Hoje trago um poema de Filinto Elísio, pseudónimo de Francisco Manuel do Nascimento, escritor, tradutor, também sacerdote, com raízes culturais fundadas no arcadismo e iluminismo. Denunciado à Inquisição devido às suas ideias enciclopedistas e liberais, foge de Portugal refugiando-se em França, em 1778.
Sigamos Filinto Elísio nestas suas reflexões, nas quais ele evidencia uma posição dura e de muito pessimismo em relação à sociedade. Parecem-nos familiares estas suas aduções? Ao fim e ao cabo, o mundo é uma bola que rebola, já dizia alguém:
Usos deste mundo
Nas praças uns perguntam novidades;
Outros dão volta às ruas, ao namoro;
Este usuras cobrar, esse as demandas
Lembrar corre ao Juiz que se diverte.
Ir de Jano aprender a ser bifronte,
De Mercúrio, no trato, a ser bilingue,
Franco no prometer, no dar escasso.
C'os olhos fitos no ávido interesse
Ser consigo leal, com todos falso
É ser homem capaz, home' entendido.
Assim, que vemos nós por este esconso
Mundo? Vemos logrões, vemos logrados;
Ninguém vês ir com cândido desejo
Aos Sénecas, aos Sócrates de agora
Perguntar as lições tão necessárias
De ser honrado, ser com todos justo.
Tão sobejos se crêem de honra e virtude,
Que cuida cada um poder de sobra
Mostrar na Ocasião virtude a rodo,
E chega a Ocasião, falha a virtude.
in "Miscelânia"
Péricles na ágora ateniense (Sec.V a.C),
ao fundo, A Acrópole de Atenas
ao fundo, A Acrópole de Atenas
Já que o próprio Filinto Elísio se refere no seu poema a figuras da antiguidade clássica, recupero dali a palavra praça, traçando eu um paralelismo, um tanto exagerado, com a ágora, lugar de destaque na constituição da polis, onde se faziam comunicações, se transmitiam ensinamentos, se discutia política, e até funcionavam mercados e feiras livres. Espaço de cidadania, uma expressão muito usada presentemente.
Ágora ateniense - imagem arqueológica
Entre nós, isto é, na actualidade, a praça pública já
tem outros contornos, com laivos do diz-que-diz, do fait-divers, de notícias digeridas, analisadas e comentadas por pretensos especialistas.
De referir que a sociedade naquela altura também não era isenta de intrigas, acusações, condenações, muitas vezes, com efeitos nefastos para certas personalidades.
Diz que Diz - Sara Tavares
Ouçamos Sara Tavares, no seu Diz que diz: Linda Voz!
A imagem acima será uma idealização da figura de Péricles e dos cidadãos que se reuniam na ágora.
Imagens retiradas da Internet.Os meus agradecimentos a quem as publicou.
Biografia de Filinto Elísio
Imagens retiradas da Internet.Os meus agradecimentos a quem as publicou.
Biografia de Filinto Elísio
Lendo Filinto e passando para a actualidade...quais as diferenças?!:)!
ResponderEliminarBom fim de semana
Abraço
Sim, é verdade, Álvaro, nem com uma lupa...
EliminarAbraço
Olinda
Já não lia o Filinto Elísio há anos...
ResponderEliminarFizeste um magnífico post.
Olinda, querida amiga, tem um bom fim de semana.
Beijo.
Olá, Nilson
EliminarÉ sempre bom voltarmos aos nossos 'clássicos', não é?
Obrigada.
Abraço
Olinda
Os anos se sucedem, mas a sociedade permanece igual. Os homens, em todos os tempos, se dividiram, para abraçar o poder. E na balança, tenho a sensação de que não houve progresso. Excelente sua postagem. Bjs.
ResponderEliminarCara Marilene
EliminarE é uma pena, pois deveria ser normal que se verificasse uma evolução efectiva na nossa maneira de ser e de proceder.
Obrigada
Bjs
Olinda
Querida Olinda,a praça pública actual é o facebook(onde o vazio de certas postagens impressiona).
ResponderEliminarUm abraço com muito carinho.
Querida São
EliminarE aí é uma 'praça pública' a nível global...
É a evolução dos tempos mas no seu aspecto menos positivo.
Bjs
Olinda