quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Fado Português




O Fado nasceu um dia, 
quando o vento mal bulia 

e o céu o mar prolongava, 
na amurada dum veleiro, 
no peito dum marinheiro 
que, estando triste, cantava, 
que, estando triste, cantava. 

Ai, que lindeza tamanha, 
meu chão , meu monte, meu vale, 
de folhas, flores, frutas de oiro, 
vê se vês terras de Espanha, 
areias de Portugal, 
olhar ceguinho de choro. 

Na boca dum marinheiro 
do frágil barco veleiro, 
morrendo a canção magoada, 
diz o pungir dos desejos 
do lábio a queimar de beijos 
que beija o ar, e mais nada, 
que beija o ar, e mais nada. 

Mãe, adeus. Adeus, Maria. 
Guarda bem no teu sentido 
que aqui te faço uma jura: 
que ou te levo à sacristia, 
ou foi Deus que foi servido 
dar-me no mar sepultura. 

Ora eis que embora outro dia, 
quando o vento nem bulia 
e o céu o mar prolongava, 
à proa de outro veleiro 
velava outro marinheiro 
que, estando triste, cantava, 
que, estando triste, cantava. 

in 'Poemas de Deus e do Diabo' 

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Poema: Citador

4 comentários:

  1. Um post maravilhoso, adorei ouvir a Amália e ler o esse tão lindo poema de Jóse Régio.
    Beijinhos
    Maria de
    Divagar Sobre Tudo um Pouco

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  2. belo encontro, de Amália e José Régio!
    gostei de ouvir aqui.

    um abraço, amiga Olinda

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  3. Um excelente poema, para comemorar o dia da Língua Moderna.
    Abraço

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  4. Embarcamos com este "marinheiro que estando triste cantava" e estremecemos na divina voz de Amália.

    Boa escolha!
    Beijinho.

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