Toma os meus braços para abraçares o Mundo,
dá-me os teus braços para que abrace a Vida.
E assim se cumpre a Poesia!
Não te escondas nas grutas de meu ser,
não fujas à Vida.
Quebra as grades invisíveis da minha prisão,
abre de par em par as portas do meu ser
— sai…
Sai para a luta (a vida é luta)
os homens lá fora chamam por ti,
e tu, Poesia és também um Homem.
Ama as Poesias de todo o Mundo,
— ama os Homens
Solta teus poemas para todas as raças,
para todas as coisas.
Confunde-te comigo…
Vai, Poesia:
Toma os meus braços para abraçares o Mundo,
dá-me os teus braços para que abrace a Vida.
A minha Poesia sou eu.
in “Seara Nova”. 1946.
Amílcar Lopes Cabral (1924-1973) foi um político, agrónomo e teórico marxista da Guiné-Bissau e de Cabo Verde.
Amílcar Cabral, o homem que almejava o diálogo:
"Nós, em princípio, o nosso problema não é o de nos desligarmos do povo português. Se porventura em Portugal houvesse um regime que estivesse disposto a construir não só o futuro e o bem-estar do povo de Portugal mas também o nosso, mas em pé de absoluta igualdade, quer dizer que o Presidente da República pudesse ser de Cabo Verde, da Guiné, como de Portugal, etc., que todas as funções estatais, administrativas, etc. fossem igualmente possíveis para toda a gente, nós não veríamos nenhuma necessidade de estar a fazer a luta pela independência, porque todos já seriam independentes, num quadro humano muito mais largo e talvez muito mais eficaz do ponto de vista da História. aqui
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"Nós, em princípio, o nosso problema não é o de nos desligarmos do povo português. Se porventura em Portugal houvesse um regime que estivesse disposto a construir não só o futuro e o bem-estar do povo de Portugal mas também o nosso, mas em pé de absoluta igualdade, quer dizer que o Presidente da República pudesse ser de Cabo Verde, da Guiné, como de Portugal, etc., que todas as funções estatais, administrativas, etc. fossem igualmente possíveis para toda a gente, nós não veríamos nenhuma necessidade de estar a fazer a luta pela independência, porque todos já seriam independentes, num quadro humano muito mais largo e talvez muito mais eficaz do ponto de vista da História. aqui
Bela poesia e compartilhamento,Olinda! beijos, lindo dia! chica
ResponderEliminarObrigada, Chica, pela sua presença aqui
Eliminarnesta quinzena do amor.
Bj
Olinda
Correu tudo muito mal... Não sei se teria bastado, há um sabor chamado independência... ainda assim, acredito que teria tido um efeito mais justo não podendo existir portugueses de primeira e de segunda...
ResponderEliminarQuanto ao poema, mais uma bela escolha, um poema de liberdade e amor e do papel da poesia.
Beijinho e boa semana
Olá, Sam
EliminarSim, há esse sabor chamado independência. E agora, se esses povos cometerem erros serão os seus próprios erros.
Quanto a portugueses de primeira e de segunda havia sim essa ideia,
reiterada, sobre os que nascessem na metrópole ou nas colónias. Além disso, havia outra espécie de portugueses constante de uma legislação de que a administração colonial lançava mão ou então que esse mesmo corpo de leis viria legalizar: O Acto colonial que definia a extensão do território uno e indivisível, o estatuto do indigenato que dividia os povos de Angola, Moçambique e Guiné em indígenas e assimilados. Todo um mundo de diferenças e diferenciações.
Um belo poema, sem dúvida, este de Amílcar Cabral. Um dos seus mais belos poemas.
Abraço.
Olinda
Quando escrevo ou fotografo quer dividir o meu instinto com qualquer raça.
ResponderEliminarCom qualquer vivente.
Sem distinções.
Gostava que tratassem O " Mundo " todo de igual forma.
Beijinhos de igualdade.
Megy Maia
Boa tarde, Megy
EliminarSentimentos que lhe ficam muito bem.
Penso que vão na linha do tema publicado,
o que muito aprecio.
