De cabelo ao vento,
Pela estrada longa da minha esperança,
Vou marchando sempre,
Ao compasso quente do meu coração.
Vou de mãos vazias, vou de lábios secos.
Pela estrada longa da minha esperança
Vou colhendo tudo e vou deixando tudo.
Dias, meses, anos, vou-os sepultando
Sob a estrada longa da minha esperança.
Olham para mim
E gritam de sarcasmo:
-Por que vais marchando, por que vais sorrindo?
Que mistério é esse que te acena ao longe?
Vão caindo folhas...
Frios ventos uivam
Pelo descampado...
Aguinaldo Fonseca
(1922-2014)
(Linha do Horizonte, 1958)
in: No Reino do Caliban, pg 167
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Chegados a este poema, Aguinaldo Fonseca deixa uma pergunta no ar:'Que mistério é esse que te acena ao longe?'. Talvez seja mesmo a esperança a acenar-nos, a dizer 'estou aqui', não se percam de mim. Mas também há uma pergunta no ar em relação a ele próprio: Por que motivo não publicou mais nada além do livro de poemas, 'Linha do Horizonte'? Desesperança ou teria encontrado as respostas todas? Poderia um poeta desta força deixar de escrever, se ele considerava: 'para mim, poesia é vida'?
Considerado o primeiro, de entre os poetas cabo-verdianos, a envolver África, como um todo, na sua poesia, atravessando os limites da sua insularidade, e, muito embora não esquecendo os grandes temas da seca e da fome privilegiados a partir dos claridosos, 1936, não há dúvida que a sua obra consubstancia muitos dos princípios que fizeram escola no movimento designado por negritude.
Numa análise de Amílcar Cabral, lê-se a respeito:(...) a evolução da Poesia Cabo-Verdiana não pode parar. Ela tem de transcender a “resignação” e a “esperança”. A “insularidade total” e as secas não bastam para justificar uma estagnação perene.
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Numa análise de Amílcar Cabral, lê-se a respeito:(...) a evolução da Poesia Cabo-Verdiana não pode parar. Ela tem de transcender a “resignação” e a “esperança”. A “insularidade total” e as secas não bastam para justificar uma estagnação perene.
As mensagens da Claridade e da Certeza têm de ser
transcendidas. O sonho de evasão, o desejo de “querer partir”, não pode
eternizar-se. O sonho tem de ser outro, e aos Poetas – os que continuam de mãos
dadas com o povo, de pés fincados na terra e participando no drama comum –
compete cantá-lo. O cabo-verdiano, de olhos bem abertos, compreenderá o seu
próprio sonho, descobrirá a sua própria voz, na mensagem dos Poetas.
Parece que António Nunes e Aguinaldo Fonseca estão na
vanguarda dessa nova Poesia. Não se conformam com a estagnação. A prisão não
está no Mar.
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Pela estrada longa da esperança este autor foi marchando, mas aos poucos foi murchando e a poesia, sua vida, foi acabando. Calou- se o poeta e o motivo só ele o saberá; mas...a esperança foi diminuindo...a ingratidão foi sentindo e aos poucos foi deixando tudo. Talvez se tenha cansado, o poeta, cansado de não ser ouvido...de não ser entendido e não ser reconhecido pelo tanto que estava a dar ao seu povo, alertando...consolando...dando esperanças . E, do mesmo modo que caem as folhas foram caindo as sua letras perdendo-se no grande descampado. Gostei muito de ter conhecido este poeta, Olinda e tenho pena que se tenha calado. Ainda bem que te lembraste dele e nos deste a conhecer o grande poeta Aguinaldo Fonseca.
Os Poetas vêm e sentem o caminho e o chamamento; parece depreender-se qual "[...] mistério é esse que (...) acena ao longe[...]".
Na Vida há muitos acenos a indicar os novos rumos traçados.
Acerca das tuas Notas complementares (excelentes) apenas a notação de que um Poeta não o é pelos Livros que escreve ou escreveu.
Haviam (há) demasiadas resistências (políticas e económicas) á publicação de Poesia na época, sobretudo quando se tratava de um Cidadão Português de Cabo Verde.
Na Vida há muitos acenos a indicar os novos rumos traçados.
Acerca das tuas Notas complementares (excelentes) apenas a notação de que um Poeta não o é pelos Livros que escreve ou escreveu.
