Aqui no Xaile, Ferreira Gullar tem marcado presença com Não há Vagas, poema que recebe quase todos os dias inúmeras visitas. De seu verdadeiro nome, José Ribamar Ferreira, o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras tem 84 anos e ao ser eleito para ocupar a cadeira nº 37 declara-se muito feliz. A referida cadeira era ocupada pelo poeta e tradutor Ivan Junqueira, falecido em Julho passado.
Em jeito de felicitação, insiro este poema:
Traduzir-se
Uma
parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Uma bela forma de se definir, com arte, Ferreira Gullar.
Poema retirado de- aqui
E finalmente cheguei cá, querida Olinda, pedindo desde já desculpas por esta ausência. Agradeço-te a aula de história que me dás sobre a républica portuguesa; muita coisa já está esquecida e é muito bom relembrar. de facto, onde estão os brandos costumes?
ResponderEliminarGostei muito de saber que Ferreira Gullar acaba de ocupar a cadeira 37 na academia de letras brasileira. e só espero que a ocupe por muito tempo, apesar da idade que já tem. Adorei esta letra que me fez lembrar uma outra , de Oswaldo Montenegro e cuja mensagem, acho, é a mesma. Se me permites vou deixá-la aqui. Chama-se A Metade
Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
e que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso
que eu me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também.
A mensagem é tão parecida que houve uma polémica entre os dois, achando Gullar que o Montenegro o tinha plagiado. Bem...o que importa é que são dois belos poemas. Obrigada, amiga e um bom fim de semana
Emília
Olá Olinda,
ResponderEliminarAqui aprendo sempre qualquer coisa. Hoje aprendi duas e li um poema muito bonito que não conhecia. Obrigada.
Um beijinho e bom fim de semana, Olinda!
Uma pérola de poema. Embora já todos lido e ouvido esta poesia, repetindo-a encontramos novos momentos que nos animam interiormente.
ResponderEliminarUm poema muito bonito de um poeta que não conhecia, e me lembrou o poema "metade" do poeta cantor Osvaldo Montenegro.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
~
ResponderEliminar~ ~ Confesso que não conhecia os poemas, nem nunca tinha ouvido falar do poeta, nem do Neoconcretismo carioca.
~ ~ Gostei do que li: muito interessante e original! Apesar de não conhecer toda a obra, penso que já merecia há mais tempo a cadeira.
~ ~ ~ Meritória a ideia de apresentar e difundir géneros distantes da poesia lírica.
~ ~ ~ ~ ~ Dias agradáveis e felizes. ~ ~ ~ ~ ~
Não conhecia, mas...
ResponderEliminarse não é arte, então, não sei que seja!
abraço.
jorge
Aprecio muito Ferreira Gullar. É um merecido lugar que irá ocupar.
ResponderEliminarMuito bom relê-lo aqui.
bj
(•ิ‿•ิ)✿
ResponderEliminarBonjour chère Olinda et Merci pour ce partage ! C'est très beau !
GROSSES BISES d'Asie pour toi ❤♥
Bonne continuation !!!!!! ✿✿º°。
É arte, diz esta tradutora :)
ResponderEliminarBeijinhos, bom domingo!
Olá
ResponderEliminarQuando o cantor Fagner, musicou, esse poema do Ferreira Gullar, nós aqui no Brasil, já saberíamos do sucesso. Parabéns pela postagens Abraços
A contradição humana muito bem plasmada num belo poema.
ResponderEliminar"A Metade" de Montenegro, inspirada ou não neste texto, também é um poema lindo.Como bem diz a nossa querida Emilia Pinto.
Minha querida Olinda, obrigada por mais um muito interessante post e que seja muito boa a sua semana :)
E é realmente uma tradução da arte aliada a Ferreira Gullar.
ResponderEliminarParabenizamos por mais essa do maranhense por chagar a compor a lista dos imortais.
Abraço
Os poetas não querem salvar o mundo
ResponderEliminarsó ajudar
Fez muito bem em colocar aqui este poema.
ResponderEliminarBoa homenagem a um poeta que o merece.
Bj.
Irene Alves
Admirável e muito talentoso. Seus escritos merecem nossos aplausos. Essa cadeira é um reconhecimento até tardio. Você lhe fez uma homenagem muito bela, evidenciando essa conquista. Bjs.
ResponderEliminarBelo poema...Espectacular....
ResponderEliminarCumprimentos
Um belo poema, sim senhor!
ResponderEliminarSaudações poéticas!
(•ิ‿•ิ)✿
ResponderEliminarUn petit bonjour sur ton joli blog ce mardi matin !
GROSSES BISES d'Asie pour toi Olinda ❤♥
Bonne continuation !!!!!! ✿✿º°。
Bem traduzir é criar arte! Aliás, a arte é, em si, uma tradução.
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana!
Querida Olinda
ResponderEliminarFizeste uma óptima escolha, pois este poema de Gullard é, talvez, um dos mais bonitos - ainda que a escolha seja difícil...
Mas o que aprecio em Gullard, tanto como a sua poesia, é a arte com que "manipula" as palavras, colocando-as no momento certo no local exacto.
É um verdadeiro mestre da palavra.
Concordo com a nossa querida Emília - este poema faz lembrar o de Oswaldo Montenegro - também muito bonito.
Parabéns pela excelente postagem.
Uma óptima semana, querida.
Beijinhos
Mariazita
Um grande poeta que aprendi a amar e a admirar não só pela poesia mas pelo grande senhor que é e de quem meu falecido tio, que privava com ele, dizia maravilhas. Assim, foi uma alegria e uma surpresa muito terna esta sua postagem , Olinda!
ResponderEliminarBeijinho meu
Oi Olinda!
ResponderEliminarParabéns pela postagem. O poema é divino merece aplausos. Uma ótima escolha fizeste.
Estive ausente por meses e agora cá estou.
Deixo Beijos !
Gostei do poema :)
ResponderEliminarⒽⒺⓁⓁⓄ et merci pour ce partage chère Olinda !
ResponderEliminar☼ je t'envoie plein de douces pensées d'Asie ≧^◡^≦ Bon dimanche !
~
ResponderEliminar~ ~ Está tudo bem, Olinda?
~ ~ Um excelente Domingo, segundo os meteorologistas, o 1º dia do Verão de S. Martinho.
Fico sem palavras porque me identifico, entendo, vivo... esta definição pessoal.
ResponderEliminarComparar-me com Ferreira Gullar, já seria abuso meu e não pretendo tal.
Admirar, é pouco para enaltecer o "Veterano" da Cadeira 37ª.
Parabéns por me (nos) mostrares este Poema de Identidade.
Beijos
SOL