Só matéria ou também anima, o sopro quase divino que nos eleva acima das nossas misérias? O poeta das sensações traz-nos a velha questão sobre a nossa finitude ou imortalidade. Vejamos como ele a desenvolve:
Dizem que em cada coisa uma coisa oculta mora.
Sim, é ela própria, a coisa sem ser oculta,
Que mora nela.
Mas eu, com consciência e sensações e pensamentos,
Serei como uma coisa?
Que há a mais ou a menos em mim?
Seria bom e feliz se eu fosse só o meu corpo —
Mas sou também outra coisa, mais ou menos que só isso.
Que coisa a mais ou a menos é que eu sou?
Sim, é ela própria, a coisa sem ser oculta,
Que mora nela.
Mas eu, com consciência e sensações e pensamentos,
Serei como uma coisa?
Que há a mais ou a menos em mim?
Seria bom e feliz se eu fosse só o meu corpo —
Mas sou também outra coisa, mais ou menos que só isso.
Que coisa a mais ou a menos é que eu sou?
O vento sopra sem saber.
A planta vive sem saber.
Eu também vivo sem saber, mas sei que vivo.
Mas saberei que vivo, ou só saberei que o sei?
Nasço, vivo, morro por um destino em que não mando,
Sinto, penso, movo-me por uma força exterior a mim.
Então quem sou eu?
A planta vive sem saber.
Eu também vivo sem saber, mas sei que vivo.
Mas saberei que vivo, ou só saberei que o sei?
Nasço, vivo, morro por um destino em que não mando,
Sinto, penso, movo-me por uma força exterior a mim.
Então quem sou eu?
Sou, corpo e alma, o exterior de um interior qualquer?
Ou a minha alma é a consciência que a força universal
Tem do meu corpo ser diferente dos outros corpos?
No meio de tudo onde estou eu?
Morto o meu corpo,
Desfeito o meu cérebro,
Em consciência abstracta, impessoal, sem forma,
Já não sente o eu que eu tenho,
Já não pensa com o meu cérebro os pensamentos que eu sinto meus,
Já não move pela minha vontade as minhas mãos que eu movo.
Ou a minha alma é a consciência que a força universal
Tem do meu corpo ser diferente dos outros corpos?
No meio de tudo onde estou eu?
Morto o meu corpo,
Desfeito o meu cérebro,
Em consciência abstracta, impessoal, sem forma,
Já não sente o eu que eu tenho,
Já não pensa com o meu cérebro os pensamentos que eu sinto meus,
Já não move pela minha vontade as minhas mãos que eu movo.
Se tiver de cessar assim, ter pena de assim cessar
Não me tornará imortal.
Não me tornará imortal.
Desafio que este Guardador de Rebanhos nos lança, o Mestre, como o define o seu criador, Fernando Pessoa. Tido como um poeta de pensamentos simples, privilegiando as sensações, anti-metafísico, acreditando que as coisas não têm significação mas sim existência, e a sua existência é o seu próprio significado, até onde nos levarão as questões levantadas neste poema?
Poema retirado do Banco de Poesia Fernando Pessoa.("Poemas inconjuntos")
Ver De Anima - Aristóteles
1ª imagem - Internet (perdi as referências)
2ª imagem - Internet - pintura de Silva Porto
Nota: ...que nos eleva acima...Um pleonasmo que assumo com gosto.:))
1ª imagem - Internet (perdi as referências)
2ª imagem - Internet - pintura de Silva Porto
Nota: ...que nos eleva acima...Um pleonasmo que assumo com gosto.:))
Pois e a existência tem uma cruel essência : o fim!
ResponderEliminarA existência toma, por vezes, aspectos que nos transcendem, deixando de nos pertencer o domínio do lado físico do nosso todo. A nossa essência ressente-se. E quando não encontramos consolo nas teorias de uma vida para além desta, o nosso percurso apresenta-se estéril.
EliminarGrande abraço e simpatia, Mariavaicomasoutras.
Olinda
(•ิ‿•ิ)✿
ResponderEliminarBonjour Olinda !
MERCI pour ce joli post ! C'est très beau !
J'aime ce partage.
GROS BISOUS d'ASIE
bon jeudi ! :o)
Cara Nancy
EliminarMuito obrigada pela tua simpática presença no XailedeSeda.
Beijinhos
Olinda
Militantes da vida
ResponderEliminarsão os que se interrogam
Nada mais certo, Puma.
