Havia em Babilónia uma canção. Tão prenhe de memória que explodia em multidões...
Um dia, alquebrados, mas vivos, os babilónios ocuparam a rua. Com fome de pão e de Futuro. E abarrotaram avenidas e praças, num coro de estrofes e emoções...
Hammurabi, o legislador, cofia a barba: há que subir o pré aos generais.
Chegou tarde, porém - os generais estão indignados...
Dizem alguns que os Escribas estão a mudar de campo. E relatam...
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Um poeta cego e semilouco exclama: que desabrochem flores na ponta dos sabres!...
In: Notícias de Babilónia e outras metáforas, pg 95, de Manuel Veiga
O autor entende a crise racionalmente, mas sente-a emocionalmente. É sobretudo um criador de poesia, da qual não se desembaraça nestes textos. As suas metáforas políticas, quase sempre amargas, constituem, de alguma forma, insurgências de uma zombaria ancestral, com que a arraia-miúda se vingava dos desmandos dos poderosos. Outras vezes, os textos ecoam uma plangência dorida e esperançosa, como gestos solidários que se expõem desamparados ao leitor (…) do prefácio de António Bica João Corregedor
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