quarta-feira, 4 de julho de 2012

Costura

Este é mais um poema que aqui transcrevo, com a etiqueta Mundo, uma pequena série que iniciei com o poema do post anterior, de Sophia de Mello Breyner Andresen. O seu autor chama-se RUI CASCAIS e retirei-o de uma obra sua intitulada a carne do rosto, título já de si um pouco inquietante. Realmente, segundo me parece, este poeta não escreve com o intuito de apresentar uma visão mitigada do mundo, nem para apontar soluções. Contudo,  vislumbro uma pequena sugestão, talvez no sentido de que caberá a nós próprios virar o mundo do avesso e fazer uma revisitação aos seus fundamentos
Não lhe encontrei elementos biográficos neste mundo virtual, talvez por incapacidade minha na pesquisa. Apenas referências à sua função de tradutor, vertendo para o inglês e/ou chinês obras de alguns autores portugueses como, por exemplo, Eugénio de Andrade. 

Costuremos, pois: 


Costura

não ocupa
espaço.

não se trata apenas de um cenário.
uma seda desce o corpo.

não se trata
de um bastidor.

talvez uma luva.uma preensão que o mundo
pode finalmente inverter sobre nós,

como se finalmente descobríssemos
a sua vontade, visitando o avesso.





Incluo neste post o comentário, de Mariavaicomasoutras, que me parece muito interessante e que nos leva, quiçá, a explorar outros caminhos:

Mariavaicomasoutras

A dimensão do verso no reverso de uma coisa.
Assim são todas as coisas
Num espaço que não o é sendo-o.
Por isso a resposta
quase sempre se encontra
no virar
no revirar
de uma página!

_________________________

Mote
Poema de:
Rui Cascais

in: a carne do rostoed. Instituto Camões
Macau. 1999

Imagem retirada da internet, com a devida vénia ao blog: osilencioentreaspalavras.blogspot.com

16 comentários:

  1. Lindo poema de Rui Cascais...

    Bjos querida amiga

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    1. E envia-nos quase para uma adivinhação, dando-nos apenas pistas. Talvez esperando que sejamos nós a encontrar as respostas...

      Bjs

      Olinda

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  2. É bastante instigante, o poeta Rui Cascais.
    Ele, como que, joga as palavras, aleatoriamente,
    em peças soltas, questionando, numa forma de "quebra-cabeça", levando a gente à reconstrução do todo...
    Dá o que pensar, e Isso, é muito bom!

    Vou procurar vir mais amiúde, amiga. Tenho me ausentado muito, desse aconchegante e macio Xaile de Seda, minha querida Isabel.
    Li as duas postagens anteriores, mas não comentei. Perdoe-me, a falta de tempo.

    Beijinhos,
    da Lúcia

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    1. Querida Lúcia

      Diz bem, um poema instigante, em que o autor nos convida a juntar os retalhos, pedaços de vida talvez, e costurarmos a nossa manta, da melhor forma possível. E sem esquecermos o avesso que nos poderá lembrar o que está escondido em nós... Isto daria 'pano para manga', não é?

      Minha amiga, venha visitar-me só quando puder e não causar transtorno. Sei que o tempo às vezes nos falta, não dá para tudo.

      :)

      Beijinhos

      Olinda

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  3. Intrigante!
    Beijinhos,
    Madalena

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    1. Olá, M.

      Concordo consigo. Só procurando nas (entre)linhas com que se cosem... Uma costura que requer devoção e amor à arte. :)

      Bj

      Olinda

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  4. Poesia a sugerir a ligação indistinta entre ambos os lados da Vida.Sugestivo.

    Parabéns pela escolha.

    Beijos

    SOL

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    1. Olá Sol da Esteva

      É isso, os dois lados da Vida.Na assumpção destas duas facetas talvez consigamos ser pessoas mais completas.

      Obrigada, Sol.

      bj

      olinda

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  5. A dimensão do verso no reverso de uma coisa.
    Assim são todas as coisas
    Num espaço que não o é sendo-o.
    Por isso a resposta
    quase sempre se encontra
    no virar
    no revirar
    de uma página!

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    1. Ola Mariavaicomasoutras

      Excelente. Remete-nos para um espaço filosófico muito interessante, quando diz 'Num espaço que não o é sendo-o'. Um vácuo que não é preenchido por qualquer matéria mas que fica ao nível do pensamento ou da 'anima'.

      Se me permite, cara Mariavaicomasoutras, vou incluir este seu raciocínio no post. :)

      Muito obrigada.

      Bj

      Olinda

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  6. Minha querida

    Um poema cheio de entrelinhas pelo lado avesso da vida.
    Não conhecia este poeta.

    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

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    1. Querida Sonhadora

      Também não o conhecia até há pouco tempo, altura em que me foi oferecido o livro de poemas seus 'a carne do rosto', donde retirei o poema constante deste post.

      Por falar no 'avesso da vida' lembro-me agora que há algumas costuras, algumas peças de vestuário, que não têm avesso, tanto se pode usá-las dum lado como do outro... Mas olhando bem há sempre algumas diferenças. Talvez ao vestirmos a roupagem da vida devêssemos atentar em diferenças que nos parecem mínimas mas que poderão fazer toda a 'diferença'... ( isto com redundâncias e tudo). :)

      Beijos

      Olinda

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  7. Boa noite querida vim retribuir
    tua visita e me deparei com essa
    costura onde nossas linhas se emaranham.
    e no verso dessa costura percebemos o
    verdadeiro lado da vida...Adorei!
    O jardim magico é do William Oliveira
    http://versosdefogo.blogspot.com

    Visite-o sei que vai gostar...bjinhos

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    1. Olá, Simone

      Sim, poderá ser...no verso 'o lado verdadeiro da vida'. Não me tinha ocorrido.

      Obrigada pela indicação do blogue William Oliveira. Irei lá fazer-lhe uma visita.

      Bjs

      Olinda

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  8. Talvez que conhecendo o nosso lado do avesso , consigamos melhorar o nosso lado exterior. Excelente escolha.
    Bom fim de semana
    Beijinhos
    Maria

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    1. Querida Maria

      Eis uma outra possibilidade de interpretação que faz todo o sentido.

      Obrigada, amiga.

      Bjs

      Olinda

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