Onde é que eu estou?,
pergunta à Lua.
O simples pronunciar já lhe dói impiedosamente. Está coberto de uma coagulação arrefecida e pastosa, sente uma pérola de suor a escorrer-lhe sob a gola direita, e seu fígado late como um vulcãozinho de estimação. A custo golfa um soluço de dor, tosse partindo todas as costelas, tendões e músculos, e resmunga com dificuldade:
_Deram-me um tiro
Pg 181
Ele, Amílcar, Homem Grande, como lhe chamavam, sabe que depois da sua morte persistiria a pergunta sem resposta cabal:
Quem matou Amílcar Cabral?
E Mãe Iva, no funeral, apenas o espírito. Não o corpo.
Pariu um filho para servir o mundo.
Líder do Partido denominado PAIGC, para a independência da Guiné e Cabo Verde não chegou a tomar o gosto a essa liberdade. Depois da sua morte a Guiné declarou unilateralmente a independência e Cabo Verde ascendeu a ela depois da Revolução de Abril de 1974, mais precisamente no dia 5 de Julho de 1975. Portanto, há 49 anos e lá festeja-se esta data.
Político, agrónomo, teórico marxista, chamado de "fazedor de utopias", mas também poeta.
Eis um dos seus poemas:
Quem é que não se lembra
Daquele grito que parecia trovão?!
– É que ontem
Soltei meu grito de revolta.
Meu grito de revolta ecoou pelos vales mais
longínquos da Terra,
Atravessou os mares e os oceanos,
Transpôs os Himalaias de todo o Mundo,
Não respeitou fronteiras
E fez vibrar meu peito…
Meu grito de revolta fez vibrar os peitos de
todos os Homens,
Confraternizou todos os Homens
E transformou a Vida…
… Ah! O meu grito de revolta que percorreu
o Mundo,
Que não transpôs o Mundo,
O Mundo que sou eu!
Ah! O meu grito de revolta que feneceu
lá longe,
Muito longe,
Na minha garganta!
Na garganta de todos os Homens
Cabo Verde - Mornas
Cerca de 19 minutos de música belíssima.
Compositor: o grande B.Léza, Francisco Xavier da Cruz.
***
NOTA:
No dia 25 de Maio passado comemorou-se o Dia de África.
Durante o mês de Julho trarei alguns temas relacionados com
o continente africano, como referi ainda no mês de Maio,
antes de ir de férias.
Abraços
Olinda
===
"A última Lua de Homem Grande"de Mário Lúcio Sousa.
Poema - “Emergência da poesia em Amílcar Cabral” (30 poemas)..
[recolhidos e organizados por Oswaldo Osório]. Colecção Dragoeiro.
Praia: Edição Grafedito, 1983. daqui
Olá, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarJá estou no finalzinho do vídeo. Enquanto tecia, fiquei ouvindo a música boa, como você bem falou.
Que nossos gritos de revolta atinjam, com humildade, os quatro cantos do mundo!
Muito boa escolha de quem homenagear merecidamente.
Tenha um julho abençoado!
Beijinhos
Bom dia - Um Poema brilhante, lindo de ler.
ResponderEliminar.
Saudações poéticas. Feliz fim de semana.
.
Poema: “ Sorri quando não há sol ao amanhecer “
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Bela homenagem, linda poesia e música! Ótimo fim de semana! beijos, chica
ResponderEliminarOlá, amiga Olinda
ResponderEliminarAmílcar Cabral, foi sem sem dúvida alguma o político mais inteligente entre os líderes africanos dos movimentos de libertação na sua época. Além e ser um político brilhante, era igualmente um grande poeta. Como o demonstra este excelente que aqui partilhou.
Vídeo excelente, como são as mornas de Cabo Verde.
Gostei muito desta partilha, estimada amiga.
Deixo os meus votos de uma feliz fim de semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com
Com a devida ressalva, subscrevo o comentário de Mário Margaride.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Amílcar Cabral deveria ser uma inspiração para os mais jovens.
ResponderEliminarUm abraço.
Olá, querida Olinda, bela história que eu não conhecia, desse político, Líder africano que eu não conhecia!
ResponderEliminarO vídeo...a música com partes tristes, segundo a minha sensibilidade, mas belíssima!
E o poema achei maravilhoso!
Tua partilha, querida amiga, como sempre é excelente!
Um bom fim de semana, querida, paz e saúde!
Beijinhos daqui de longe.
Bello homenaje. Me gusto el poema. Te mando un beso.
ResponderEliminarUm poema profundo e sentido e uma bela música.
ResponderEliminarLinda homenagem.
Beijinhos
Saudades de Cabo verde , onde em 2006 festejei o 25 de Abril.
ResponderEliminarAmílcar Cabral foi mesmo um Homem Grande, vilmente assassinado.
Querida Olinda, abraço e excelente Julho.
Poema magnífico que o destino da Vida não quis dar continuidade no homem.
ResponderEliminarMúsica linda.
Beijo,
SOL da Esteva
Boa noite, amiga Olinda
ResponderEliminarPassando por aqui, relendo este magnífico post de homenagem a Amílcar Cabral, que muito gostei, e desejar uma feliz semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com
Boas homenagens aqueles que lutaram pela liberdade. Um abraço querida e uma boa semana. Bjs
ResponderEliminarOlá Olinda!
ResponderEliminarBela homenagem!
Tenha uma semana repleta de luz
abraços Loiva
Amílcar Cabral? Como esquecê-lo? Como não guardar na nossa memória esse Homem que tanto fez pela liberdade do seu povo? O poema dele é maravilhoso. Adoro mornas.
ResponderEliminarTudo de bom, minha Amiga Olinda.
Uma boa semana.
Um beijo.
Confesso que desconhecia, como tal agradeço esta partilha que me ensinou algo novo!
ResponderEliminarbeijinhos
Sempre nos ampliando o conhecimento. Bela homenagem. Grata pela partilha.
ResponderEliminarConheci Cabo Verde há pouco tempo. Apesar dos poucos recursos, tem um povo lindo, acolhedor, e uma paisagem fabulosa. As mornas fascinam-me.
ResponderEliminarE há um grito imorredouro na nossa garganta.
Muito grata, querida Olinda, por este emotivo e grandioso post.
Gosto tanto de mornas: Sodade, sodade, sodade d'es nha térra Saniklau
ResponderEliminarBela e merecida homenagem a Amílcar Cabral, grande homem, grande politico e grande poeta.
Gostei muito desta publicação.
Abraço e brisas doces ***
Boa tarde Olinda,
ResponderEliminarVerifiquei agora que publicou vários artigos sobre África, um Continente que tanto me diz desde criança.
Adorei recordar o Grande Homem que foi Amílcar Cabral e esta sua pérola poética.
Virei sempre que o tempo me permitir ler os os outros artigos.
Beijinhos,
Emília