«A casa em que nasci, Marianinha,
está voltada a Su-sueste
e tem à frente um cipreste
de atalaia à seara e vinha.
Casa já antiga, descaiada,
se o Sol lhe bate na fachada,
inunda-se a varanda de alegria;
tia Rita fia na roca
e dos buraquinhos da alvenaria
salta pardal com pardaloca.
À velha chaminé é um regalo
ver o fumo subir, fazer halo.
No montado, ouvem-se anhos balir
e derretem-se lantejoulas a luzir,
trouxe-as a Primavera no regaço
e espalhou-as pelo tojo, urze, sargaço,
sem desprezar trigal, jardim,
rampas, refúgio de erva ruim.
Manhã cedo, rompe a cantata,
nas árvores de fruto e pela mata.
─ Sol, Sol! ─ trauteiam os pardais,
tordos, melros e verdiais.
─ Sol, Sol! ─ pede o tuinho na balsa
e o auricu que apagou o candil na salsa.
E o Sol ergue-se por detrás dos montes,
e lá vem, sem olhar a vias nem pontes,
triunfal, contente como um ás,
com sua capa de arcebispo primaz.
Quem não ouve decerto sente
que vem salvando: ─ Olá, boa gente,
pássaros a voar e no ninho,
fonte, e tu a ladrar, cãozinho,
para que abram e nos deixem entrar.
Olá, meu amigo carvalho,
à minha espera no festo da colina,
e, no almarge, o carneiro do chocalho,
o cabrito, a cabrinha e até o chibo,
ronda-vos o lobo, mas sopro a neblina,
e vai mais longe buscar o cibo.
Salve, amigos, haja fartura e alegria! (…)»
(ler poema completo aqui )
Aquilino Ribeiro
(1885-1963)
Aquilino Ribeiro, (Tabosa do Carregal, 13/9/1885 – Lisboa, 27/5/1963) Romancista, folhetinista, contista, novelista, professor, director da Seara Nova (1921), fundador e presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores (1956).
Sobre as "Terras do Demo", diz o Autor:
"...Chamei-lhe assim porque a vida ali é dura, pobrinha, castigada pelo meio natural, sobrecarregada pelo fisco mercê de antigos e inconsiderados erros e abusos, porque em poucas terras como esta é sensível o fadário da existência." aqui
Boa semana, meus amigos.
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Poema - in O livro de Marianinha (1967) - Livro dedicado à neta, Mariana aqui
Imagem - Fundação Aquilino Ribeiro - clique e leia mais sobre a vida de Aquilino Ribeiro
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NOTA:
Por iniciativa da respectiva Junta de Freguesia, a 4.ª edição de Alvalade Capital da Leitura é dedicada a Lídia Jorge, que este ano celebra 40 anos de vida literária.
A autora de "O Dia dos Prodígios" (1980) será homenageada entre hoje (21) e o próximo dia 26...
Leia mais, clicando em "Da Literatura".
Olá:- Aquilino Ribeiro, um enorme poeta.
ResponderEliminar.
Um domingo feliz
Abraço
Amiga Olinda,
ResponderEliminarO “Romance da Raposa”, de: “Aquilino Gomes Ribeiro” (década de 1920), foi um dos bons livros que li e tenho um exemplar.
Bela lembrança deste autor.
Um abraço e cuide-se!!!
Bom dia. Fantástica a sua escolha! Obrigada
ResponderEliminar-
Vagueávamos nas ondas do mar
-
Beijos, e um excelente fim de semana.
Gostei de ler!Linda poesia! Bela partilha! beijos, chica
ResponderEliminarHá tanto tempo que não lia este poema!
ResponderEliminarAquilino Ribeiro um dos grandes da nossa Literatura!
Abraço
Eu li "O livro da Marianinha". Uma ternura dedicada à neta. Este poema a exultar a Natureza que tanto nos maravilha, até faz bem ler.
ResponderEliminarUm grande beijo minha Amiga Olinda.
Até faz bem ler, como diz a amiga Graça.
ResponderEliminarAquilino Ribeiro faz falta na nossa praça com poemas que recordam ternuras e cenários de infância.
Em boa hora, querida Olinda.
Beijo, amiga.
Adorei sentir toda esta ternura pela Marianinha e pela exaltação airosa desta natureza que é um milagre de Deus.
ResponderEliminarUm abraço de Luz
Bom dia nobre amiga , Olinda.
ResponderEliminarGrandiosa exaltação à natureza, pelo menos em versos há quem não a maltrate.
Uma excelente escolha para compartilhar, não conhecia o autor, gostei@
Votos de uma ótima semana.
Bjss
Li alguns livros dele, mas poesia é a primeira vez.
ResponderEliminarGrato abraço, boa semana
Não conhecia Aquilino, enquanto poeta, mas gostei do poema.
ResponderEliminarParabéns à Lídia Jorge pelos 40 anos de escrita.
Peço desculpa por este copy e past, mas penso que os amigos merecem uma explicação para a minha ausência. O meu pc estava constantemente a encerrar-se. Como ainda estava dentro da garantia foi para a Worten. Depois de duas semanas telefonaram-me para o ir buscar, disseram que o computador lá nunca encerrou, e que o problema devia estar na tomada em casa. Chamei um eletricista que testou a tomada e disse que não havia qualquer problema na mesma. O que é certo é que o computador continua a desligar-se. Esta manhã aproveitei o filho estar de folga para o levar de novo para a loja. Agora estou com o portátil do filho quem me emprestou para que possa programar as postagens para alguns dias até ver se resolvo o problema.
Terno e belo. Um poema visual, pois com sua leitura vamos caminhando por todos os espaços que descreveu e que são um canto à natureza. Gostei muito. Bjs.
