quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

TRINTA DINHEIROS

No Verão passado esqueci as chaves de casa dentro de casa e fiquei na rua. Telefonei para os bombeiros e disseram-me que, para me abrirem a porta, eu teria de pagar 30 euros. Passado algum tempo apareceram acompanhados de dois militares da GNR. Perguntei-lhes se depois me mandariam a conta para casa de modo a ir fazer o pagamento na sede ou noutro lado e responderam-me: Não, o pagamento tem de ser feito aqui e agora.

Lembro-me agora disso por causa da notícia, de hoje, sobre a mulher encontrada morta mais o seu cão e passarinhos, dentro do seu apartamento, desde 2002. Trinta euros, trinta mil euros ou os trinta dinheiros da história de há dois mil anos faz pensar, com as devidas proporções, no assustador que é a relativização do princípio da solidariedade e do valor da vida humana.

O caso desta senhora coloca com mais acuidade o problema da solidão e do abandono dos idosos. E não vale olharmos para o lado à procura de um responsável porque responsáveis somos todos nós.

A vizinha que se preocupara, que se interessara, que batera a todos as portas é o exemplo que deveríamos seguir.É o tal acto de amor que nos vai faltando. 


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