EliminarAbraço
Olinda
Se quisermos reflectir, podem levar-nos longe...
ResponderEliminarMinha querida Olinda, bom fim de semana :)
E aí, quanto mais reflectimos mais perguntas surgem.
EliminarBj
Olinda
Um dos mais complexos poemas de Caeiro.
ResponderEliminarUm abraço
EliminarMexe com a complexidade do nosso ser.
Bj
Olinda
Querida amiga
ResponderEliminarHá na imortalidade
das palavras
que nos inspiram o pensar,
a certeza de que a vida
possui infinitas perguntas
e um infinito ainda maior
de respostas...
_______________________________
Usa teus sonhos como escudos
em defesa das tuas esperanças.
Uma viagem em que o horizonte nos parece cada vez mais distante.
EliminarAbraço, caro Aluísio.
Olinda
Realmente os poemas que se dizem complicados de entender, porém com uma maestria ao desenvolver em torno do assunto, Vida, Matéria e Alma.
ResponderEliminarEsses são os verdadeiros poetas e formadores de opinião.
É disso que nos alimentamos.
Ps. agradeço pela sua presença lá no Lu Cidreira.
Abraço
Vida, Matéria e Alma. Andamos em torno destes conceitos em busca do porquê da nossa existência e do lugar onde habitaremos a seguir, ou se, em última instância, não haverá mais nada.
EliminarGrande abraço, Lu Cidreira.
Olinda
Querida Olinda
ResponderEliminarDúvidas, interrogações, perguntas sem resposta... assaltaram Caeiro como, tantas vezes, surgem no nosso pensamento (pelo menos a mim acontece... e desde muito jovem...).
Como não se consegue obter explicação para o inexplicável... resta-nos reflectir no assunto apenas como um exercício mental, com a convicção de que a dúvida irá sempre persistir...
Minha querida, "belos maravilhosos" talvez não seja muito usual... :) mas podemos dizer que ..."isto" é maravilhosamente belo! Português correcto? Não é, com certeza, mas é muito belo... :))))))))))))))
Bom fim de semana.
Beijinhos
Mariazita
Querida Mariazita
EliminarValha-nos a dúvida, não diria metódica como na trabalhosa mundivisão de Descartes, mas dúvida, a simples dúvida. Quando duvidamos, procuramos saber mais, conhecer mais. Dentro de nós temos as ferramentas necessárias: a inquietude e a vontade de ir mais além.
____
Fartei-me de rir com a segunda parte do teu comentário. Sabes uma coisa? Li em tempos no Jornal de Letras algumas palavras de Fernando Henrique Cardoso, salvo erro, que ao cotejar as escritas de Eça de Queirós e de Machado de Assis, dois grandes da literatura de língua portuguesa, dizia que numa abundam os adjectivos e noutra os nomes ou substantivos. Já não te sei dizer a quem pertenceria, especificamente, o emprego de uns e de outros.Teria de voltar a uns apontamentos que tenho por aí.:)
Seja como for, reportando-me ao escritor dos adjectivos, convenhamos que ele tinha o talento, o jogo de cintura, a sapiência de os deixar sair a tempo e horas e com a devida e oportuna cadência. Mas eu, pobre de mim, gosto de adjectivos é verdade, mas comigo são indisciplinados, aparecem em catadupa e obrigam-me a empregá-los aos pares como se não houvesse amanhã.:))) É a vida!
Beijinhos
Olinda
(•ิ‿•ิ)✿
ResponderEliminarUn petit bonjour amical chez toi Olinda.
❀ Bon dimanche !
BISOUS D'ASIE pour toi ❤ !!!!
Muito obrigada.
EliminarDesejo-te uma excelente semana, Nancy.
Bjs
Olinda
Tudo, para além da própria existência "em bruto", é ainda uma interpretação nossa.
ResponderEliminarBeijinhos, bom domingo! Por cá chove e chove...
Na mouche, Gata. Aquilo que eu vejo é a realidade ou o mundo de sombras que se projecta na parede da caverna?
EliminarBj
Olinda
Imortal, na sua Obra, Fernando Pessoa "deslizou" pela Vida, como observador consciente e sensível, tornando a sua Poesia em relatos para a Eternidade.
ResponderEliminarBela Postagem.
Beijos
SOL
Um Ser múltiplo. Um retrato das nossas fragilidades e, também, momentos de grandeza.
