Se de um lugar alto, muito para além da Terra, Camões pudesse presenciar o tempo que se lhe seguiu até àquele que hoje passa, talvez se alegrasse de ver que Portugal jamais seria o mesmo sem o seu poema, que a nossa História teria seguido um destino bem diferente se, naquele momento decisivo, não tivesse optado pelo simbolismo das palavras e se lançasse à amada.
Quinhentos anos depois, é de bom senso acreditar que tomou a decisão correcta, mas ele próprio, o Luís de Camões para além do poeta, o homem, esse que dor não infligiu a si mesmo?
Talvez a sabedoria comum se incline a pensar que não se trataria de um amor suficientemente grande, que Dinamene poderia não passar de uma amante como as outras de que os livros nem sempre registaram o nome, mas não é isso que a própria letra do poeta escreveu e deixou, em herança, à humanidade.
Ah! Minha Dinamene! Assim deixaste, Aquela Cativa que me Tem cativo, Alma Minha Gentil, que te Partiste e um Mover de Olhos Brando e Piedoso,
entre outros sonetos, demonstram a preponderância desta mulher na sua vida, antes e depois de morta.
O episódio que narramos nas primeiras páginas deste relato contém um paradoxo: trata-se do mais célebre da biografia camoniana e, ao mesmo tempo, permanece mergulhado em dúvidas, contradições e especulações, quase nada de preciso se sabendo acerca dele.
Camões havia sido chamado de Macau a Goa, a fim de ser julgado por acusações de apropriação de dinheiros alheios, feitas por compatriotas.
É, presumivelmente, na viagem de regresso que, na foz do rio Mecom, junto à margem do Camboja, uma tempestade leva o navio em que viaja a naufragar.
Dinamene acompanha-o na deslocação, o que, só por si, revela a sua importância junto do poeta; nessa altura, Camões tem já escrita, ao que se julga saber, grande parte do poema épico.
É deste acontecimento que retiramos a matriz nevrálgica da fotografia que guardámos para a memória colectiva do nosso autor maior: a de um homem infeliz, castigado pela vida, abandonado pelos deuses, sofredor e mártir em nome de um país inteiro; um homem que não se livra, no entanto, de um estigma de culpa, de imperfeição e de pecado.
Excerto: 10 histórias de amor em Portugal, de Alexandre Borges, pgs 35,36, 37.
Seria o amor de Camões por Dinamene tão grande
como o demonstram os seus sonetos?
O que se sabe realmente da mente humana?
Julgá-lo com a nossa mentalidade de agora é,
na verdade, anacrónico,
como em tudo o que a História nos narra.
Abraços
Olinda
Penúltimo excerto, a seguir...
NOTA:
Assinalou-se ontem, 25 de Maio, o Dia de África.
Em Julho dedicar-me-ei a este assunto.
Abraços
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.Título da história: Dinamene e Luís de Camões
.Subtítulo: O nome sepultado nas águas (usei-o como título dos posts)
.Comemoração, neste ano, dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões.
Me gusta el relato. Te mando un beso.
ResponderEliminarGrata pela leitura.
EliminarOutro beijo.
Bom domingo de paz, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarSua homenagem tem grande valor.
Fico feliz em ver uma compatriota que, realmente, valoriza o grande poeta.
"Talvez a sabedoria comum se incline a pensar que não se trataria de um amor suficientemente grande, que Dinamene poderia não passar de uma amante como as outras..."
Tentamos a criticar os amores alheios... somos assim.
O que se passa no coração do outro, nunca saberemos.
Quer mais Amor do que aquele que prende e se deixa prender?...
"Aquela Cativa que me Tem cativo"
Camões: "homem infeliz, castigado pela vida, abandonado pelos deuses, sofredor e mártir em nome de um país inteiro; um homem que não se livra, no entanto, de um estigma de culpa, de imperfeição e de pecado."
Enfim, um pouco da definição de um GRANDE E VALOROSO homem.