Haviam (há) demasiadas resistências (políticas e económicas) á publicação de Poesia na época, sobretudo quando se tratava de um Cidadão Português de Cabo Verde.
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Imagem: Tela de Modesto Mamba-angolano
Retirado de aqui
A poesia venha de onde vier é sim a verdadeira embriaguez e o saciamento da fome de se enriquecer de cultura, venha de onde vier.
ResponderEliminarPor isso digo sempre, poesia é o alimento da ALMA.
Abraço
Calar-se-ia?...Acho estranho.
ResponderEliminarMinha querida, bom serão
Uma boa recensão sobre poesia de que muito gosto.
ResponderEliminarUma ilustração rigorosa.
Beijinho (com muita chuva).
(Pela estrada longa da minha esperança
ResponderEliminarVou colhendo tudo e vou deixando tudo.)
Que belo poema....Não conhecia
Beijo
Pela estrada longa da esperança este autor foi marchando, mas aos poucos foi murchando e a poesia, sua vida, foi acabando. Calou- se o poeta e o motivo só ele o saberá; mas...a esperança foi diminuindo...a ingratidão foi sentindo e aos poucos foi deixando tudo. Talvez se tenha cansado, o poeta, cansado de não ser ouvido...de não ser entendido e não ser reconhecido pelo tanto que estava a dar ao seu povo, alertando...consolando...dando esperanças . E, do mesmo modo que caiem as folhas foram caindo as sua letras perdendo-se no grande descampado. Gostei muito de ter conhecido este poeta, Olinda e tenho pena que se tenha calado. Ainda bem que te lembraste dele e nos deste a conhecer o grande poeta Aguinaldo Fonseca. Fico sempre mais rica quando cá venho. Obrigada, querida amiga. Um beijinho
ResponderEliminarEmília
Muito lindo...
ResponderEliminarBeijo Lisette.
Belo poema...Espectacular....
ResponderEliminarCumprimentos
❀✻❀ ✰ ✰ ✰ ❀✻❀
ResponderEliminarUn petit bonjour chez toi Olinda !
J'aime beaucoup cette poésie ! SUPERBE et la peinture aussi... EXTRA !!!
Beau partage que tu fais là. MERCI beaucoup !
BISOUS d'Asie vers le Portugal
Bonne continuation et meilleures pensées amicales
❀✻❀ ✰ ✰ ✰ ❀✻❀
Os Poetas vêm e sentem o caminho e o chamamento; parece depreender-se qual "[...] mistério é esse que (...) acena ao longe[...]".
ResponderEliminarNa Vida há muitos acenos a indicar os novos rumos traçados.
Acerca das tuas Notas complementares (excelentes) apenas a notação de que um Poeta não o é pelos Livros que escreve ou escreveu.
Haviam (há) demasiadas resistências (políticas e económicas) á publicação de Poesia na época, sobretudo quando se tratava de um Cidadão Português de Cabo Verde.
Beijos
SOL
Quando não se vê possibilidades de mudança, a esperança enfraquece. Em outras situações, não há favorecimento às palavras. Pena que tenha optado pelo silêncio. Bjs.
ResponderEliminarNão sei se a cadência dos versos e ritmo das sílabas, se a dolência que acomppanha este passo compassado pela estrada fora, fazem com que se acompanhe o poeta com a fluidez do tempo onde deixa tudo sem mágoa, sem pena. O longe espera-o. Mas que longe? Talvez o longe do mistério que nos deprime e nos atrai. Será por isso que ele sorri?
ResponderEliminarIsto é poesia. Vai muito para além dela própria. Lindíssima, Olinda.
Beijinho grande
Cheguei aqui por uma busca no Google. Hoje com o Sol estão a ser oferecidos livros e um é Aguinaldo Fonseca. Fui procurar mais sobre o autor. Gostei do blog e vou voltar.
ResponderEliminarGábi
Olá, Gabi
EliminarMuito obrigada pelas suas palavras. Gostei muito da sua visita.
Volte sempre. :)
Bj
Olinda
Mas não poderá ver-se também, nesse poema, um sinal de partida?
ResponderEliminarEm todo o caso, muito obrigado pela partilha e divulgação de impressivos autores lusófonos.
Saudações poéticas.
Juvenal Nunes