para uma canção de embalar
embalo a minha filha joana que acordou num berreiro.
a casa está às escuras, vou passando com cuidado
para não dar encontrões nos móveis, embalo esta menina
que se calou mas está de olho muito aberto e quer brincar,
e há um halo de luz parda a coar-se pelas persianas
e às vezes uns faróis riscando estrias a correrem pelo tecto.
levo-a bem presa ao colo, toda de porcelana pesadinha,
enquanto a irmã está a dormir meio atravessada nos lençóis.
ao chegar-me a outra janela vejo as luzes fugindo na auto-estrada
em direcção ao rio, a uma placa da lua sobre o rio,
e trauteio «já gostava de te ve-er», enquanto acendo o fogão
para aquecer o leite e embalo a minha filha e a outra está a dormir.
oxalá cresçam ambas airosas e bem seguras,
e possam ir na vida serenamente como os rios correm,
ou como os veleiros voam, ou como elas agora respiram
em cadências regulares neste silêncio táctil.
a meio da noite um homem acordou no sossego da casa
e pôs-se a cuidar do sono das suas filhas pequenas.
a casa está às escuras, vou passando com cuidado
para não dar encontrões nos móveis, embalo esta menina
que se calou mas está de olho muito aberto e quer brincar,
e há um halo de luz parda a coar-se pelas persianas
e às vezes uns faróis riscando estrias a correrem pelo tecto.
levo-a bem presa ao colo, toda de porcelana pesadinha,
enquanto a irmã está a dormir meio atravessada nos lençóis.
ao chegar-me a outra janela vejo as luzes fugindo na auto-estrada
em direcção ao rio, a uma placa da lua sobre o rio,
e trauteio «já gostava de te ve-er», enquanto acendo o fogão
para aquecer o leite e embalo a minha filha e a outra está a dormir.
oxalá cresçam ambas airosas e bem seguras,
e possam ir na vida serenamente como os rios correm,
ou como os veleiros voam, ou como elas agora respiram
em cadências regulares neste silêncio táctil.
a meio da noite um homem acordou no sossego da casa
e pôs-se a cuidar do sono das suas filhas pequenas.
oxalá haja fadas benfazejas esvoaçando das histórias
de princesas felizes e potros azul turquesa, e forrem esta casa,
e pelas malvadas bruxas alegres sinos dobrem,
e estas meninas existam incólumes e puras no seu quente contentamento,
mesmo que o mundo vá girando numa ordem sobressaltada,
mesmo que os mares agonizem nos seus gonzos de chumbo.
lá fora os carros passam, ainda não é a manhã, só alta madrugada,
mas passam alguns carros, deve estar frio. e há passos no andar de cima
a minha filha teresa tosse e volta-se na cama, a minha mulher dorme,
mas a joana ainda não adormeceu e presta a maior atenção
e mexe-me na cara quando eu chego outra vez a «inda mal abria os olhos»,
já ouviu esta toada umas centenas de vezes e passa a mão pelo meu queixo
e aconchega a cabeça e as pálpebras começam a baixar-lhe
muito devagarinho e a pequenina mão abandona-se na gola do meu pijama
e há que dar ainda uns passos para cá e para lá,
a cantar uma sombra de modinha, para ela ficar bem adormecida,
e como da irmã, quando a irmã tinha esta idade, eu digo
que sei muito desta menina, e sei. e vou deitá-la outra vez.
Vasco Graça Moura
in 'O Concerto Campestre'
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Assim falou e sentiu o Poeta.
E oxalá todas as crianças tenham uma cama para dormir, aconchegadas com cantigas de embalar por pais amorosos. Oxalá nenhuma criança seja exposta a intempéries, a naufrágios, numa fuga inglória para o desconhecido. Que fadas benfazejas lhes guarde a inocência, que vivam a infância sem terem de passar por situações de maus-tratos e violência.
Oxalá!
Meus amigos,
Daqui vos envio um grande abraço.
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Poema:Citador
Imagens:Pixabay
Oxalá a humanidade continue a produzir, sem limite, pessoas preocupadas em construir.
ResponderEliminarUma boa semana, Olinda :)
As crianças são o maior Bem do Mundo. Valorizá-las e cuidar delas com desvelo, determinará o futuro de toda a Humanidade.
ResponderEliminarBeijo
SOL
~~~
ResponderEliminarOxalá, querida amiga, oxalá!
Excelente homenagem e escolhas de muito bom gosto.
~~~ Beijinho, Olinda. ~~~
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Oxalá amiga.
ResponderEliminarNão conhecia este poema e gostei muito.
Abraço
Que todas as crianças tenham o aconchego de um lar e famílias amorosas que lhes cuidem com amor propiciando-lhes segurança, respeito e proteção
ResponderEliminarOxalá o mundo saiba cuidar de suas crianças. Que nada lhes falte!
Uma belíssima homenagem querida Olinda
Beijos
Oxalá!!!
ResponderEliminarParabéns pela escolha, o poema é belíssimo.
(Olinda, sobre o comentário que me deixou no meu espaço, responder-lhe-ei com tempo. Gostei muito de saber do interesse por Mirandela.)
Bjinho :)
Oxalá mesmo! Uma criança é sagrada, ninguém se devia sequer atrever a pensar em fazer-lhe mal!
ResponderEliminarBeijinhos
Que o mundo evolua cada vez mais nesse sentido!
ResponderEliminarBeijinhos, boa tarde :)
Uma ternura de texto
ResponderEliminarbjs
Gostava de ter sido eu a escrever este texto delicioso. Que não é rico de grandes imagens poéticas, mas sim de sentimento, o amor.
ResponderEliminarOlinda, continuação de boa semana.
Beijo.
Oxalá um dia nós deixemos de ter vergonha de pertencer a uma raça que provoca danos irreparáveis a seres indefesos e tão pequeninos. Tem atitudes tão irracionais em relação às crianças que nos deixam estupefactos e com muita vergonha, Bela homenagem fazes às crianças, principalmente àquelas que são abusadas, escravizadas, vendidas, assassinadas. Oxalá, Olinda, mas...as esperanças são muito poucas. Um beijinho e um bom fim de semana
ResponderEliminarEmilia
Que ternura!
ResponderEliminarBeijo
é pena que nem todas as crianças tenham o felicidade de saber o que é ser criança...
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Uma escolha sublime para comemorar uma data tão importante.
ResponderEliminarOxalá minha amiga, que o mundo se torne mais humano, principalmente para com as crianças.
Beijinhos
Maria
As crianças merecem o melhor do mundo para que, amanhã, façam o melhor pelo mundo.
ResponderEliminarUm beijinho, Olinda