Rio da vida. Com altos e baixos, correndo por entre pedras e resíduos. Mas também há momentos em que se filtra e surge água cristalina. Neste nosso mundo conturbado há que procurá-la nos interstícios mais escondidos, tal como Diógenes com a sua lamparina, em pleno dia, à procura de um homem. Cá para nós, a reencarnação de D. Sebastião, desaparecido para sempre em Alcácer-Quibir. Mas, nada feito. A cada candidato, que na nossa extrema necessidade enfeitamos com inúmeras qualidades, corresponde uma decepção, renovada, como a que tivemos de engolir há quatrocentos e trinta e seis anos.
Na verdade:
Na verdade:
Correm
turvas as águas deste rio,
Que as do céu e as do monte as enturbaram;
Os campos florescidos se secaram,
Intratável se fez o vale, e frio.
Que as do céu e as do monte as enturbaram;
Os campos florescidos se secaram,
Intratável se fez o vale, e frio.
Passou o
Verão, passou o ardente Estio,
Ũas cousas por outras se trocaram;
Os fementidos Fados já deixaram
Do mundo o regimento, ou desvario.
Ũas cousas por outras se trocaram;
Os fementidos Fados já deixaram
Do mundo o regimento, ou desvario.
Tem o tempo
sua ordem já sabida;
O mundo, não; mas anda tão confuso,
Que parece que dele Deus se esquece.
Casos, opiniões, natura e
usoO mundo, não; mas anda tão confuso,
Que parece que dele Deus se esquece.
Fazem que nos pareça desta vida
Que não há nela mais que o que parece.
Luís Vaz de Camões
SEC.XVI
Camões deixou-nos, para nosso deleite, não somente sonetos e endechas como também Os Lusíadas, obra épica dedicada ao rei-menino sem juízo ou mal aconselhado, na qual glorifica o povo luso. Embora na actualidade se façam outras leituras desta obra à luz de valores que nós, ocidentais, adquirimos depois de várias revoluções, não há dúvida que, mito que seja, continua a ser uma referência neste nosso vale de lágrimas. Todos os povos têm os seus mitos, não é verdade?
Um pouco ausente deste local nos últimos dias, daqui vos saúdo, meus caros, desejando-vos um óptimo fim de semana. :)
Poema retirado de: Banco de Poesia Fernando Pessoa
Um pouco ausente deste local nos últimos dias, daqui vos saúdo, meus caros, desejando-vos um óptimo fim de semana. :)
Poema retirado de: Banco de Poesia Fernando Pessoa
Camões, o grande Camões, que Pessoa - não sei porque motivo - não referiu na "Mensagem"..
ResponderEliminarBons sonhos, querida Olinda
Um excelente momento poético. Rios de águas barulhentas.
ResponderEliminarOs rios levam tudo o que lhe atiramos com desprezo
De volta oferecem-nos lagos de águas cristalinas,sonolentas
Uma corrida mais suave do tempo e da vida que mais prezo
Engraçado, que ontem em literatura a professora falou sobre Camões, falou do mito e disse exatamente isso.
ResponderEliminarDesde que a sua ausência não seja por doença está tudo bem.
Um abraço
É verdade, cada povo têm a a sua história e mito, como obras grandes como o nosso povo!
ResponderEliminarNão gosto de ladrões
ResponderEliminarmas estimo os que roubam aos ricos
Camões somos nós na grande epopeia
Aguas turvas de ontem e de hoje.
ResponderEliminarGrande Luis de Camões!
Bom fim de semana
Beijinhos
Maria
As águas deste rio não se lavam
ResponderEliminarNem que caiam pedras de saraiva.
Mas os deslavados não escapavam
Se o Povo se contem da raiva.
Camões viu, anteviu, viveu toda a injustiça e glória possíveis. E agora?...
Beijos
SOL
Tejo que LAVAS as águas
ResponderEliminarnesta vida,
ResponderEliminarhá muito mais do que aquilo que parece
boas escolhas, sempre!
um abraço
Costumamos exagerar nas qualidades ou defeitos, dependendo dos ideais que abraçamos. E arcamos com os resultados.
ResponderEliminarCamões esteve presente em minha vida estudantil e, muitas vezes, tive dificuldades para entender o sentido de seus versos (rss). Hoje, mais madura, posso lê-lo com outros olhos. Bjs.
A poesia suaviza-nos o espírito.
ResponderEliminarFelicidades
MANUEL
Sem querer fazer de mim uma iluminada, não costumo colocar grandes qualidades nos candidatos (nos eleitos, então, nem grandes nem pequenas...)!
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana!
E a limpidez das águas vai-se com as folhas que o outono arruma encostando-se às margens
ResponderEliminartremendo com o arrepio do vento fresco. E adormecemos no marasmo da noite pois parece que nada mais resta senão hibernar nesta letargia.Parece que.Deus de nós se esquece!
Beijinho Olinda
Lá está, Luís de Camões realmente tinha bem captado a nossa alma!
ResponderEliminarE Camões escreveu assim no sec. XVI e assim tudo continua no sec.XX;. as águas cada vez mais turvas, o mundo confuso e o nosso Portugal um autêntico vale de lágrimas. O povo Luso, esse, coitado, já nem lágrimas tem e parece ter desistido de esperar pela limpidez das águas.Desilusões são muitas, amiga, principalmente no que concerne aos governantes que os portugueses livremente escolheram para os representar. Muito obrigada pela partilha deste belo poema de Camões. Estudei muito este nosso grande escritor, já que sou de letras, mas , sinceramente, os Lusiadas deram-me tanto trabalho que não tive coragem ainda de o voltar a ler Com certeza, agora, não sendo obrigatória a sua leitura, a sua interpretação a fundo, divisão de orações, etc, etc, teria muito mais prazer com a sua leitura. Vou voltar a ele um dia. Beijinhos, amiga e até sempre.
ResponderEliminarEmília
Um instante poético maravilhoso.
ResponderEliminarAdoro por demais esse poeta.
Beijos Olinda!