Bj
Olinda
Minha querida Olinda
ResponderEliminarDesconhecia completamente que Amílcar Cabral escrevesse poesia...
Surpreendeu-me, pela positiva, pois este poema é deveras bonito. Gostei muito.
Claro que os "ideais" do político eram maravilhosos, e, acredita, comungados por muito mais pessoas do que podemos imaginar...
Mas... não passava de uma utopia. Por um lado, os interesses políticos não chegariam a acordo, por outro... a palavra Independência tem muita força e um enorme fascínio.
É minha convicção que teria sido muito melhor essa solução - para ambos as partes - mas "outros poderes mais altos se levantaram"...
RE: Cá por casa vai-se vivendo, felizmente não há problemas de maior no que respeita a saúde, o que já é muito bom.
Espero que contigo e tua família se passe o mesmo, e os dias te decorram em paz e tranquilidade.
Feliz Terça-feira e uma boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Querida Mariazinha
EliminarHá esse lado de Amílcar Cabral um pouco desconhecido. A sua Poesia é deveras envolvente e traz esse pendor utópico de que falas. Mas não só. As suas explanações teóricas também trazem essa vontade de resolver tudo através do diálogo e de abraçar o Mundo. O que espanta em Cabral é que ele não fica sentado a uma secretária a escrever. Homem de acção, procura pôr em prática aquilo em que acredita. E para ele a cultura é uma arma. Quanto mais informados, ele e os seus pares, mais eficazes seriam as suas reivindicações e luta.
E acho interessante teres referido a utopia, que, ontem, falando com amigos foi abordado. E, não há dúvida, a utopia faz com que o mundo avance. Pobres de nós quando deixarmos de olhar para o infinito.
Beijinhos
Olinda
Querida Olinda, já sabia que Amilcar Cabral era poeta, mas adorei ler a sua biografia e os seus pensamentos no " teu aqui ", principalmente quando ele diz que não confunde colonialismo português com povo português. Tem toda a razão! O povo português nunca quis aquela guerra e por isso, quando se deu o golpe de estado, os nossos soldados e os da Guiné ( meu irmão e meu marido estavam lá ) se juntaram para festejar.
ResponderEliminarEste poema é lindissimo e, como a Mariazita, também digo: " surpreendeu-me pela positiva " Obrigada, Olinda, por me teres permitido conhecer melhor este senhor; gostei muito do que li sobre ele. Beijinhos e tudo de bom!
Emilia
Minha amiga Emília
EliminarAmílcar Cabral, poeta, teórico, homem de acção, que sabia visualizar de uma forma exemplar que o colonialismo e o fascismo faziam com que os povos de África e de Portugal estivessem irmanados na mesma vontade de alcançar a liberdade. Com as devidas diferenças, entenda-se.
Trouxe em tempos um poema de Amílcar Cabral, intitulado "Ilha", esse referindo-se a Cabo Verde. Como sabes, Cabral lutava pela Guiné e Cabo Verde. E eram realidades que ele conhecia a fundo.
Beijinhos
Olinda
Olá, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarMais um belíssimo poema! Com uma música da mesma forma.
"Toma os meus braços para abraçares o Mundo,
dá-me os teus braços para que abrace a Vida."
Lindos versos que gostei muito de ler na tarde por aqui.
Seja feliz e abençoada!
Bjm carinhoso e fraterno
Olá, Querida Rosélia
EliminarTemos neste belo poema o Poeta quase que personalizando a Poesia, instigando-a a percorrer o Mundo e levar a sua mensagem de amor e paz. Paz desejada e dialogada.
Tudo de bom para si e os seus, minha amiga.
Beijinhos
Olinda
poema de resistência e luta
ResponderEliminare um certo "romantismo" como era timbre
dos homens daquele tempo.
um poema de Amílcar Cabral, muito belo.
que merece ser republicado.
grato
abraço
Olá, Manuel Veiga
EliminarAmílcar Cabral faz parte de uma plêiade que
soube honrar o seu tempo.
Muito obrigada pelo comentário.
Abraço
Olinda