EliminarAbraço, Sol.
Olinda
Nem tudo pode ser explicado pela ciência e sequer pelos esforços de nossas mentes. Questionamentos povoam os pensamentos humanos desde o começo dos tempos. A morte é fim? Mas a crença na imortalidade vem da admissão de que, dentro desse corpo, não há uma "coisa", mas um espírito, que o comanda. E esse não desce às sepulturas, porque retorna à sua morada.
ResponderEliminarUm poema que reflete dúvidas existenciais com o costumeiro talento do grande poeta. Bjs.
Uma imagem bela e que nos conforta: o retorno da alma ou espírito ao seio do seu Criador.
EliminarBjs
Olinda
Sabes. Olinda revi-me inteiramente neste poema de Pessoa. Não sei mesmo responder a nenhuma destas questões, apesar de muitas vezes parar para pensar nelas. Vejo-me muitas vezes a perguntar a mim mesma: " na melhor das hipóteses, tenho mais uns vinte anos de vida; é muito pouco e passam depressa; mas, afinal nasci para quê ?. Se pensar muito chego à conclusão de que a minha passagem por aqui foi para contribuir para a continuação de espécie; ser mãe, formar os meus filhos da melhor maneira que soube, preocupando-me em fazer deles pessoas de bem; enquanto trabalhei contribui para a sociedade dando o meu melhor; agora, o que faço? O que fazem aqueles idosos que já nem sequer 10 anos têm pela frente? Às vezes vejo-me-me a pensar...estão à espera que a morte os leve, não sei se para outra vida, mas para a terra de certeza " Depois, Olinda afasto o pensamento e digo" agora estou viva e embora ache que já fiz tudo, de certeza que há ainda muito a fazes se não for mais nada, pelo menos por mim e pelo meu marido, passeando e tentando contribuir para a felicidade dos nossos queridos com a nossa boa disposição e ajuda se pudermos. É um assunto que deve ser pensado, reflectido, mas que perturba, pelo menos aquelas almas mais inquietas e que gostam de preservar o essencial
ResponderEliminarEu penso muito nisso, mas logo afasto o pensamento: Não vale a pena porque não saberemos a resposta Obrigada, Querida amiga pelo profundo momento que me fez lembrar de uma amiga de infância que foi a enterrar ontem; há tempos o marido tinha sofrido um AVC; recuperou. Uns anos mais tarde morre o único filho, já jovem adulto, de ataque cardíaco e agora, um ou dois anos depois morre ela; não sei ainda a causa da morte, mas de certeza que o muito sofrimento ajudou. Em criança era pobre, vivia com dificuldades, mas depois de casada a vida melhorou e vivia bem. Mas. o que veio ela fazer ao mundo? Sofrer? E agora o marido? Só...sem mulher ..e sem filho. Trabalhou para quê, este homem?E onde está ela agora? Quem é ela?Um espírito imortal,,,simplesmente um corpo que desaparecerá em cinzas? Não sei...ninguém sabe!!! Beijinhos, amiga.
Emília
Interrogações que vão pontuando a nossa passagem por esta estrada, cujo fim desconhecemos. No máximo, poderemos fazer conjecturas baseadas nas nossas crenças. Tenho duas irmãs. Elas encaram a vida de forma diferente, posicionando-se em pontos extremos. Uma delas acredita na vida para além da morte e a outra diz peremptoriamente:"Morre-se e acabou-se. E mais nada!" E eu gravito em torno de ideias, não descartando nada e sempre achando que haverá um meio termo no meio disto.Verifico neste momento, com espanto, que dos meus outros três irmãos nada sei em relação à transcendentalidade da vida. Terei de abordar o tema com eles.
EliminarRealmente, são questões que nos perturbam, como muito bem dizes, Emília.
Obrigada pela partilha.
Beijinhos
Olinda
Somos sempre a nossa própria unicidade...
ResponderEliminarBjo amigo
EliminarÚnicos e unos na nossa diversidade.
Abraço
Olinda
Este poema levanta questões para as quais não são conhecidas respostas definitivas.
ResponderEliminarFernando Pessoa, em poemas aparentemente simples. abordou assuntos bem complexos.
Bom resto de domingo e boa semana, querida amiga OLinda.
Beijo.
Tens razão, Nilson. Caeiro, pela pena de Pessoa, transporta-nos para uma dimensão acima do nosso quotidiano, obrigando-nos a um grande exercício mental não isento de emoções.