Minha Amiga, grande estudiosa do que vale a pena, tenha uma nova semana abençoada @
Beijinhos com carinho fraterno
Querida Rosélia
EliminarRealmente, nunca se sabe o que vai no coração do outro.
Que voltas e mais voltas acontecem antes de se tomar uma
decisão. E num momento de grande perturbação, ainda com
mais razão, se torna difícil raciocinar com clareza...
Beijinhos
Quando não se tinha amores para deixar na escrita, inventavam-se...por isso não sei ver o que é real e imaginário, mas é lindo na mesma. Bom domingo!
ResponderEliminarConcordo consigo, CCF.
EliminarA imaginação é poderosa.
E a inspiração vem a seguir.
Bom domingo.
Querida amiga Olinda, hoje, que quase me sinto novamente eu, fiquei maravilhada com as tuas recentes publicações. PROMETO voltar para ler com calma, e como se nada soubesse sobre o final, esta extraordinária história de amor.
ResponderEliminarBeijo. Lindo domingo.
Olá, querida Teresa
EliminarNestes 500 anos do nascimento de Camões, lembrei-me de publicar
a sua história de amor com Dinamene, nas palavras de Alexandre Borges. É muita leitura, reconheço :)
Vou de férias daqui a 3 dias, mas o Xaile continuará aqui de pé firme.
Beijinhos
Olinda
Questões verdadeiramente pertinentes!
ResponderEliminarBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Muito obrigada pela sua leitura, Teresa Silva.
EliminarBeijos
Como sempre, estou a acompanhar.
ResponderEliminarUm abraço.
A sua presença é sempre apreciada.
EliminarUm abraço.
Acompanhando. É triste perceber o quanto foi sofrida a sua passagem apesar de ter tido muitos amores e te deixado seu legado. Bjsss
ResponderEliminarCamões teve uma vida infeliz, tendo passado por muitas
Eliminardificuldades. O seu legado à pátria portuguesa é realmente
muito importante.
Beijinhos
A distância temporal dá sempre lugar a deturpações e incorreções que dificilmente se podem contornar.
ResponderEliminarFica para a história o seu inquestionável talento artístico.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes
Diz bem, amigo Juvenal. E ainda mais quando da época não vêm
Eliminarinformações cabais sobre o assunto de que se trata. Por exemplo,
pouco se sabe, efectivamente, sobre a sua vida. Terá nascido em
Lisboa? Terá morrido em 1579 ou 1580? E em relação a outros
factos?
Abraço
Olá, amiga Olinda,
ResponderEliminarPodemos sempre especular sobre amor que Camões sentia pela Dinamene era real ou não. Não podemos ter essa certeza. Todavia, há de facto essa referência nos versos de Camões, como foi referenciado num comentário e é factual. Agora, se é real ou imaginário, só Camões o sabia.
Vamos continuar a seguir o restante desta história fascinante.
Deixo os meus votos de uma ótima semana, que se avizinha.
Beijinhos.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com
Tem razão, caro Mário. Tudo envolto numa nebulosa. Sobre o que não se sabe de certeza, especula-se. Mas nos seus sonetos existe essa sua amada... realmente.
EliminarÉ uma história fascinante como bem diz.
Abraço
Olinda
Amiga Olinda,
ResponderEliminar“Luiz de Camões” foi brilhante, porque “Os Lusíadas”, por exemplo, é um poema épico do gênero narrativo, que se divide em dez canções. É composto por oito mil oitocentos e dezesseis versos decassílabos, a maioria deles em estilo heroico. São versos em sílabas tônicas rimadas e mil cento e duas estrofes de versos de oitava. As rimas utilizadas são cruzadas e emparelhadas. Quem escreve assim ama, sofre e se realiza e encanta quem lê.
Um abraço e boa semana!!!
Olá, caro Douglas
EliminarSim, o brilhantismo de Luiz de Camões é inegável, seja no seu poema épico seja na parte lírica. Um verdadeiro homem do Renascimento que se imbuiu da cultura clássica e deu mostras disso compondo a sua obra baseando-se em Homero e Virgílio.
Grata pelo seu belo comentário.
Abraço.