O que não daria eu pela memória
De uma rua de terra com baixos taipais
E de um alto ginete enchendo a alba
(Com o poncho grande e coçado)
Num dos dias da planície,
Num dia sem data.
O que não daria eu pela memória
Da minha mãe a olhar a manhã
Na fazenda de Santa Irene,
Sem saber que o seu nome ia ser Borges.
O que não daria eu pela memória
De ter lutado em Cepeda
E de ter visto Estanislao del Campo
Saudando a primeira bala
Com a alegria da coragem.
O que não daria eu pela memória
Dos barcos de Hengisto,
Zarpando do areal da Dinamarca
Para devastar uma ilha
Que ainda não era a Inglaterra.
O que não daria eu pela memória
(Tive-a e já a perdi)
De uma tela de ouro de Turner,
Tão vasta como a música.
O que não daria eu pela memória
De ter sido um ouvinte daquele Sócrates
Que, na tarde da cicuta,
Examinou serenamente o problema
Da imortalidade,
Alternando os mitos e as razões
Enquanto a morte azul ia subindo
Dos seus pés já tão frios.
O que não daria eu pela memória
De que tu me dissesses que me amavas
E de não ter dormido até à aurora,
Dissoluto e feliz.
Jorge Luís Borges
1899-1986
Argentino. Escritor, tradutor, crítico literário, ensaísta.
Um homem que reúne no seu âmago a memória do mundo, através de milhentas leituras e análises. Penso ver isso no conto A Biblioteca de Babel, uma metáfora em que
mundo e literatura se confundem, segundo algumas interpretações. Assim, ler um texto é tentar decifrá-lo, mas se
considerarmos que o próprio mundo está impregnado de linguagem, a própria
realidade pode ser considerada como uma grande biblioteca cheia de textos à
espera de quem os decifre.
Nas suas obras destacam-se temáticas como a filosofia, a metafísica, a mitologia, a teologia. Mas também aborda a cultura das pampas argentinas e lida com campanhas militares reais, como a guerra na argentina contra os índios, tratando-as como pano de fundo para produção na área da ficção.
Não é a primeira vez que nos envolvemos aqui na leitura deste autor. E não há-de ser a última. Descobrir a sua obra é como fazer uma viagem ao princípio de tudo. Aliás, é um exercício da lembrança possível num mundo ainda por acontecer.
Abraço.
Nas suas obras destacam-se temáticas como a filosofia, a metafísica, a mitologia, a teologia. Mas também aborda a cultura das pampas argentinas e lida com campanhas militares reais, como a guerra na argentina contra os índios, tratando-as como pano de fundo para produção na área da ficção.
Não é a primeira vez que nos envolvemos aqui na leitura deste autor. E não há-de ser a última. Descobrir a sua obra é como fazer uma viagem ao princípio de tudo. Aliás, é um exercício da lembrança possível num mundo ainda por acontecer.
Abraço.
Imagem-pampa argentina:daqui
Olá Olinda
ResponderEliminarÉ deleite vir aqui e ler os primorosos versos deste soberbo escritor
O que será de nós se for as memórias que guardamos com tanto carinho
Elas são os pilares de nossas vivências e sabedoria
Beijos minha amiga e um doce sorriso
É um belíssimo texto de um grande autor. Eu tenho um carinho especial por autores argentinos, por isso fico muito contente de ter tido o prazer de me deparar com este poema de Jorge Luis Borges aqui hoje.
ResponderEliminarBeijinhos e boa quarta-feira :)
Se eu tivesse memória
ResponderEliminarTantas coisas lembraria
E muitas outras,quem diria
Que juntas fazem história.
Um poema que não se percebe de uma só vez.
OI OLINDA!
ResponderEliminarUM BELO POEMA.
ABRÇS
-http://zilanicelia.blogspot.com.br/
O que não daríamos nós, sim...
ResponderEliminarJá li alguma coisa dele-
ResponderEliminarSerá que ainda subsiste a polémica sobre se seria mesmo Jorge Luís Borges aquele senhor cego que se apresentava publicamente como sendo o escritor?
Querida Olinda, grato abraço
Grande...enorme! Um dos meus autores preferidos!
ResponderEliminarBeijinho, querida Olinda.
Vagarosos instantes
ResponderEliminarBj
Não conheço quase nada deste autor. Este é um belo poema. Obrigada pela partilha.
ResponderEliminarUm abraço
Desconhecia por completo o autor, por isso fico satisfeita por ler o que deixas-te dele!
ResponderEliminarObrigada
Bjxxx
Belos versos. O que não daria pela memória, para reviver os melhores momentos que passaram! Belas palavras. Desconheço o autor, mas, já gostei.
ResponderEliminarQuerida: Adorei seus comentários em meus santinhos e quão ricas suas palavras como resposta. Fico muito contente que você gostou deles e terá mais, aos poucos irei acrescentando mais santos e santas.
Beijos e excelente final de semana.
Um escritor que merece aplausos. Seus versos abordam o não vivido e, por isso mesmo, ausente da memória. Os poemas que já li, de sua autoria, são voltados para o lado filosófico, com extrema sensibilidade. Parabéns pela escolha. Bjs.
ResponderEliminar~~~
ResponderEliminar~~ Gratíssima pela magnífica leitura...
~~ Espero, de bom grado, por mais...
~~~~~ Abraço amigo. ~~~~~~~~~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Grande autor...Não conhecia, mas vou pesquisar...
ResponderEliminarAbraço