Aos poucos, eu sentia a nossa família quebrar-se como um pote lanado no chão. Ali onde eu sempre tinha encontrado meu refúgio já não restava nada. Nós estávamos mais pobres que nunca. Junhito tinha os joelhos escapando das pernas, cansado só de respirar. Já nem podíamos machambar. Minha mãe saía com a enxada, manhã cedinho, mas não se encaminhava para parte nenhuma. Não passava das micaias que vedavam o quintal. Ficava a olhar o antigamente. Seu corpo emagrecia, sua sombra crescia. Em pouco tempo, aquela sombra se ia tornar do tamanho de toda a terra.
Mesmo para nós, que tínhamos bens, a vida poentava, miserenta. Todos nos afundávamos, menos meu pai. Ele saudava a nossa condição, dizendo:a pobreza é a nossa maior defesa. A miséria faz conta era o novo patrão para quem trabalhávamos. Em paga recebíamos protecção contra más intenções dos bandidos. O velho exclamava, em satisfação:
_É bom assim! Quem não tem nada não chama inveja de ninguém. Melhor sentinela é não ter portas.
Excerto: Terra Sonânbula, de Mia Couto - pg.15
Mia Couto, pseudônimo de Antônio Emílio Leite Couto, nasceu na cidade da Beira, em Moçambique, África, no dia 5 de julho de 1955. É filho de Fernando Couto, emigrante português, jornalista e poeta que pertencia aos círculos intelectuais de sua cidade. Ver mais aqui
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Veja: Mia Couto aqui, no Xaile de Seda
Terra Sonâmbula é o primeiro romance publicado por Mia Couto (1992)
"Quem não tem nada não chama inveja de ninguém."
ResponderEliminarBom domingo de Paz, querida amiga Olinda!
Nunca li a frase tão verdadeira.
Recortei-a para guardar.
O renomado escrito teve seis motivos para a deixar como legado.
É duro conviver com o que foi refúgio e não é mais. Dói muito.
Vou me interessar mais pelo autor.
Um retrato social colocado no texto.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos fraternos
Oi Olinda
ResponderEliminarEsse texto me faz correr na livraria para adquirir o 'Sonâmbula'-_ é um excelente escritor, o que leio dele é sempre interessante _ a metáfora da porta sem sentinela no primeiro momentos nos faz pensar na confiança e na capacidade de conviver sem medo dos perigos , o que nos tempos atuais é quase impossível e aí refletindo melhor entendo que devemos ser capazes não se fechar em copas mas solidarizar com outros e juntos proteger-se. Gosto do sentido que a frase provoca. É bom demais ler Mia Couto, Olinda .Obrigada pelo excerto .
Te abraço e desejo uma ótima semana.
Olá, Olinda.
ResponderEliminarMia Couto é um grande escritor, escreve com muita sensibilidade e poesia. Não sei se concordo com essa romantização da pobreza que ele faz nesse trecho do seu livro. A pobreza, a miséria, é uma desgraça que ninguém deveria passar, romantizá-la não sei se é o melhor caminho, mas certamente, resiliência nessas situações é louvável, e procurar um ponto positivo em qualquer situação, não era o que fazia Poliana? Melhor assim do que se deixar cair sobre o peso do mundo.
É um belo extracto dum excelente livro!
ResponderEliminarAbraço
Maravilhoso excerto e a frase perfeita embora há quem inveje o outro apenas por invejoso de tuuuuuuuuuudo ser,rs... Adorei ler! beijos, lindo domingo! chica
ResponderEliminarBoa noite, amiga Olinda
ResponderEliminarNão li este romance de Mia Couto. Mas ao ler este excerto que aqui nos traz, é com toda a certeza uma excelente obra. Terei por certo oportunidade de ler.
Uma excelente partilha, estimada amiga.
Deixo os votos de uma boa semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com
Olá, amiga Olinda, é sempre bom ver alguma obra do premiado
ResponderEliminarromancista Mia Couto. Penso que, depois dessa sua postagem vou ler esse romance, o primeiro escrito por ele.