EliminarAbraço
Olinda
Difícil este 'Caeiro'...
ResponderEliminarApreciei as suas presenças e obrigado
Abraço
Um falso simples este Caeiro.
EliminarAbraço
Olinda
Inquietante está visão da vida que acaba, não acabando e se acabar , porquê este constante pesadelo? Pensamos, logo somos. O quê? Quem? E se formos, para onde ?
ResponderEliminarPrefiro pensar que agora estou aqui esperando o amanhã . E esse ... Se vier ! Mas queria também pensar que esta inquietude , tão presente e constante no Ser humano só tem explicação porque Aqui.. não será o seu lugar . Definitivamente ! Então peregrino em direção a Casa ...seja ela onde for !
Beijinho Olinda
EliminarÉ isso, peregrinos em direcção a Casa, levando connosco as experiências, os sonhos realizados ou não, relevando, se formos capazes, o lado menos bonito da vida. Se encontrarmos esta paz dentro de nós teremos dado mais um passo na nossa evolução.
Bjs
Olinda
Querido Caeiro e, de todos, o Mestre...
ResponderEliminarQuerida Olinda, que bela escolha e que forma eficaz de o pôr em perspectiva!
Beijo
Acho extraordinária esta ideia de Pessoa de criar um heterónimo com a responsabilidade de ser Mestre dos outros, inclusivamente dele próprio. Um "Guardador de Rebanhos" que nunca guardou de rebanhos mas é como se os guardasse:
Eliminar"Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar. (...)"
:)
Bjs
Olinda
~ Um dos poemas ""inconjuntos""...
ResponderEliminar~ De facto, dá a impressão de Caeiro estar preocupado com introspeção e conceitos metafísicos, característica que não faz parte da personalidade da pessoa que Pessoa criou.
~ ~ Analisando as questões, chegaremos todos a uma conclusão semelhante: um conjunto de factores genéticos e ambientais, definem uma identidade, irrepetível, mesmo por clonagem e que quando a "anima" deixa de existir, o ser humano perece.
~ ~ ~ Abraço amigo. ~ ~ ~
Uma energia que fenece. Haverá um lugar onde se acumularia para dar lugar a uma nova energia? Para os que acreditam na reencarnação ou tramitação das almas seria esse o fim ideal.
EliminarGrande abraço, Majo.
Olinda
OI OLINDA!
ResponderEliminarUM POEMA BELO E LEVANTANDO QUESTÕES, NAS QUAIS, MESMO QUE ENTREMOS TOTALMENTE NO CONTEXTO, CONTINUAREMOS SEM AS RESPOSTAS, POIS ELAS SE ENCONTRAM ONDE NOSSA VÃ INTELIGÊNCIA NÃO ALCANÇA OU QUEM SABE SE ENCONTRAM NA CIÊNCIA E, TAMBÉM NÃO ESTÃO BEM EXPLICADAS?
HÁ QUE VIVER E SÓ!
GENIAL AMIGA.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
E há muito por que viver. Hoje chove, dir-se-á que está mau tempo, Lisboa está em aviso laranja, e, tendo em conta as más notícias que nos chegam de todo o lado, o perigo espreita a cada esquina. Contudo, há por detrás das contingências desagradáveis. coisas belas. Algo de supremo governa o universo, e nós, pequenos pontos, encontramo-nos justamente no centro de tudo, fazendo parte de cada centelha de vida. E isso merece ser celebrado, sim.
EliminarBj
Olinda
Pessoa um corpo inteiro
ResponderEliminarrepartido
Um corpo que empresta a cada uma das partes ideias e personalidade suficientes para a construção de um mundo perfeitamente exequível. Ou talvez não.
ResponderEliminarAbraço
Olinda
Há quem rejeite o corpo, há quem renegue a alma :)
ResponderEliminarBeijinhos, Olinda!
Bom dia Olinda.
ResponderEliminarTambém ainda ando para descobrir "que coisa a mais ou a menos eu sou"... algumas dúvidas já estão sanadas, mas enquanto resolvo umas, tantas mais me assaltam, aos pulos, como que a querer confundir-me as ideias, já de si atrapalhadas...
Esse Caeiro ainda nos confunde mais que o próprio "pai", divagações, questões, loucura que nos assola até à morte. Quanto penam os que questionam.
bj