"O ló kalunga uá mu bangele...”
Assim cantava Denxo,
Ao som do pilão
Cantiga que aprendera
Nas roças de S. Tomé.
"O ló kalunga uá mu bengele..."
Denxo cantava e soluçava
Ao compasso ritmado
Do pó batendo no pilão
Para milho, fazer cachupa
"Bangele-Lé Lelé..."
De balaio erguido na mão
Panela à espera do lume
Bolso sem um tostão
Denxo venteia seu milho
"Lé Lelé.."
Perdeu o alento
Sua canção desfeita em lágrima
Sobre o farelo caído no chão
Enquanto pensa no seu irmão
Que ficou na terra do café.
Seu primeiro livro — Arco Vírus e Vibra Sóis foi publicado em 1985 pela editora Peregrinação.
Poetisa laureada, a Ana já ganhou prêmios em Itália, Portugal e Estados Unidos. É funcionária do Consulado-Geral de Portugal em Toronto (Canadá). aqui
Sobre o crioulo de São Tomé e Príncipe
O santome, também conhecido como forro, fôlô, lungwa santome, dialeto ou são-tomense,
é uma língua crioula de base lexical portuguesa que surgiu no século xvi, na ilha de São
Tomé, fruto do contacto entre o português e diversas línguas do continente africano. Depois
do português, língua oficial, o santome é a segunda língua mais falada na República de São
Tomé e Príncipe, mas não goza, atualmente, de estatuto oficial, embora tenha sido declarada
uma das línguas nacionais, ao lado do angolar (ngola) e do principense (lung’ie).
A primeira referência histórica ao santome data de 1627, altura em que o Padre Alonso
de Sandoval, a partir de Cartagena (Colômbia), menciona a existência da lengua de San
Thomé. Já no século xviii, mais precisamente em 1766, Gaspar Pinheiro da Câmara também
faz alusão a esta língua ao escrever que he de saber que a gente natural destas ilhas tem lingoa
sua e completa, com prenuncia labeal, mas de que não me consta haver inscripção alguma (...)
(apud Espírito Santo 1998: 59, nota 1.). A língua escrita só apareceria pela primeira vez na
segunda metade do século xix, quando autores como Francisco Stockler e António Lobo de
Almada Negreiros, bem como os pioneiros dos estudos crioulos, Hugo Schuchardt e Adolpho
Coelho, nos dão a conhecer os primeiros fragmentos nesta língua. Ver mais aqui
Dá-se o nome de ‘língua crioula’ à língua que nasce do contato entre, normalmente, um povo expansionista e dezenas de outros povos confinados em um determinado ambiente”. Ou seja, “crioulo”, em linguística, nada tem a ver com etnias, mas sim
com a criação de
um idioma
a partir da aglutinação e variação das culturas presentes
em um determinado local.
Ver mais
Boa semana, meus amigos.
Abraços
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Poema e imagem: site de António Miranda
oi, Olinda! que postagem tão rica de conteúdo, mais uma! outra vez saio daqui aprendendo um pouco mais sobre a cultura de outras partes do mundo, não conhecia a autora citada por ti. obrigado pela partilha, um abraço!
ResponderEliminarQue poesia tão linda de ler e imaginar aqueles sons de lá! Muito legal! beijos, chica
ResponderEliminarBoa tarde de Domingo, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarTenho visto algumas reportagens na TV Brasil,em alguns horários, muito boas. Seu post me fez recordar.
Gosto muito de suas postagens assim, pois têm nas palavras um ritmo que chego a sentir.
Muito me agrada ver coisas da África que era meu sonho de início de juventude. Das ilhas paradisíacas referidas eu ouço dizer só bem.
A última estrofe do poema da autora é muito bonita. Povo solidário é diferenciado em seus sentires.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos carinhosos e fraternos
Sempre enriquecedoras culturalmente as suas publicações, amiga Olinda!
ResponderEliminarUm poema doloroso que retrata a realidade de um povo sofrido.
Vou ficar ouvindo o som único e ritmado de S.Tomé.
Grande beijinho, feliz semana !
Poema de vida dura, de Ana Júlia Sança.
ResponderEliminar" Sua canção desfeita em lágrima
Sobre o farelo caído no chão..."
Gosto de eme embrenhar na cultura de S. Tomé e na sua melodia doce e nostálgica.
Um beijo, querida amiga Olinda.
Mais uma publicação de excelência, querida Olinda! O poema é belo, embora triste, como triste é a vida daqueles que pouco têm. Gostei muito de conhecer esta poetisa e muito mais de saber o verdadeiro significado da palavra cioulo, para mim, uma surpresa. Imaginava-o, sim, relacionado com etnia e não " com a criação de um idioma a partir da aglutinação e variação de culturas presentes em um determinado local " Faz sentido, sim! Amiga, tenho andado um pouco ausente, porque a semana passada tive de ficar com a Bia; ele teve infecção de garganta e ouvidos e, claro, não foi ao infantário. Já melhorou con o antibiótico, mas, amanhã ainda não vai. Na terça, se continuar a correr bem, já irá. Obrigada pela partilha de tão importantes conhecimentos e desejo a todos vós uma boa semana, com SAÚDE. Um beijinho e boa noite
ResponderEliminarEmilia
Bom dia. Bastante interessante, este poema/publicação. Adorei :))
ResponderEliminar-
Não desejo se a deusa do teu mar...
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Uma excelente semana
Beijos
Muito interessante.
ResponderEliminarPensei que a canção fosse "Kalunga", que não ouça há anos e anos , mas de que não esqueço o tom dorido.
Abraço, boa semana :)
Linda poesia e muito interessante este post.
ResponderEliminarArthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com
Confesso que me comoveu o poema de Ana Júlia Sança. E pareceu-me ouvir cantar Denxo "O ló kalunga uá mu bangele...”, cada vez com a voz mais enfraquecida.
ResponderEliminarObrigada minha Amiga Olinda por nos trazer estas preciosidades.
Cuide-se bem.
Uma boa semana.
Um beijo.
Boa tarde Olinda,
ResponderEliminarUm poema muito belo e comovente de Ana Júlia Monteiro Macedo Sança.
Gostei imenso de saber como se formou o crioulo. Desconhecia.
São Blogues como o seu que me dão imenso prazer ler e que muito acrescentam ao meu pouco conhecimento.
Beijinhos e obrigada.
Uma boa semana.
Ailime
Olá, querida Olinda, poema muito bonito, mas triste. Êta povo pra sofrer...
ResponderEliminarAdorei a música, ritmo muito alegre.
Uma partilha muito interessante!
Uma feliz semana, Olinda,
beijinho
Excelente divulgação da literatura e autores lusófonos.
ResponderEliminarAbraço amigo.
Juvenal Nunes
Querida Olinda
ResponderEliminarUm poema delicioso!
Nós deveríamos dar mais visibilidade aos poetas de países africanos de língua portuguesa.
Em tempos, no meu (actualmente inactivo) blog "OLHAI OS LÍRIOS DO MACUÁ" iniciei uma acção nesse sentido. Depois, por impossibilidade de lhe dar assistência, ficou tudo em standby. Pode ser que um dia deste volte a activá-lo...
Esta poetisa é, sem dúvida, fora de série! Os prémios que lhe foram atribuídos foram por demais merecidos.
Obrigada pela partilha.
Feliz Terça-feira e uma boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS