sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Vieira da Silva e Arpad Szenes - uma história de amor





Ele nascido na Hungria, descobre muito cedo a sua aptidão para o desenho. Estabelece-se em Paris depois de ter percorrido todas as capitais artísticas europeias. Ela nascida em Portugal, desde criança interessada pela magia das artes. Viajaria para Paris para estudar escultura e pintura.

Maria Helena saía todas as tardes, em longos passeios pela cidade, em busca dos pintores antigos, dos modernos, pelas galerias  e pelos museus, de Cézanne e de novas formas de configurar o mundo. Descobre que só naquele conjunto de luz e sombras encontraria a inspiração que procurava.




Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva encontram-se na bela Paris em 1928, quando ainda procuravam desvendar as linhas da pintura e da escultura da Academia Ranson. Ele em guaches e têmperas, exploração de ambientes e sensações de luz. Ela, urbana, explorando a profundidade do espaço e a angústia da guerra.

Casam-se em 1929. Arpad abdicaria das suas próprias ambições para se dedicar a Helena, à mulher vulnerável e melancólica, a precisar de apoio e de certezas para a confiança no seu génio, como ele chegaria a dizer. Ela retribuiria pintando retratos que encheriam as paredes de casa. Leva-a a viajar, para espaços inspiradores aos seus olhos de artista, revela-lhe os mistérios da Hungria e Pensilvânia. Ela, recordando Sintra na assimetria das suas duas colinas.

Em Paris trabalhavam, incansáveis e apaixonados, deixando que o espírito lhes guiasse as mãos e os pincéis. Em 1933 acontece a primeira exposição de pintura de Vieira da Silva. A vida continua a mesma, com os dois a abraçar-se e a pintar-se no silêncio da sua casa feita atelier, e a frequentar as reuniões no Café Raspail, do pequeno mundo intelectual "Amis du Monde".




O eclodir da guerra, 1939, veio alterar as suas vidas. Arpad era judeu húngaro e apátrida. Aceita de Maria Helena a ideia de um refúgio em Lisboa. Maria Helena tenta recuperar a nacionalidade portuguesa, perdida aquando do seu casamento. Chantageada pelo regime, só lha dariam se se divorciasse de Arpad tido como um perigoso comunista.

Les deux amoureux, artistas pintores sem nacionalidade, partem para o Brasil, onde estiveram exilados durante sete anos. Solidão, sentimento de orfandade e condições precárias. Arpad cedo apercebe-se de que não conseguiriam sobreviver somente com a venda dos quadros. E ele começa a aceitar pintura de retratos e a dar aulas. Ela dedica-se à pintura decorativa de objectos.

Em 1947, dois anos depois do fim da guerra regressam a Paris onde vivem até ao fim da vida: assim, o trabalho, os passeios, a luz, a calma, a casa, o atelier, as mãos e a tela, o ritmo dos respirares nem mais lento nem acelerado.

As obras de ambos começaram a ser exibidas regularmente nas prestigiosas galerias de Jeanne Bucher e Pierre Loeb. Até 1990, a consagração internacional se afirmou. Já não se preocupavam com as coisas do dia-a-dia - viviam apenas um para o outro e para a sua pintura, privando com um pequeno grupo de pintores, escritores e poetas.




Arpad tornar-se-ia um dos melhores representantes da Escola de Paris dos anos 40. A importância de Vieira da Silva no panorama da arte internacional seria reconhecida unanimemente.

Mas Arpad e Vieira da Silva permaneceriam, na mudez segredada por detrás dos seus quadros, uma história de amor irredutível a galardões e comentários críticos. Viveram lado a lado durante cinquenta e cinco anos.






Meus amigos:

Hoje, Dia dos Namorados, trago a história de amor de Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes. Sempre quis falar de Vieira da Silva aqui no Xaile. O texto que produzi, a partir do livro abaixo indicado, é apenas um pequeníssimo resumo sobre estes dois artistas. Muito há ainda a dizer sobre a sua vida, o seu desempenho na arte da pintura e inúmeras peripécias por que passaram. Mas com o Amor, sentimento sublime, a acompanhá-los.

Excelente dia de São Valentim vos desejo.



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Texto a partir de "10 histórias de amor em Portugal", de Alexandre Borges
Pags. 76 a 88
Ver: Fundação Arpad-Szenes-Vieira da Silva
Imagem 1 - daqui
Imagem 2 - pintura de Arpad Szenes
Imagem 3 - pintura de Vieira da Silva

Quinzena do amor

6 comentários:

  1. É muito belo recordar aqui a maravilhosa história de amor de Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva. Almas gémeas através do tanto que se queriam e do tanto que passaram juntos…
    Dois pintores magníficos que um ao outro se completavam.
    Um dia excelente, minha Amiga Olinda.

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  2. Sempre achei a história de amor deste casal especial
    e comovente, lamentando não terem sido pais.
    Depois de uma vida atribulada, viram o seu trabalho
    reconhecido, abundaram as homenagens e isso deve os
    ter recompensado e sido excelente.

    A recuperação da antiga fábrica da seda nas Amoreiras,
    para instalação da fundação que leva o nome do casal,
    foi uma ideia excelente.

    Encerrou com chave de ouro, Olinda.
    Parabéns pala iniciativa, porque o amor é a essência,
    como eu cantei num soneto que publicarei amanhã.

    O meu terno abraço.
    Beijinho
    ~~~~~

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  3. Boa tarde de muito Amor, querida amiga Olinda!
    Já havia lido na manhã e até começado a comentar, mas tive que sair.
    O texto é belo e uma história muito pé no chão que os dois, pelo Amor que ambos sentiam, superaram os obstáculos.
    Isso é muito lindo!
    Nem tudo é um mar de rosas e a paciência e a compreensão facilita o entendimento das causas, gera cumplicidade e a união faz a força.

    "... Viviam um para o outro e para a sua pintura, privando com um pequeno grupo de pintores, escritores e poetas."

    Uma opção de vida bem discernida, muito bom poder se dar a esse 'luxo amoroso'...
    A pintura é uma arte terapêutica maravilhosa, amiga. Acende a luz interior e já me dediquei a ela durante dois anos em tela acrílica. Muito boa cura para a melancolia.
    A cada dia uma menção bonita ao Amor você expõe aqui.
    Parabenizo-o por tal iniciativa tão feliz.
    Ouvi bem o vídeo na manhãzinha e me alegrou muito. Gosto muito e foi de muito bom gosto sua escolha, amiga.
    Tenha dias felizes e amorosos!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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  4. Excelente, amiga Olinda!
    Gostei de saber mais sobre a vida de Maria Helena vieira da Silva.
    Anotei o livro. Deve ser delicioso!
    Feliz dia do Namorados, minha amiga!
    Beijo.

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  5. Muito bom. Conhecia mais ou menos a sua história. De um modo oficial, estudá-mo-la Na Universidade Sénior e fizemos uma visita guiada ao museu.
    Um abraço e bom fim de semana

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