ResponderEliminarAquilino Ribeiro, pela sua obra e pela sua personalidade
ResponderEliminaré um para mim um escritor de referência...
e as "Terras do Demo" um "lugar mítico" que o escritor descreve assim:
"sem dúvida nunca Cristo ali rompeu as sandálias, passou el-rei a caçar ou os apóstolos da Igualdade em propaganda (...)
que me perdoem os ossos de Aquilino a ousadia de pretender levar essas (anti)míticas "Terras do Demo" para o romance que procuro escrever e que a minha amiga me tem concedido o privilégio de comentar no meu blog.
feliz, portanto, Olinda, pelo prazer de encontrar o Aquilino, a decorar este elegante Xaile de Seda.
abraço
Considero Aquilino o melhor cultor de prosa poética que Portugal já produziu. Aqui enveredou mesmo pelo versejar, tocado que foi pelo afeto avoengo que a neta lhe despertou.
ResponderEliminarSaudações poéticas.
Juvenal Nunes
Alguém já disse, mas eu volto a dizer!
ResponderEliminarÉ uma pena manter tão "escondida" a poesia do Aquilino!
A sua poesia descritiva é um puro assombro!...
Grato Olinda por trazer o Aquilino às páginas do Xaile de Seda.
Grande abraço!
A.S.
Bonito poema.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Só escolhe o melhor da poesia quem nela trabalhou , quem com ela se identifica .
ResponderEliminarAqui , o nosso Aquilino Ribeiro inteiro, trazendo tanta nostalgia !
Assim o senti ,mas tanto !
Obrigada pelo bom gosto
Beijinho, Olinda ,
Querida Olinda
ResponderEliminarVoltei da minha segunda e última fase de férias deste ano.
Felizmente correu tudo muito bem, visitei sítios maravilhosos, e constatei, uma vez mais, aquilo que sabia de sobra – Portugal é um país LINDO!
Mas… acabou-se o que era doce ��. No próximo ano haverá mais, assim o espero, e talvez que em condições mais favoráveis.
Regresso, pois, e confesso que com muito prazer, ao vosso convívio.
Sabes, amiga? Acho que estou a ficar velhota... �� É que cada vez gosto mais dos escritores/poetas mais antigos (isto sem qualquer desprimor para os contemporâneos, que fique bem claro!)
Então este poema não é uma verdadeira delícia? Eu não o conhecia, confesso, mas li-o e reli-o porque acho-o maravilhoso.
Obrigada por mo teres dado a conhecer.
Espero que esteja tudo bem contigo e com a tua família. Abraços para todos.
Continuação de boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Conheço tão pouco da obra de Aquilino Ribeiro, Amiga!!! Que vergonha!!! Este poema é de uma ternura tão grande que só poderia ter sido escrito para uma netinha; é assim que nos sentimos em relação aos netos, uma ternura só. Nasci e vivi numa aldeia, como sabes e, embora a minha casa não fosse exactamente como esta, entrei em muitas que assim eram; no entanto, na minha também havia a grande chaminé na cozinha que nem sempre conseguia levar o fumo todo para fora e a pouca luz que havia ficava ainda mais fraquinha; sou do tempo em que o candeeiro de petróleo ou a vela de cera eram a iluminação possivel. As coisas foram evoluindo e a chaminé lá continuou, mas já não precisava de trabalhar, pois o lume na lareira foi, com muito sacrificio, substituido pelo fogão a gás e os candeeiros e vilas pela lampadas eléctricas, mas, claro, despidadas de qualquer roupagem; nuas e com uma luz fraquinha, mas a suficiente para alegrar as nossas vidas, principalmente nas noites frias. Não posso dizer que a minha aldeia fosse uma terra do " demo " , mas as vidas lá vividas eram tão dificeis, mas tão dificeis que posso dizer que eram mesmo vidas do " demo" de tão miseráveis que eram. Sabes, Olinda, lembro que o termo " salvar " era muito usado pelas pessoas daquele tempo, em vez de cumprimentar ou saudar e não havia ninguém que não salvasse quem por ele passasse; hoje está tudo diferente, na minha aldeia e, felizmente , as vidas não são mais do " demo"; a minha casa lá continua e a grande chaminé também...também continua a minha tristeza quando a olho assim, de pé, solitária, sem aquele " salve amigos", tantas vezes ouvido por nós: pessoas queridas, vizinhos sempre prontos a ajudar, entravam sorridentes por aquele portãozinho, livre de ferrolhos, mesmo quando chegava a noite. Continual lá, o portãozinho...
ResponderEliminarOlinda, querida Amiga, obrigada por me teres dado a conhecer este belo poema e assim ter viajado atrás no tempo, um tempo que para mim, felizmente, não foi " do demo ". Espero que estejam todos bem de SAÚDE e deixo-te um abraço enorme, carregadinho de amizade
Emilia
Bom dia de muita paz outonal, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarLendo com calma seu post, recordei-me da casa onde nasci e residi até a maioridade.
O poema do autor que escolheu e uma reminiscências poéticamente bem colocada.
Também morei em lugar pequeno na infância e adolescência.
A casa que meu pai construiu ainda resiste, ainda que totalmente diferente.
Não tenho boas lembranças de um tempo para cá.
Tenha dias abençoados e felizes!
Bjm carinhoso e fraterno
OI OLINDA!
ResponderEliminarUM POETA MARAVILHOSO EM SUA FORMA PECULIAR DE FAZER POESIA.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Gostei de recordar Aquilino, agora em poesia muito bucólica e interessante.
ResponderEliminarVenho agradecer o carinho que me dedicou pelo meu aniversário.
Abraço grande, querida amiga.
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