Votos de uma ótima semana, com saúde e paz.
Um abraço, amiga.
Minha amiga Olinda,
ResponderEliminarConhecer bem esta mente brilhante que você tão justamente destaca aqui.
Um abraço e boa semana!!!
Mia Couto é um escritor portentoso. Talvez o melhor escritor africano da atualidade. A sua escrita é prodigiosa. Vale a pena ler e reler cada livro seu.
ResponderEliminarBoa semana.
Um abraço.
Olinda sim é verdade quem não tem nada não chama inveja, um bonito texto do escritor, Olinda boa semana bjs.
ResponderEliminarMia Couto é um autor que dá gosto ler. Também li "Terra Sonâmbula". Magnífico, como é tudo o que ele escreve.
ResponderEliminarUma boa semana minha Amiga Olinda.
Um beijo.
Fabuloso texto, com uma excelente reflexão!
ResponderEliminarBjxxx,
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Um incrível autor. Gostei bastante.
ResponderEliminarBoa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
Às vezes, tardo mas não falho, minha amiga Olinda. Afinal, aqui, nesta casa, se aprende tanto, pois, todos os instantes estão sempre são bem iluminados.. A propósito, é sempre bom falar de Mia Couto, este moçambicano cuja escrita nos encanta. E falar de Terra Sonâmbula, publicado em 1992, é falar de esperança a partir de uma era que termina e o começo de outra. É falar da estrada que domina a narrativa e que a princípio não leva a lugar algum, pois a guerra a destruiu. É falar deste primeiro romance de Mia Couto cujo excerto trazido nos permite delinear uma parte dessa história. É falar da tradição dos mais velhos contar história para os mais novos, e em Terra sonâmbula a quebra desta tradição, pois é a criança que vai contar essa história, pois a memória dos mais velhos já não conta, já não é tão significativa para a compreensão dos fatos. É falar das metáforas que permeiam a narrativa... à morte. É falar do encantamento que a narrativa provoca... É falar de tanta coisa, é para não tirar da cabeceira.
ResponderEliminarObrigado pela partilha, Olinda!
Beijinhos, e uma boa semana!
José Carlos
Um escritor inconfundível com um estilo
ResponderEliminarliterário que o define como um dos expoentes da língua portuguesa nos seus termos tão genuínos da pátria africana e suas gentes e que nos encantam demais
Obrigada, querida Olinda por mais uma publicação óptima
Beijinho
Um pequeno trecho, mas rico de uma consciente filosofia de vida.
ResponderEliminarAbraço de amizade.
Juvenal Nunes
Que poesia hipnotizante nesta “Terra Sonâmbula”! 💙 A tua escrita embala-nos num mundo de sonhos misturados com realidade, onde cada verso é um convite a explorar os segredos da alma. A forma como transmites esse estado onírico e introspectivo é simplesmente envolvente.
ResponderEliminar💜 Desejo-te uma excelente semana!
Com carinho,
Daniela Silva
🔗 https://alma-leveblog.blogspot.com
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Escrita de Mia Couto que muito admiro.
EliminarUm excerto do seu romance "Terra Sonâmbula".
Muito obrigada pelo comentário, cara Daniela.
Beijo
Olinda
Gosto muito de Mia Couto.
ResponderEliminarPena não se saber o nome da mãe.
Abraço, querida Olinda, tudo de bom.
Querida São
EliminarNunca tinha pensado nisso.
Fui em busca e encontrei aqui o nome da mãe.
Confira:
https://youtu.be/llacRP8k4ds
Obrigada.
Beijinhos
Olinda
Muito bom o seu texto. Já sou sua fã. Vou seguir seu blog.
ResponderEliminarParabéns e obrigada.
Querida Olinda
ResponderEliminarExcelente texto de Mia Couto.
Obrigada por compartilhar
Abençoado fim de semana
Beijinhos
Verena