À Isaura
Há oito meses dissemos:
– Até logo!
Era uma tarde fria de Novembro
uma tarde como qualquer outra
gente regressando a casa do trabalho
lancheiras malas rugas profundas no rosto.
Se houvesse malas de mão
para a saudade a desventura
não havia malas no mundo que chegassem…
Era uma tarde fria de Novembro.
Não sei se alguém sorriu
do beijo que trocámos.
– Até logo – disseste.
Depois passaram oito meses
os meses mais compridos que tenho encontrado.
Que pensamentos levava comigo?
Sei que disseste «até logo»
E era como se levasse as tuas mãos
Abertas sobre o meu peito.
Pensava
que só nas despedidas breves
por horas
se dizia «até logo»
como a alguém que parte
«boa viagem»
ou ao nosso companheiro
«bom trabalho».
Mas já passaram oito meses
duzentos e quarenta dias
cinco mil e setecentas horas.
Porque disseste
«Até logo»?
Se eu não soubesse
aprenderia que na minha pátria
os namorados dizem «até logo»
e estão meses anos
por vezes não voltam mais.
Fecham-nos
atrás de grades de ferro
espancam-nos
matam-nos devagar
e não permitem que apareçam
«logo».
Amiga
o ódio que trago armazenado
destas noite de insónia e abandono
dou-o à luta.
Mas temos que sofrer
sofrer deveras.
Até que um dia
Os homens cantarão livres como os pássaros
os namorados beijarão sem pressa
e as palavras «até logo»
quererão dizer simplesmente
«até logo»
(1928-2025)
António Borges Coelho, historiador, poeta e teatrólogo português. Catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tem diversos títulos publicados sobre história medieval e começos da Idade Moderna.
Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Lisboa, doutorado em História Moderna com um estudo sobre a Inquisição de Évora, foi docente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, especializado na área da História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa.
Colaborou em várias publicações periódicas com estudos históricos; efetuou traduções de obras filosóficas e históricas; dirigiu a revista História Sociedade. No domínio da investigação histórica, revelou-se com A Revolução de 1383, numa tentativa de caracterização dessa crise sociopolítica a partir de uma perspetiva baseada no materialismo histórico. Ver aqui
Foi meu professor.
Faleceu hoje.
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Poema: daqui
Boa noite, amiga Olinda.
ResponderEliminarNão conhecia este autor. Soube do falecimento pela televisão, mas desconhecia completamente as suas obras.
Gostei bastante deste poema que aqui partilha.
Paz à sua alma.
Deixo os votos de um bom fim de semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com