamos mais pobres que nunca. Junhito tinha os joelhos escapando das pernas, cansado só de respirar. Já nem podíamos machambar.Minha mãe saía com a enxada, manhã cedinho, mas não se encaminhava para parte nenhuma. Não passava das micaias que vedavam o quintal. Ficava a olhar o antigamente. Seu corpo emagrecia, sua sombra crescia. Em pouco tempo, aquela sombra se ia tornar do tamanho de toda a terra.
Mesmo para nós, que tínhamos bens, a vida poentava, miserenta. Todos nos afundávamos, menos meu pai. Ele saudava a nossa condição, dizendo:a pobreza é a nossa maior defesa. A miséria faz conta era o novo patrão para quem trabalhávamos. Em paga recebíamos protecção contra más intenções dos bandidos. O velho exclamava, em satisfação:
_É bom assim! Quem não tem nada não chama inveja de ninguém. Melhor sentinela é não ter portas.
Excerto: Terra Sonânbula, de Mia Couto - pg.15
Mia Couto, pseudônimo de Antônio Emílio Leite Couto, nasceu na cidade da Beira, em Moçambique, África, no dia 5 de julho de 1955. É filho de Fernando Couto, emigrante português, jornalista e poeta que pertencia aos círculos intelectuais de sua cidade. Ver mais aqui