Ela andava com o filho por todo o lado, fazendo ele parte do seu corpo mesmo depois de nascido. Punha-o às costas, amarrava-o à cintura, desafiava precipícios agarrando-o pelos bracitos.
Fruto de (quem sabe?), sedução ou violação por parte do senhor da terra, que, talvez, tivesse mais filhos que terras. Homem tido como portador de valores, fino, de bom trato, discípulo de padres, autoridade máxima da terra, casado. Os filhos, não reconhecidos, povoavam a sua casa, tratavam-no por tio.
A mulher legítima, teve dois filhos e soçobrava sob o peso dessa população. O quarto, a solidão seria a sua melhor companheira. Talvez sofresse de depressão crónica, doença não diagnosticada na época.
Ela, a louca, viu-se sem o filho antes de lhe acontecer alguma desgraça. Foi-lhe retirado pela família do pai da criança. Conheci este filho de ninguém. Chamava-se Júlio. Meu tio.
Vítimas do tempo, da época, das contingências morais e sociais, que obrigavam a mulher a atitudes que se assemelhavam, muitas vezes, a patologia incurável ou à loucura.
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Pintura: Almada Negreiros
Profundo poema. Te mando un beso.
ResponderEliminarOlá, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarA rainha padeceu de depressão com motivos justos. Ter um filho arrancado de si deve ser muito duro. Além de tudo que passou...
Quando se tem a solidão por companhia, muitas doenças acometem o ser humano devagar, em doses homeopáticas até a loucura, muitas vezes.
Tenha dias abençoados!
Beijinhos fraternos
Boa noite, amiga Olinda
ResponderEliminarInteressante texto aqui partilha.
Quantas mulheres lhes aconteceram a mesma coisa. Trabalhadoras rurais, na maioria dos casos, onde eram seduzidas pelo patrão e depois engravidavam. Como fala aqui nesta história, os filhos eram simplesmente retirados à mãe, que ficava sem qualquer direito sobre o filho.
Histórias tristes, mas reais.
Gostei de ler, estimada amiga.
Deixo os votos de um bom fim de semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.
Mário Margaride
http://poesiaaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com
Impactante texto e triste realidade que tantas mulheres sofreram. Uma dor enorme essa! Lindo fds! beijos, chica
ResponderEliminarÉ uma situação triste quando um filho é retirado da mãe não gostaria de passar por isso, Olinda bom final de semana bjs.
ResponderEliminarActualmente não seria aceitável!
ResponderEliminarOutros tempos!
Abraço
Seu tio????? Existem tantos casos análogos.
ResponderEliminarCumprimentos poéticos
This is such a poignant and intense piece. The portrayal of a mother’s love, resilience, and the haunting impact of social and moral pressures on her and her son is powerful. The way you express how women often had to adopt extreme measures in times of adversity or oppression adds a layer of sadness and complexity. The cycle of neglect, societal expectations, and the burden of silent struggles in those times reflects deep truths about how history often shapes individuals in ways that can be both tragic and transformative.
ResponderEliminarRead my new blog post: https://www.melodyjacob.com/2025/03/follow-on-instagram-melodyjacob1.html
Tempos em que as mulheres eram tratadas com tão pouca dignidade.
ResponderEliminarBom fim de semana
Trágico, traumatizante.
ResponderEliminarUm abraço.
Olá, amiga Olinda, esta narrativa revela acontecimentos tristes, como esse,
ResponderEliminarem todas as partes do mundo, nas quais a mulher fica do lado mais frágil da corda de força. Um texto forte e instigante que serve para que a sociedade não esqueça desta dura realidade.
Um ótimo final de semana, amiga.
Abraços daqui do sul do Brasil.
Dramático relato! Um grito de Vida e da resiliência da Mulher.
ResponderEliminarPasme-se que, ainda hoje, aqui e ali, estas e outras nuances existem numa triste realidade.
Precioso Texto/grito.
Beijo,
SOL da Esteva